O recuo, a lição, a surpresa, as caras novas, os ataques aos radicalismos e as 23 propostas de Montenegro. A convenção da AD em seis atos

21 jan, 23:00
Aliança Democrática: Convenção por Portugal (Lusa)

Santana Lopes chegou sem avisar e jurou fidelidade a Luís Montenegro numa convenção em que o líder do PSD desvendou mais de duas dezenas de promessas eleitorais. Nuno Melo deu o dito por não dito, Paulo Portas falou diretamente para os indecisos e novas personalidades entraram para as listas de possíveis ministros de um Governo AD

Nuno Melo marcou passo e, no final, Luís Montenegro jogou mais um trunfo. No Estoril, não apareceu Pedro Passos Coelho, mas o nome esteve presente nas vozes das velhas e das novas caras que se apresentaram na convenção para desferir golpes em Pedro Nuno Santos, o “radical à esquerda” e em André Ventura, “o extremista”. “De mim, não esperem aventuras, nem radicalismos. Nem que desate a prometer tudo, a todos”, avisou o líder social-democrata.

A surpresa

Depois de Cavaco Silva, agora foi a vez de Santana Lopes protagonizar a surpresa do dia.  O regresso de um ex-líder que deixou o partido e que esteve na primeira AD, foi uma espécie de bênção para a nova Aliança de Luís Montenegro e Nuno Melo. “No combate pomos a divergência de lado”, disse no discurso que fez e que estava guardado no segredo dos deuses. Elogiou as várias intervenções que passaram pela Convenção da AD e assumiu que apesar de não concordar “com todos, todos, todos” os pontos de vista de Montenegro, era altura de estar no “exército” ao lado do líder e seguir a estratégia. Lembrou que Montenegro não falhou quando estava no Parlamento como líder parlamentar, ao contrário do governo PS. “Os governantes do PS podemos dizer tudo deles, menos que são os melhores do mundo, da Europa ou do país. Falharam tanto os resultados que é óbvio que têm de ser substituídos”.

Depois de Cavaco, foi a vez de Santana Lopes estar no centro da surpresa (António Pedro Santos/Lusa)

A lição

Mal subiu ao palco do Centro de Congressos Paulo Portas foi direto aos indecisos: “Falo a quem tiver dúvidas”, disse, sublinhando que a eleição não está de todo decidida": "Há muita desinformação, há muita manipulação, muita confusão e há na sociedade portuguesa margens importantes de desesperança”. Por isso confessou que o seu “contributo” era “apenas o de tentar ordenar ideias para ajudar a ordenar as escolhas". E começou a falar do que disse serem as "razões e não chavões" para votarem na Aliança Democrática. “Ou a AD ganha eleições ou teremos o governo mais radicalizado desde 1976”, alertou, falando de um Executivo liderado por Pedro Nuno Santos. “Será a geringonça com um primeiro-ministro inexperiente”, garantiu.

Paulo Portas na Convenção da Aliança Democrática (António Pedro Santos/Lusa)

A segunda “meditação” que Portas transmitiu aos indecisos teve a ver com o ambiente internacional. Recordando que há três guerras em curso, avisou: “Não há vantagens de acrescentar uma instabilidade” em Portugal “à instabilidade que se vive la fora”. O terceiro esclarecimento teve a ver com a dívida do Pais. Notando que a inflação está mais controlada, Portas garantiu que “só se reduz a dívida se aumentarmos o nível de crescimento”.  E voltou mais uma vez a falar a quem ainda não sabe em quem votar: “Os cidadãos podem pensar por si próprios qual dos projetos de governo” é mais capaz de promover “mais crescimento económico, dar mais rendimento às famílias, mais confiança aos investidores e conseguir reduzir a dívida publica “O governo da AD gera mais confiança do que uma geringonça 2.0. Lembrou que os eleitores têm de ser “inteligentes” e emendou a frase de António Costa que disse que “Só PS faz melhor que PS”. Para Portas a lição é outra: “Só PS pode fazer pior do que PS”.

O recuo

Foi a primeira mensagem de Nuno Melo, líder do CDS-PP. quando falou na Convenção. “O único governo que a AD vai viabilizar é o Governo na AD”.  O líder do CDS-PP esclarecia assim a polémica que se instalou na véspera da Convenção depois de André Ventura ter avisado que a AD era a “muleta útil do PS” na sequência de uma declaração de Nuno Melo sobre a viabilização de um governo PS. Agora na Convenção da AD Nuno Melo corrigiu:  “Sei muito bem quem são os nossos adversários. São as esquerdas, mas todos aqueles que querem o insucesso da Aliança Democrática. O único governo que a Aliança Democrática vai viabilizar vai ser o governo da AD quando vencermos as eleições”. E avisou que votar PS é comprar um “bilhete para o Titanic”.

Nuno Melo discursa na convenção da AD (António Pedro Santos/Lusa)

As caras novas

Ana Paula Martins, Alexandre Homem Cristo e Eduardo Oliveira e Sousa.  Foram eles as caras novas, que se debruçaram sobre alguns dos temas que mais dizem aos portugueses e que neste momento estão sob fogo: saúde, educação e agricultura.

