O meu filho comeu areia. É motivo de preocupação? Sim e não

9 ago 2023, 22:00
Crianças a brincar na praia (Kay-Paris Fernandes/Getty Images)

VERÃO CNN || Durante o mês de agosto, todas as segundas, quartas e sextas-feiras, publicamos dicas para ajudar nas suas férias

Primeiro começa a apalpar o terreno, depois brinca e até atira um pouco em frente, mas num ápice a mão que está já cheia vai direta à boca. O cenário repete-se todos os anos e são as crianças mais pequenas as que teimam em manter o hábito, mas é motivo de preocupação para os pais? Sim e não.

“É de evitar, é uma matéria que não está limpa a 100%”, começa por explicar Miguel Rato, médico de Medicina Geral e Familiar na CB Clinic. Há riscos? “Por norma, não”, é uma situação “sem consequências de maior”, diz-nos. A eventual gravidade da situação “está condicionada à quantidade que ingere”. 

“É um clássico”, diz, a rir, Hugo Rodrigues, pediatra na Unidade Local de Saúde do Alto Minho, em Viana do Castelo. Para o também autor da página Pediatra Para Todos, “não existem grandes riscos”, pois as crianças “não comem uma quantidade muito grande, acabam por cuspir” a areia que têm na boca. “Mesmo a ação mecânica da areia no tubo digestivo é muito residual”, continua.

Apesar de defender que “é de evitar que aconteça” - embora também admita que tal nem sempre é possível, “é uma fração de segundos” -, Hugo Rodrigues segue a linha de pensamento de Miguel Rato e recomenda aos pais que passem a boca da criança por água e que tirem o máximo de areia do seu interior. 

As praias de água doce e salgada têm comunidades microbianas distintas e muitos dos micróbios presentes na areia “desempenham um papel importante na homeostase aquática”, lê-se no site da Sociedade Americana de Microbiologia. Mas há também bactérias que podem ser nocivas para os humanos, sobretudo após o consumo. Muitas de origem fecal, diz o organismo, que destaca a presença de bactérias como Staphylococcus, Escherichia coli e Enterobacteriacea, além de fungos, vírus e parasitas na areia.

A exposição a micróbios associados à areia é frequente no verão, mas também em atividades recreativas ao longo do ano (como em parques infantis, tendo um estudo espanhol detetado bactérias fecais que podem causar diarreia) e um estudo, publicado em 2015 na revista Reviews in Environmental Science and Bio/Technology, revela que “esses microrganismos podem ser autóctones ou alóctones” e que, “embora a maioria seja inofensiva, alguns são patogénicos, e o potencial de ocorrência de patógenos é particularmente grande quando a areia é contaminada por dejetos humanos ou animais”. No entanto, os riscos associados continuam a ser raros.

“Não é um hábito saudável, a dentição está em formação e é um material agressivo para os dentes”, alerta o médico. Mas por reconhecer que é um hábito mais comuns entre os mais pequenos, Miguel Rato brinca ao dizer que “quase que funciona como uma vacina natural por exposição a antigénio”.

Da mesma opinião é Jose Blanco, da faculdade de Medicina Veterinária da Universidad Complutense de Madrid, que, em declarações à Reuters, defende que “temos que aprender a conviver com esses agentes” e que “se os nossos filhos viverem num ambiente altamente limpo, o seu sistema imunitário não será desenvolvido da maneira correta e, provavelmente, problemas como alergia estarão presentes”.

Após a ingestão de areia, “o mais importante será promover uma boa hidratação”, assim como a higienização da boca (bocejando e tirando grãos de areia que possam permanecer no interior). Além disso, recomenda o médico Miguel Rato, é ainda aconselhado “vigiar a criança”, sobretudo se apresentar “dificuldade em defecar, se ficar com febre e dor de barriga”, devendo, nestes casos, “levar a criança às urgências” para ser avaliada. No entanto, destaca que, “por norma, é um fenómeno que com hidratação se consegue resolver”.

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