PCP pede que se perca menos tempo “em tricas” e mais a responder aos problemas

Agência Lusa , PP
19 nov 2023, 14:01
Paulo Raimundo (Miguel A. Lopes/Lusa)

Paulo Raimundo considera “uma falácia” a ideia de que um Governo em gestão não pode agir

O secretário-geral do PCP pediu hoje que se perca menos tempo “em tricas” institucionais e mais na resposta aos problemas da população, considerando “uma falácia” a ideia de que um Governo em gestão não pode agir.

Numa conferência de imprensa de apresentação das conclusões da reunião deste sábado do Comité Central do PCP, em Lisboa, Paulo Raimundo foi questionado sobre as palavras do primeiro-ministro, António Costa, que considerou que o Presidente da República teve falta de “bom senso” ao decidir dissolver o parlamento, considerando que foi uma opção “totalmente despropositada e desnecessária”.

Na resposta, o secretário-geral do PCP referiu que, apesar de o país estar numa crise política, a vida “das pessoas está em crise há muitos meses” e destacou que a decisão do Presidente da República está tomada e não suscita “nenhuma dúvida”.

“Talvez o melhor seja aproveitar este tempo que temos - ainda temos algum tempo - não para perder tempo em tricas, mas sim para perder tempo na resolução dos problemas das pessoas”, defendeu.

Paulo Raimundo deu o exemplo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), salientando que “cada minuto” que se perde “a falar sobre esses conflitos institucionais” é menos um minuto que se gasta a tentar resolver os problemas na saúde.

“Era preciso concentrarmos todas as forças que existem para resolver agora os problemas com que estamos confrontados, de respeito pelos profissionais, pelos utentes, falta de capacidade de dar resposta aos utentes do SNS”, sublinhou.

Questionado sobre o facto de o ministro da Saúde ter convocado uma nova ronda de negociações com os sindicatos dos médicos para esta semana, Paulo Raimundo considerou que Manuel Pizarro “fez bem”.

“Fez mal foi em ter desmarcado a anterior e andar há 19 meses a esta parte a enrolar as negociações e, ao mesmo tempo que anda a enrolar, vai paulatinamente desmantelando o SNS”, criticou.

Apesar de esperar que se chegue a acordo nessas negociações, Paulo Raimundo disse, “com uma certa mágoa”, que não acredita que isso venha a acontecer.

Interrogado se não considera que um Governo em gestão, sem capacidade para tomar decisões de cariz orçamental, pode comprometer ainda mais essas negociações, o líder do PCP considerou “uma falácia” a ideia de que o executivo não pode após o primeiro-ministro ter apresentado a demissão.

“O Governo está em plenas funções. No dia em que o senhor ministro se for reunir com os sindicatos, o Governo está em plenas funções e pode decidir o que entender, pode decidir o que quiser”, disse.

Paulo Raimundo referiu que se, por exemplo, “houver uma emergência no país”, como um temporal ou um incêndio, “o Governo de gestão pode e deve intervir, até em questões orçamentais”.

“Ora, nós estamos perante uma urgência: há uma grande urgência nas urgências. Há uma urgência no SNS, há uma urgência de falta médicos. Portanto, nós não alimentaremos essa ideia de que o Governo está em gestão e não pode fazer nada”, disse.

O líder do PCP indicou que “as consultas das pessoas, a falta de tratamentos, de médicos, de acesso a medicamentos, não ficam à espera quatro meses, nem podem ficar”.

“O Governo também não se pode refugiar nessa capa da gestão e não responder aos problemas das pessoas”, defendeu.

PCP marca “grande arranque” da campanha eleitoral com encontro nacional em 13 de janeiro

O PCP vai organizar um encontro nacional no dia 13 de janeiro para marcar “um grande arranque” da campanha eleitoral, anunciou também o secretário-geral do partido, que manifestou uma “convicção muito grande” de que a CDU vai crescer eleitoralmente.

“O Comité Central do PCP convocou para dia 13 de janeiro de 2024 um encontro nacional sobre as eleições e ação do partido”, anunciou Paulo Raimundo.

O líder do PCP referiu que o encontro em questão vai servir “para fazer um ponto de situação”, afinar “conteúdos e linhas de orientação” e “dar um grande arranque do ponto de vista da campanha eleitoral”.

“Nós costumamos realizar encontros nacionais para o tratamento das questões eleitorais aquando de eleições e, portanto, é nesse enquadramento que se encaixa”, disse.

Questionado sobre os objetivos eleitorais do partido, Paulo Raimundo respondeu que o PCP “não tem nenhum objetivo numérico”, mas tem a “convicção muito grande” de que vai crescer eleitoralmente.

“Vamos crescer do ponto de vista eleitoral: mais votos, mais percentagem e mais deputados. Iremos tão longe conforme for a vontade do povo em nos dar esse reforço”, disse.

Sobre um calendário para apresentação do programa eleitoral e listas de deputados, o líder do PCP referiu que o partido ainda está a defini-lo, mas antecipou que, “até ao final do mês de janeiro, terá essas questões “completamente clarificadas”.

Na sua intervenção inicial, Paulo Raimundo defendeu que a convocação de eleições antecipadas é “uma oportunidade para abrir caminho a uma outra política ao serviço dos trabalhadores e do povo”, considerando que é “o reforço do PCP e da CDU” que irá determinar essa mudança.

O líder do PCP criticou a atual maioria absoluta do PS, que considerou não ter respondido aos problemas da população, nem ter sido “fator de estabilidade política ou social”, acrescentando que “a ilusão” de que os socialistas podem dar soluções aos problemas “foi desmentida pela realidade”.

O secretário-geral do PCP defendeu que, com a marcação das eleições, estão também a ser retomadas “diferentes operações de manipulação”, que, contudo, “não conseguem apagar a realidade” de que as eleições legislativas são para “eleger deputados” e determinar “a futura composição da Assembleia da República”.

“É disso que se trata e é o número de deputados do PCP e da CDU que determina as opções futuras”, disse.

Questionado sobre uma eventual reconfiguração da ‘geringonça’, Paulo Raimundo reiterou que o que vai determinar “o rumo que o país vai seguir a partir do dia 10 de março não é a forma, é o conteúdo”, acrescentando que esse conteúdo será influenciado pelo “número de deputados que o PCP tiver”.

“Quanto mais deputados o PCP e a CDU tiverem, em melhores condições estamos de influenciar o rumo de que precisamos e que abra um caminho novo e que não é caminho que nos trouxe até aqui, e muito menos este caminho destes últimos dois anos”, disse.

Apesar de rejeitar comentar a disputa interna pela liderança do PS, Paulo Raimundo referiu que, independentemente de quem venha vencer, os dois candidatos - Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro - estão “profundamente comprometidos” com o rumo seguido até agora.

Paulo Raimundo defendeu ainda que, apesar de se querer retratar as eleições de “forma simplista”, como havendo “um ajuntamento de esquerda e de direita”, o que vai estar em confronto em 10 de março é “o confronto entre os que concentram 25 milhões de euros de lucros por dia e os três milhões de trabalhadores que ganham até mil euros por mês brutos”.

“Este é que é o confronto que vai estar em cima da mesa. Portanto, não vale a pena estar a falar de forma, quando o que está em cima da mesa é o conteúdo”, defendeu, depois de afirmar que o PS "não foi obstáculo à política de direita, antes foi seu protagonista".

 

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