A primeira dos três a discursar foi Ana Paula Martins, antiga presidente do conselho de administração do Hospital de Santa Maria e antiga bastonária dos Farmacêuticos. “Não há nada pior do que perder a esperança no projeto de país que podemos ter. E já ninguém acredita. Não há um plano. Andamos à deriva. Não se pense que um país pode viver num século 21 sem um sistema de saúde forte e resiliente”, disse. Pouco depois, Eduardo Oliveira e Silva prometeu trazer de novo as florestas para o Ministério da Agricultura.

E Alexandre Homem-Cristo revelou que a AD vai trazer as provas de aferição de para o  4º e 6º ano. "Para ser eficaz, a monitorização da aprendizagem deve ser feita no final dos ciclos do ensino básico e com resultados publicados”, disse. Os três, assim como outros que subiram ao palco, entram agora para as listas de possíveis ministros de um Governo AD.

Os radicalismos, Pedro Nuno Santos e Ventura

Foi uma das mensagens dos vários discursos. Pedro Nuno Santos vai levar o país a uma viragem “radical à esquerda” e André Ventura ao “extremismo”. Nuno Melo deu o pontapé de saída nas críticas ao Chega, garantindo que André Ventura está a copiar ideias de Mariana Mortágua, como a taxação ao lucro das gasolineiras, aumentando ainda “a parada”. Pouco depois Paulo Portas, não poupou Pedro Nuno Santos, recordando o casos da TAP, dos CTT e outros, “Ele sabia”, sublinhou, classificando-o como autor de politicas levianas e de ter amnésia nas decisões. E antes de acabar lembrou que no memorando foi o PS quem colocou a privatização da TAP e dos CTT. Quanto ao Chega, sem nunca pronunciar o nome, Portas afirmou: “Tomem cuidado. Os problemas complexos não se resolvem com 142 caracteres”. Seguiram-se vários ataques ao PS, Carlos Moedas lembrou as promessas por cumprir. “O aeroporto que não chega, são os médicos que não chegam, são as casas que disseram que faziam e não fizeram”. Cecília Meireles, antiga deputada do CDS PP acusou Pedro Nuno Santos de ser recliclado e de estar a apostar através do PRR na “economia clientelar do Estado”, apelando ao voto útil. Leonor Beleza, por seu lado, frisou que queste e este “não é um tempo para aventuras” nem “aventureiros”. “É um tempo para gente com coragem, para gente capaz de mobilizar, para gente competente”, afirmou, resumindo assim o que a AD de Montenego, Nuno Melo e Câmara Pereira- que não esteve na Convenção- quis passar ao país que está a de ir ás urnas escolher o sucessor de António Costa.

As promessas

Ao todo foram 23 promessas. Nuno Melo lembrou três, mas foi Luís Montenegro que fez os anúncio de importantes medidas que a AD quer implementar.

Leia aqui todas as promessas da Aliança Democrática

Para a saúde, assumiu oito compromissos, entre eles um “plano de emergência” a ser implementado nos primeiros 60 dias de Governo. Vai contar, por exemplo, com um “voucher de consulta e cirurgia” para recorrer ao privado sempre que um utente esperar mais do que uma hora do limite que será definido, mas também a promessa de enfermeiro e médico de família “a todos os utentes” até ao final de 2025.

Para a educação, Montenegro fez quatro promessas, incluindo o acesso gratuito à creche e ao pré-escolar e a reposição integral do tempo dos professores. Para além disso, quer introduzir a avaliação no final de cada ciclo de aprendizagem e prometeu uma escola com “menos burocracia e apta para receber estudantes estrangeiros”.

Discurso de Luís Montenegro fechou a convenção da AD (António Pedro Santos/Lusa)

Relativamente à valorização de salários e à melhoria das condições para as empresas, Montenegro lançou a promessa de isentar as contribuições em impostos sobre prémios de desempenho até ao limite de um vencimento mensal. “Será um 15.º mês não tributado, que representa a ideia de que vale a pena fazer mais e melhor e que o mérito é premiado”. Antes, Nuno Melo, líder do CDS, já se tinha comprometido a "reduzir o IRS em todos os escalões", à exceção do último, e a "reduzir o IRC em dois pontos por ano até aos 15% até ao final da legislatura". Se a AD for governo, garantiu ainda, os jovens "pagarão uma taxa máxima de 15% de IRS até aos 35 anos e ficarão isentos do pagamento do IMT na compra da primeira habitação".

Com as forças de segurança, o líder do PSD comprometeu-se a encetar negociações com representantes sindicais “projetar com serviço de responsabilidade” o estatuto remuneratório e a valorização da carreira. Remeteu valores para mais tarde.

No que toca aos jovens, assumiu três pactos: descer a taxa de IRS para um “máximo de 15%” para quem tenha menos de 35 anos; isentar de IMT e imposto de selo a compra da primeira habitação e ainda o “financiamento bancário de 100% do valor de aquisição” na primeira casa.

Já para os idosos, traçou quatro compromissos. Entre eles está o aumento do valor de referência do complemento solidário para idosos (CSI) para 820 euros “numa primeira legislatura”. Já numa segunda legislatura o CSI proposto por Montenegro seria “igual ao salário mínimo nacional”.
 

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