Entre pedidos de demissão, deserções e aplausos, Boris Johnson anuncia fim de várias restrições covid no Reino Unido

19 jan 2022, 18:12
Boris Johnson

Primeiro-ministro britânico viveu momentos de absoluta tensão na Câmara dos Comuns, sendo alvo de críticas vindas do seu próprio partido. A partir de quinta-feira, muito muda na vida dos britânicos em relação às medidas de segurança contra a covid-19

Boris Johnson anunciou esta quarta-feira o fim de todas as medidas introduzidas no Reino Unido para combater a variante Ómicron da covid-19, incluindo o uso obrigatório de máscaras nos transportes públicos e em lojas, mas também a recomendação do teletrabalho e a obrigatoriedade de ser mostrado o comprovativo de vacinação para entrar em alguns estabelecimentos. 

São decisões que começam a entrar em vigor a partir desta quinta-feira e o seu anúncio acontece num momento de absoluta tensão para o tory, que se vê a braços dados com uma crise pública após ter sido recentemente relevado que foram organizadas festas no Número 10 de Downing Street, em Londres, durante o confinamento, com o primeiro-ministro a ter participado em pelo menos uma.

Na Câmara dos Comuns, Johnson foi aplaudido por alguns deputados na bancada dos conservadores, ao afirmar que a exigência legal de auto-isolamento de pessoas infetadas com covid-19 irá expirar a 24 de março. Johnson também anunciou o fim imediato da necessidade de os alunos usarem máscaras nas escolas secundárias.

Ainda que tenha recebido apoio por parte dos seus apoiantes, o fim das restrições despertou preocupação por parte dos sindicatos ligados ao ensino e à enfermagem e levou um diretor de saúde pública a afirmar que “a medida parecia mais motivada por política do que por factos”.

 

 

Do lado da oposição, Keir Starmer explicou que apoiaria a mudança desde que fosse apoiada por factos, apelando a que Johnson “tranquilize o público e reitere que está a agir para proteger a saúde da população e não apenas o seu trabalho”.

Johnson reconheceu que está a percorrer um “caminho diferente” de parte da Europa, mas insistiu que os dados sobre a covid no país estão a “mostrar repetidamente que este governo acertou as decisões mais difíceis” e que as restrições impostas em dezembro podem ser levantadas. 

A partir de amanhã, não exigiremos mais máscaras nas salas de aula e o Departamento de Educação removerá em breve as orientações nacionais sobre o seu uso em áreas comuns”, disse Johnson à Câmara dos Comuns.

"Em nome de Deus, vá-se embora"

A tomada de posição com efeitos a uma velocidade recorde está a ser interpretada como uma arma de Johnson para distrair as atenções do escândalo gerado pelo Partygate que enfureceu a opinião pública com relatos de noites de verão e festas de Natal ao sabor de álcool no Número 10, tudo a acontecer num momento em que o resto do país estava sob estritas restrições por causa da pandemia. 

Na Câmara dos Comuns, Boris Johnson foi perseguido por estes desenvolvimentos e foi rápido a alegar que os deputados devem esperar pelos resultados de uma investigação interna antes de formularem conclusões. Mas a atmosfera permaneceu carregada e levou mesmo um ex-ministro conservador a anunciar a sua separação do partido. "Vou lembrá-lo de uma citação que pode ser familiar aos seus ouvidos: Leopold Amery para Neville Chamberlain: ‘Ficou muito tempo sentado aqui para qualquer bem que tenha feito. Em nome de Deus, vá-se embora", disse David Davis.

Poucos momentos antes do início da sessão de perguntas dirigidas ao primeiro-ministro britânico, o deputado conservador Christian Wakeford anunciou sua deserção para a oposição e começou a caminhar dramaticamente pelo chão até às bancadas do Partido Trabalhista. "O senhor e o Partido Conservador, como um todo, mostraram-se incapazes de oferecer a liderança e o governo que este país merece", declarou Wakeford, que foi um dos deputados que garantiu a Johnson uma vitória em redutos tradicionalmente trabalhistas no norte de Inglaterra nas eleições de 2019.

Quem pareceu beneficiar com tudo isto foi o líder da oposição, Keir Starmer, que saudou a deserção de Wakeford para o seu partido. "O Partido Trabalhista está pronto para fornecer um governo alternativo que o país se pode orgulhar, disse Starmer.

Duas sondagens na semana passada sugerem que até dois terços dos eleitores querem que Johnson renuncie. Decisão que o tory não equaciona, para já.

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