Se eu mandasse... considerava a cultura como um bem essencial

20 jan 2022, 10:00
Rodrigo Costa Félix

Numa rubrica da CNN Portugal, que será publicada ao longo dos 15 dias que antecedem as legislativas, várias personalidades explicam o que fariam se fossem eleitas para governar

Rodrigo Costa Félix, fadista

Um dos grandes males da nossa sociedade é a falta de investimento e as más condições da educação, nomeadamente a falta de condições dos professores. É uma profissão infelizmente muito pouco valorizada em Portugal, deveríamos tentar atrair as pessoas mais vocacionadas para o ensino, dar-lhes as melhores condições possíveis, porque isso favorece o nosso futuro enquanto país. A educação é fundamental e quanto mais investirmos na educação mais dividendos tiramos no futuro.

Em relação às artes, a percentagem do Orçamento do Estado dedicada à cultura é quase ofensiva.

A cultura é fundamental e não é vista como tal, deveria ser considerada como um bem essencial, como o é em França ou nos Estados Unidos. Nestes países, onde que a Lei do Mecenato é uma realidade do dia-a-dia, em que as empresas apostam em novos valores, apostam na cultura, investem na cultura, e penso que as empresas também deveriam fazer o mesmo cá.

As empresas em Portugal só investem naquilo que já não precisa de grande investimento, que são os artistas de renome, que têm carreiras internacionais, porque é uma aposta segura. Elas não arriscam - e não arriscam porque também não têm incentivos para isso.

Lei do Mecenato

A Lei do Mecenato em Portugal é muito pouco aplicada e, em termos de benefícios fiscais, não é especialmente atrativa. O Governo deveria incentivar as Juntas de Freguesia e as Câmaras Municipais a direcionarem pelo menos metade do seu orçamento para a cultura à procura de novos valores locais, seja de cantores, de artistas plásticos, de toda a áreas artísticas, para incentivar depois outras pessoas a prosseguirem carreiras artísticas.

Esta medida, em específico, não seria muito difícil de implementar, porque as Câmaras Municipais de todo o país esbanjam dinheiro nas festas - e quanto mais perto das autárquicas, pior -, isso deveria ser controlado. 

A outra coisa é a Lei do Mecenato, que é praticamente inexistente em Portugal. Há duas ou três empresas ou fundações que apostam na cultura, que investem na cultura, que arriscam na cultura, mas é muito pouco. E por isso é que os nossos artistas plásticos vão todos para fora, os grandes cantores de música clássica e grandes músicos também tentam ir para fora, porque cá não há hipótese de sobrevivência para muitos artistas.

E eu até faço parte de uma classe privilegiada, que é a do Fado. Há muito mercado para o Fado, principalmente internacional, mas é uma exceção – e é uma exceção que não é sequer especialmente beneficiada pelos sucessivos governos, mas porque é uma música única.

Depoimento recolhido por Beatriz Céu

 

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