«Não há máscaras suficientes, por isso, arranjou-se um artifício»

3 abr 2020, 10:28
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Conselho de Escolas Médicas critica a posição da Direção-Geral da Saúde sobre máscaras na pandemia covid-19

O presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP), Fausto Pinto, critica a posição da Direção-Geral da Saúde sobre as máscaras de proteção face à pandemia de covid-19.

«Está demonstrado que a utilização das máscaras diminui o potencial de contaminação. O que nos incomodou na posição da Direção-Geral da Saúde (DGS) foi o argumento utilizado: de que não era eficaz. Isto não é verdade», afirma, em entrevista à Lusa, o líder do conselho que reúne a academia portuguesa na área da medicina.

«O que temos é que não há máscaras suficientes e, por isso, arranjou-se um artifício, uma desculpa, dizendo que as máscaras não são eficazes», assegura.

Fausto Pinto recorre ao exemplo da República Checa, «um país com a dimensão de Portugal», para explicar que a política checa de utilização obrigatória de máscara de proteção resultou em «metade dos casos e cerca de 40 mortos» provocados pelo novo coronavírus, reiterando ainda que se ensina «em dois minutos» a população a usar uma máscara corretamente.

Em defesa da «atitude de intervenção cívica» do CEMP, que já emitiu dois comunicados com recomendações nos dias 25 e 28 de março, o também diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa considera que as medidas de quarentena em vigor no país «deviam ser mais rigorosas» e que a economia precisa ficar para segundo plano.

«Só há economia se houver pessoas. Obviamente que a economia é importante, mas em primeiro lugar está a saúde. A prioridade atualmente é a preservação da saúde pública e minimizar ao máximo o impacto desta pandemia em Portugal. Toda a atividade não essencial devia encerrar. O filme está feito, já sabemos o que vai acontecer».

Paralelamente, Fausto Pinto lamenta os «muito poucos testes» que se fizeram nas primeiras semanas de disseminação do SARS-CoV-2, defendendo que as autoridades foram «muito restritivas» e condicionaram a «caracterização epidemiológica» em território nacional. Já as carências iniciais registadas nos equipamentos de proteção dos profissionais de saúde merecem também um reparo.

«Talvez tivesse sido importante haver um planeamento mais atempado, de forma a ter esses equipamentos disponíveis e também os mecanismos de avaliação dos doentes, que em alguns hospitais não foram os ideais. A situação parece estar mais estabilizada, mas houve um período em que muitos profissionais estavam a trabalhar em condições subótimas. Houve um atraso no reforço desses equipamentos e dessas condições», nota.

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