Crédito à habitação. Dezembro traz novas más notícias, mas começa a ver-se uma luz ao fundo do túnel

16 nov 2022, 07:00

Taxas Euribor continuam a subir, mas a um ritmo cada vez mais lento. Juros deverão continuar a subir até ao final do primeiro semestre de 2023, para depois estabilizar num patamar já inferior ao atual. Consulte a simulação para o seu crédito à habitação

Não parece haver escapatória. Os portugueses com contratos de crédito à habitação que vão ser revistos no próximo mês deverão ter uma nova má notícia, com as prestações a subirem de forma significativa em resultado da subida das taxas Euribor.

Os detentores de contratos de crédito indexados à Euribor a 12 meses, aqueles que representam atualmente a maior fatia de crédito à habitação em Portugal, são os que vão sentir a maior variação na prestação a pagar ao banco. As simulações feitas pela CNN Portugal, tendo apenas por base o valor médio das taxas Euribor na primeira metade de novembro, mostram que para estes contratos a subida será superior a 50%.

O disparar da prestação acontece porque a última vez que estes créditos foram revistos foi em dezembro do ano passado com base na média da Euribor de novembro de 2021, quando a taxa ainda apresentava um valor negativo (-0,487%). Hoje, a realidade é bem diferente e na primeira metade do mês a média da Euribor a 12 meses já passava ligeiramente os 2,8%.

O resultado é uma subida vertiginosa da prestação que pode levar a uma subida de pouco mais de 40 euros mensais num contrato em que o capital em dívida seja de apenas 25 mil euros. Mas que num contrato em que o valor do empréstimo seja de 150 mil euros pode aumentar a prestação em quase 250 euros por mês.

Quanto vai aumentar a prestação da casa

Empréstimo a 30 anos com spread de 1%

  EURIBOR A 12 MESES
 

Empréstimo de 25 mil euros

 

Prestação

Aumento

Dezembro de 2021

74,94

 

Dezembro de 2022

116,52

41,58

 

Empréstimo de 50 mil euros

 

Prestação

Aumento

Dezembro de 2021

149,88

 

Dezembro de 2022

233,04

83,16

 

Empréstimo de 75 mil euros

 

Prestação

Aumento

Dezembro de 2021

224,82

 

Dezembro de 2022

349,55

124,73

 

Empréstimo de 100 mil euros

 

Prestação

Aumento

Dezembro de 2021

299,76

 

Dezembro de 2022

466,07

166,31

 

Empréstimo de 125 mil euros

 

Prestação

Aumento

Dezembro de 2021

374,7

 

Dezembro de 2022

582,59

207,89

 

Empréstimo de 150 mil euros

 

Prestação

Aumento

Dezembro de 2021

449,64

 

Dezembro de 2022

699,11

249,47

A subida das prestações em dezembro será mais suave para quem tem o crédito indexado à Euribor a três ou a seis meses, mas quando se analisa o que aconteceu desde dezembro do ano passado percebe-se que, apesar de menor, o aumento das prestações é, ainda assim, muito significativo.

Para quem tem o seu crédito indexado à Euribor a 3 meses o aumento varia entre pouco mais de 17 euros e pouco mais de 100 euros, consoante o capital em dívida seja 25 mil euros ou 150 mil euros.

A grande diferença, no entanto, é que para quem tem Euribor a 3 meses esta será já a quarta vez que a prestação é revista, fazendo com que o aumento da prestação mensal nos últimos 12 meses seja já de 28 euros nos contratos com uma dívida de 25 mil euros ou de quase 170 euros para os contratos com uma dívida de 150 mil euros. No final, contando os últimos 12 meses, a subida da prestação quase chega aos 40%.

Quanto vai aumentar a prestação da casa

Empréstimo a 30 anos com spread de 1%

  EURIBOR A 3 MESES
  Empréstimo de 25 mil euros
  Prestação Aumento
Dezembro de 2021 74,06  
Março de 2022 74,45 0,39
Junho de 2022 76,05 1,6
Setembro de 2022 85,03 8,98
Dezembro de 2022 102,26 17,23
Aumento num ano   28,2
  Empréstimo de 50 mil euros
  Prestação Aumento
Dezembro de 2021 148,13  
Março de 2022 148,89 0,76
Junho de 2022 152,11 3,22
Setembro de 2022 170,05 17,94
Dezembro de 2022 204,52 34,47
Aumento num ano   56,39
  Empréstimo de 75 mil euros
  Prestação Aumento
Dezembro de 2021 222,19  
Março de 2022 223,34 1,15
Junho de 2022 228,16 4,82
Setembro de 2022 255,08 26,92
Dezembro de 2022 306,78 51,7
Aumento num ano   84,59
  Empréstimo de 100 mil euros
  Prestação Aumento
Dezembro de 2021 296,26  
Março de 2022 297,79 1,53
Junho de 2022 304,22 6,43
Setembro de 2022 340,1 35,88
Dezembro de 2022 409,04 68,94
Aumento num ano   112,78
  Empréstimo de 125 mil euros
  Prestação Aumento
Dezembro de 2021 370,32  
Março de 2022 372,24 1,92
Junho de 2022 380,27 8,03
Setembro de 2022 425,13 44,86
Dezembro de 2022 511,3 86,17
Aumento num ano   140,98
  Empréstimo de 150 mil euros
  Prestação Aumento
Dezembro de 2021 444,39  
Março de 2022 446,68 2,29
Junho de 2022 456,33 9,65
Setembro de 2022 510,16 53,83
Dezembro de 2022 613,55 103,39
Aumento num ano   169,16

