China promete vacinas contra Ómicron. Mas as vacinas chinesas serão eficazes?

7 dez 2021, 07:31
Vacinação contra a covid-19

Laboratórios chineses garantem que as suas vacinas são eficazes contra todas as variantes, e prometem atualizar esses fármacos contra a Ómicron. Mas há pouca informação, pouca transparência, e muitas dúvidas sobre a CoronaVac e a Sinopharm

Assim que o mundo soube do surgimento da nova e mais contagiosa variante do novo coronavírus, a China prometeu adaptar as suas vacinas para ajudar o mundo a imunizar-se contra a Ómicron. Ainda as caraterísticas na variante descoberta na África do Sul mal eram conhecidas, e já o Centro de Controlo de Doenças de Pequim garantia que as vacinas desenvolvidas pelos laboratórios chineses eram eficazes contra a Ómicron, e assegurava que seriam melhoradas em pouco tempo para apurar a sua resposta à nova estirpe.

Porém, são cada vez maiores as dúvidas internacionais sobre a efetividade das vacinas da Sinovac e da Sinopharm, as duas principais vacinas made in China. Essas dúvidas já eram muito sérias mesmo em relação às anteriores variantes do SARS-Cov2, em particular a Delta.

A questão não se coloca apenas em relação ao desenvolvimento da pandemia na China, onde apenas são administradas as vacinas desenvolvidas no país. coloca-se também em relação a muitos países onde os fármacos de produção chinesa foram decisivos para imunizar as populações contra a covid.

Até ao momento, já foram administradas mais de 3 mil milhões de doses das vacinas chinesas contra o novo coronavírus, das quais 2,5 mil milhões dentro das fronteiras da China, segundo os mais recentes dados, divulgados esta terça-feira pelo Financial Times. Mais de mil milhões foram exportados para mais de uma centena de países.

Ou seja, só as vacinas da Sinovac (CoronaVac) e da Sinopharm representam cerca de metade das que foram distribuídas até agora pelo mundo. 

Estes fármacos são especialmente importantes em países emergentes, com menos poder negocial e de compra junto das grandes farmacêuticas ocidentais, e nos países mais pobres, em boa medida dependentes do Covax, o mecanismo internacional de solidariedade para a vacinação.

A Coronavac (produzida pela Sinovac) é a vacina contra a covid mais vendida no mundo, e a Sinopharm surge em terceiro lugar, de acordo com dados da revista Nature (pelo meio, surge a vacina da Pfizer, enquanto da AstraZeneca e a Moderna ocupam o quarto e quinto lugar). Há países particularmente dependentes da produção chinesa para inocular as suas populações, com destaque para a Indonésia, o Brasil, o Paquistão, a Turquia, o Irão e as Filipinas, os maiores clientes das duas grandes vacinas da China.

No entanto, alguns territórios com elevadas taxas de vacinação com essas vacinas registaram grandes surtos entretanto, como aconteceu logo antes do verão nas Seychelles, no Peru e nos Emirados Árabes Unidos. E são cada vez mais os responsáveis políticos que estão a mudar de fornecedores, optando por vacinas ocidentais, à medida que a sua produção ganha escala. 

É o que se tem passado na América Latina, onde a primeira fase de vacinação foi quase toda assegurada com vacinas chinesas, à falta de alternativa. Atualmente, as vacinas chinesas já foram ultrapassadas pela vacina da AstraZeneca. 

No Brasil, o estado de São Paulo fez um acordo para a produção da CoronaVac, da qual foram entretanto fabricadas mais de 100 milhões de doses no país. Inicialmente, estudos locais apontavam uma efetividade de 78% contra doença moderada, mas esse valor foi revisto poucos dias depois para 50,4%. Atualmente, a estimativa está nos 62%, ainda assim muito abaixo da efetividade estimada para as vacinas da Pfizer e da Moderna (e um pouco abaixo em relação à da AstraZeneca).

E há muitas dúvidas sobre a duração da proteção conferida pelas vacinas made in China, pois há pouca informação e pouca transparência em relação aos respetivos ensaios clínicos. 

Menos proteção, por menos tempo

Os estudos desenvolvidos entretanto em vários países, da Tailândia a Hong Kong, passando pelo Chile, indiciam uma menor resposta de anticorpos no casos das vacinas chinesas. E a imunidade conferida parece durar menos tempo e declinar mais rapidamente do que com as vacinas ocidentais.

Outra questão que se tem levantado, para além da opacidade chinesa, relaciona-se com a tecnologia de base dessas vacinas, que usam versões inativadas do novo coronavírus, e não a tecnologia mais recente de RNA mensageiro. Ben Cowling, professor de epidemiologia na Universidade de Hong Kong, diz ao FT desta terça-feira que “há ainda mais incerteza em relação à efetividade das vacinas [de vírus] inativados, em comparação com as outras vacinas que estão a ser mais usadas, como as duas de RNA mensageiro [da Pfizer e da Moderna] e a da AstraZeneca”. 

Quanto aos dados que chegam da China, permitem várias análises. Por um lado, está a verificar-se algum aumento da incidência da variante Delta, apesar da política rigorosa de “covid zero”, com grandes confinamentos, recurso generalizado a testes e a rastreio de contactos. Daqui, Cowling conclui que a proteção das vacinas chinesas “contra a infeção e a transmissão não pode ser muito alta, porque continuam a ser necessárias medidas muito rigorosas de saúde pública para controlar os surtos”.

Por outro lado, os dados oficiais reportam poucos casos de doença grave relacionados com estes surtos, o que sugere que “a eficácia das vacinas contra doença severa poderá ser alta”. 

Na semana passada, as autoridades de Singapura - território com altas taxas de vacinação com as marcas chinesas - anunciaram que quem foi imunizado com a CoronaVac ou com a Sinopharm terá obrigatoriamente de fazer uma terceira dose no próximo mês para poder ser considerado “totalmente vacinado”.

Chile, Emirados Árabes Unidos, Seychelles e China também já estavam a apostar na administração da terceira dose das vacinas chinesas mesmo antes do surgimento da variante Ómicron.

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