Detido suspeito do desaparecimento de jornalista e especialista indígena na Amazónia

9 jun 2022, 09:19
Bruno Araújo Pereira e Dom Philips

Trata-se de um homem, de 41 anos, que tem vários antecedentes criminais por ameaças a indígenas

A Polícia Militar do Amazonas deteve, na quarta-feira, um suspeito de envolvimento no desaparecimento do jornalista britânico Dom Philips e do especialista em cultura indígena Bruno Araújo Pereira, numa área remota da Amazónia, depois de terem sido alvo de ameaças. A notícia está a ser avançada em exclusivo pelo jornal O Globo

Trata-se de um homem, de 41 anos, identificado como Amarildo da Costa de Oliveira, que tem vários antecedentes criminais por ameaças a indígenas. De acordo com o jornal, houve muita pressão para que o suspeito fosse libertado, uma vez que não existem provas. No entanto, há a suspeita de outros crimes que lhe são imputados e, por isso, permanece detido.

Amarildo da Costa de Oliveira foi preso em flagrante delito, em Atalaia do Norte, por fazer sucessivas ameaças às lideranças à União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), bem como às equipas que se encontravam no local a realizar buscas. 

Numa conferência de imprensa, as várias autoridades envolvidas - Polícia Militar, Polícia Federal, Polícia Civil, entre outras - afirmaram que não descartam qualquer cenário, do desaparecimento ao homicídio. 

O caso

Dom Philips, jornalista que colaborava para o "The Guardian", "Washington Post", "New York Times" e "Financial Times", e Bruno Araújo Pereira, funcionário da Fundação Nacional do Índio (Funai), estavam em Vale do Javari e desapareceram no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte. Uma viagem de cerca de duas horas. O objetivo, segundo a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), era entrevistar indígenas numa localidade chamada Lago do Jaburu. 

Os dois estavam a viajar numa embarcação nova, com 70 litros de gasolina, que era suficiente para a travessia que tinham de fazer. Mas nenhum dos dois chegou ao destino final. A última vez que foram avistados foi na Comunidade São Gabriel, abaixo de São Rafael. 

O Vale do Javari é uma extensa região de rios e selva no coração da Amazónia, na fronteira com o Peru, e abriga o maior número de indígenas isolados do mundo. A área está ameaçada pela pesca e mineração ilegal e nos últimos anos tornou-se uma rota de tráfico de drogas.

As ameaças

A Univaja referiu, em comunicado, que Dom Philips e Bruno Araújo Pereira foram alvo de várias ameaças no terreno. "Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, a equipa recebeu ameaças em campo. A ameaça não foi a primeira: outras já vinham a ser feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja, além de outros relatos já oficializados à Policia Federal, ao Ministério Público Federal em Tabatinga, ao Conselho Nacional de Direitos Humanos e ao Indigenous Peoples Rights International", afirmou a associação.

A polícia do Amazonas garantiu, em comunicado, que estão a ser "tomadas todas as medidas cabíveis para auxiliar na elucidação do caso, em colaboração com o Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal (PF) e Funai". 

As buscas, que estão sob a coordenação do Ministério da Justiça e Segurança Pública, envolvem elementos do Exército, Marinha, Polícia Civil e bombeiros. O número de militares envolvidos não foi divulgado.

Bolsonaro não descarta execução 

presidente do Brasil desejou que estes dois homens sejam encontrados, não descartando, no entanto, que possam ter sido executados. Em entrevista ao canal de televisão SBT, Jair Bolsonaro falou em possível imprudência.

"Realmente, duas pessoas num barco, numa região tão selvagem, não é recomendado", disse, acrescentando ainda que naquela área "tudo pode acontecer".

"Pode ter sido um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. (...) Esperamos e rogamos a Deus que sejam encontrados em breve".

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