O mesmo acontecerá nos contratos que estão indexados à Euribor a seis meses. A subida em dezembro não será tão significativa como a que ocorre com quem tem o crédito indexado à Euribor a 12 meses, mas porque este já será o segundo aumento deste ano.

Analisando o valor da prestação em dezembro do ano passado e aquele que deverá resultar da revisão no próximo mês verifica-se que a subida poderá atingir um aumento superior a 46%.

Quanto vai aumentar a prestação da casa

Empréstimo a 30 anos com spread de 1%

 

EURIBOR A 6 MESES

 

Empréstimo de 25 mil euros

 

Prestação

Aumento

Dezembro de 2021

74,43

 

Junho de 2022

78,77

4,34

Dezembro de 2022

109,19

30,42

Aumento num ano

 

34,76

 

Empréstimo de 50 mil euros

 

Prestação

Aumento

Dezembro de 2021

148,85

 

Junho de 2022

157,53

8,68

Dezembro de 2022

218,37

60,84

Aumento num ano

 

69,52

 

Empréstimo de 75 mil euros

 

Prestação

Aumento

Dezembro de 2021

223,28

 

Junho de 2022

236,3

13,02

Dezembro de 2022

327,56

91,26

Aumento num ano

 

104,28

 

Empréstimo de 100 mil euros

 

Prestação

Aumento

Dezembro de 2021

297,7

 

Junho de 2022

315,07

17,37

Dezembro de 2022

436,74

121,67

Aumento num ano

 

139,04

 

Empréstimo de 125 mil euros

 

Pagava

Aumento

Dezembro de 2021

372,13

 

Junho de 2022

393,83

21,7

Dezembro de 2022

545,93

152,1

Aumento num ano

 

173,8

 

Empréstimo de 150 mil euros

 

Pagava

Aumento

Dezembro de 2021

446,55

 

Junho de 2022

472,6

26,05

Dezembro de 2022

655,12

182,52

Aumento num ano

 

208,57

Subida de juros abranda e vê-se luz ao fundo do túnel

A subida das taxas Euribor verifica-se praticamente desde o início do ano em todos os prazos e verifica-se também que, de mês para mês, essa subida era maior. Ou seja, as taxas não só subiam, como essa subida acelerava.

Aparentemente, apesar da subida se manter, há, agora, uma desaceleração. De setembro para outubro as taxas voltaram a subir, mas a um ritmo menor, e em novembro, apenas contabilizando os primeiros quinze dias, volta a haver uma subida, mas novamente a um ritmo menor.

Será uma luz ao fundo do túnel?

Filipe Garcia, economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros, sublinha que “há já muito tempo que o mercado está convicto de que as subidas dos juros [do Banco Central Europeu (BCE)] irão terminar na primeira metade de 2023” e que, há já “algumas semanas", a perceção era que a taxa de referência iria subir no máximo até 3,25%, sendo que nesta altura essa expectativa foi revista em baixa para valores entre 2,75% e 3%, como teto provável entre maio e junho”. Ou seja, a taxa de referência do BCE irá continuar a aumentar para além dos atuais 2%, mas os aumentos ‘jumbo’, como ficaram conhecidas as subidas de 0,75 pontos percentuais decididas pelo BCE, parecem afastadas.

Uma ideia que vai ao encontro das declarações feitas esta terça-feira pelo governador do Banco de França, François Villeroy de Galhau, no Japão, durante uma conferência. "Para além deste nível, provavelmente continuaremos a aumentar as taxas, mas poderemos fazê-lo de uma forma mais flexível e possivelmente menos rápida. Os aumentos das taxas 'jumbo' não se tornarão um novo hábito", sublinhou em declarações citadas pela Reuters.

E neste cenário Filipe Garcia lembra que, por exemplo, “no que toca à Euribor a seis meses, o mercado projeta um valor máximo entre 3,05% e 3,1% daqui a cerca de meio ano”, ou seja, um valor que compara com os 2,78% registados na primeira quinzena de novembro.

Ou seja, conclui Filipe Garcia, fruto das expectativas “de que os bancos centrais poderão começar a ser menos agressivos no seu ciclo de subidas das taxas”, tudo aponta para uma subida da Euribor a 6 meses para cima dos 3% no início do próximo semestre, antes de começar a recuar na segunda metade do ano, culminando com um período de estabilização entre os 2,5% e os 2,75% nos próximos cinco anos”.

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