opinião
Jornalista,editor de Sociedade

"Um inferno" que pode valer 6 milhões, os infiltrados da Cosa Nostra e o crime da TVI/CNN explicado às crianças 

21 jun, 14:42

Meninas e Meninos, 

A TVI e a CNN Portugal não revelaram, em momento algum, escutas sobre a vida pessoal ou íntima de António Costa ou João Galamba. Nem o que jantam, nem o que vestem, nem onde dormem. A conversa dos dois governantes, validada pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, está à vista num processo e é sobre nós, contribuintes, que arriscamos pagar seis milhões de euros de indemnização a uma senhora da TAP, que, afinal, foi despedida porque, cito o então primeiro-ministro, "se isto se torna num inferno é ela ou nós". Um inferno político para o PS, leia-se, depois de se ter descoberto que pagaram 500 mil euros a outra senhora para sair da TAP e que depois acabou no Governo. E isto, meninas e meninos, não parece ser justa causa para se despedir ninguém. Mas os tribunais dirão. 

Percebem agora o interesse público do trabalho da TVI/CNN Portugal? A escuta entre Costa e Galamba não tem relevância criminal, é certo - mas tem um interesse público inquestionável pelo que acima expus. E está transcrita. E acabaria sempre por se tornar pública. Nem que fosse no dia em que a advogada da senhora Christine Ourmières-Widener a apanhasse e esfregasse as duas mãos antes de as enfiar no cofre do Estado.

Perceberam? É que alguns dos vossos pais não sabem o que é interesse público, quanto mais dever de informar dos jornalistas e direito à informação dos cidadãos numa sociedade livre - quando em causa estão factos relevantes da nossa vida coletiva.

Desde logo quando se trata do nosso dinheiro e de eventuais inverdades de pessoas que nos governam. Mal desligam o telefone, entram nas comissões de inquérito e se ligam os microfones das câmaras, já se refugiam em pareceres técnicos da Inspeção-Geral de Finanças para despedir pessoas, quando, na prática, tudo se deveu a isto, que o primeiro-ministro resumiu ao ministro das Infraestruturas: "Já falei com o Fernando [Medina, então ministro das Finanças] e politicamente nós não nos safamos mantendo a senhora, nem a senhora se safa politicamente". 

No final do processo movido pela senhora contra o Estado, por danos morais e patrimoniais, veremos quem se safa (a senhora) e quem não se safa (nós). Tratou-se de uma  legítima decisão política que preferiram travestir de decisão técnica. É esta a verdade. Inconveniente, mas a verdade. 

Agora que as meninas e os meninos já têm o desenho sobre onde está o interesse público, sobre o escrutínio das instituições que em democracias mais avançadas do que a nossa, como Inglaterra e Estados Unidos, tem um valor absoluto, vamos falar de alguns dos vossos pais que fazem parte de um "manifesto dos 50 + 50", que pugna pela reforma Justiça e por outro tipo de Ministério Público.

Como em tudo na vida, quando se junta muita gente arrisca-se a ter uma mescla entre gente séria e que muito prezo, bem intencionada e desinteressada naquilo que não seja um país melhor; e um ou outro (para ser simpático) mafioso reconhecido que tenha feito fortuna a cometer crimes a coberto da advocacia, que deva uns 20 anos à prisão e para quem um Ministério Público bom é um Ministério Público de espinha partida e domesticado. 

Da mescla de gente passamos à mescla de conteúdos - e eu também sou a favor do escrutínio dos magistrados (embora só pelo poder judicial), da responsabilização hierárquica e do prestar de contas, por parte da PGR, diretamente ao acionista da Justiça, que somos nós todos. Mas já não aceito que os ditos manifestantes se venham agora armar em provedores da imprensa livre, qual Diácono Remédios. 

Era o que faltava se o dr. David Justino nos vinha ensinar o que podemos ou devemos noticiar. Por todos os motivos que acima expus, acessíveis à inteligência de qualquer criança, era o que faltava se o trabalho da TVI/CNN Portugal, que pugnou como sempre por uma sociedade esclarecida, foi "mais um momento, entre outros, de violação das regras básicas do estado de direito democrático, com envolvimento e participação dos responsáveis do setor da comunicação social, que deviam estar na primeira linha da sua defesa".

Nós não ensinamos o dr. Justino a fazer política e o dr. Justino não nos vem ensinar a fazer jornalismo. Se tiver bom senso, fechamos negócio.

P.S. Registo que o dr. Ferro Rodrigues já não se esteja, cito, "cagando para o segredo de justiça". Registo também que parece estar a passar o tempo do “à justiça o que é da justiça, à política o que é da política”. Sim, há um problema e são os políticos que têm que o resolver.

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