O campo de batalha eleitoral do Tik Tok: “Nunca vão apanhar Nuno Melo nem Montenegro a fazer dancinhas como Ventura, graças a Deus”

21 jan, 18:45
Convenção

Na Convenção da Aliança Democrática este domingo, membros das juventudes do CDS e do PSD admitem que há um problema de identificação nas redes sociais que tem levado a perder terreno para o Chega. Querem "viralizar" Melo e Montenegro, mas não a todo o custo. “O caminho não é fazermos palhaçadas, é sermos arrojados, como o Carlos Moedas, quando anda de bicicleta"

Ao mesmo tempo que Nuno Melo agravava a voz com promessas eleitorais, atirava-se contra André Ventura e era aplaudido no Centro de Congressos do Estoril, na audiência, dois jovens não tiravam os olhos do telemóvel. Colados à rede social Instagram, escolhiam a cor, o tamanho e a música da frase que seria revelada aos seus 1.291 seguidores. Chamam-se João e Rodrigo, são responsáveis pelas contas da Juventude Popular de Lisboa e têm o sonho de destronar o Chega no “campo de batalha” das redes sociais. Mesmo que isso implique trabalhar enquanto o líder discursa. “As coisas são melhores quando são publicadas no momento, têm a energia daquilo que está a ser visto”.

Numa altura em que o Chega tem registado um crescimento entre os mais jovens, à boleia do Tik Tok e do Instagram, onde André Ventura é o líder político com mais seguidores (177 mil), na convenção da Aliança Democrática este domingo, os jotas do CDS e do PSD que falaram com a CNN Portugal reconhecem que os partidos têm de inovar nas redes sociais, mas de uma forma diferente. “Nunca vão apanhar Nuno Melo nem Luís Montenegro a fazer dancinhas, como André Ventura, Graças a Deus”.

“Chegar aos jovens através disso é engraçado, há miúdos que gostam, mas estamos a falar da governação do país não de uma conta do Tik Tok”, afirma Rodrigo Benitez, de 23 anos, sublinhando que o Chega capitaliza em “publicações de protesto”, já “nós não perdemos tempo com isso, porque se formos pelo mesmo caminho, perdemos a nossa identidade. Preferimos explicar as medidas que a JP defende”.

Rodrigo Benitez (à esquerda) e João Cunha (à direita) são quem cuida das redes sociais da Juventude Popular em Lisboa

João Cunha, que tem 22 anos, e Rodrigo Benitez, conheceram-se pouco depois de se juntarem ao CDS durante a campanha de Assunção Cristas nas autárquicas, em Lisboa. Encontraram um “grupo bem formado”, foram-se aproximando e hoje são grandes amigos. Com a saída do partido da Assembleia da República, em 2021, começaram a olhar para outras opções, mas acabaram por se manter fiéis ao partido.”Foi difícil, fui ver se a Iniciativa Liberal tinha resposta, ou o PSD, mas acabei por preferir manter-me no partido”.

Foi também através da Juventude Popular que os dois começaram a aperceber-se do impacto que um reel, um tiktok - hoje até mais do que um tweet - pode ter numa campanha eleitoral. “O Chega, a Iniciativa Liberal, o Bloco de Esquerda habituaram-se cedo a falar para estas plataformas e isso é algo que a AD tem de começar a fazer”, afirma Rodrigo, acrescentando: "Há algo que nós temos que eles não têm: o CDS e o PSD têm estrutura, concelhias, distritais, não têm pessoas na rua, não têm quem chegue ao resto da população”. 

Segundo dados avançados este ano pelo Observatório da Comunicação, é André Ventura que lidera o ranking dos líderes políticos mais seguidos no Tik Tok,  vindo logo depois Rita Matias, do mesmo partido. E só depois surge Carlos Moedas, do PSD. Um terceiro lugar que é visto por João como um exemplo para aquilo que deve ser a estratégia da AD em tempos de campanha.  “O caminho não é fazermos palhaçadas, é sermos arrojados, como o Carlos Moedas, quando anda de bicicleta ao som de músicas engraçadas”, diz, apontando para as campanhas que o autarca tem feito para promover o serviço de bicicletas partilhadas da capital.

Simão Madeira, 22 anos militante da JSD, diz que é o “primeiro crítico” da forma como o partido tem comunicado no Instagram e no Tik Tok. “Acho que está atrás daquilo que poderia estar” e, sublinha, há estratégias de que o Chega beneficia nas redes sociais que podem ser o trunfo da AD nas próximas eleições. “Nós vemos que o Chega tem milhares de contas não oficiais que compartilham constantemente conteúdos de André Ventura e o PSD, que poderia fazer o mesmo, acaba por ter uma estratégia muito atrasada”, admite o jovem universitário, acrescentando que as contas oficiais do PSD e do CDS “fazem lembrar os tempos do Portugal à Frente”. 

Simão Madeira (esquerda) e Diogo Ralo (direita) são militantes da Juventude Social-Democrata

“Quando isso mudar”, aponta, “não tenho dúvidas que os resultados eleitorais vão melhorar rapidamente”. “Espero que agora nesta campanha se consiga modernizar a comunicação do PSD e finalmente dar um passo à frente em vez de se dar dois atrás”, concretiza.

Ao lado de Simão, está Diogo Ralo, que tem a mesma idade e identifica os mesmos problemas. “Acho que é preciso modernizar e, acima de tudo, perceber que a estratégia que se tem tido ultimamente já não chega, é preciso ir um bocadinho mais além disso e perceber que os tempos são outros, as mentalidades são outras, os hábitos são outros e, portanto, é preciso usar outros métodos para alcançar as pessoas”, afirma.

Simão e Diogo dizem, por isso, que é preciso “de certa forma viralizar” o líder do PSD, desde que isso não lhe cause má publicidade. “Uma ideia para isso, seria pegar em todas as propostas que o Chega fez na última convenção e ter Luís Montenegro a explicar o porquê de elas serem absolutamente impossíveis e indiscutíveis”. Depois, “fazer o mesmo com as medidas que correram mal do PS” e “explicar como podemos fazer as coisas de forma diferente”.

Rodrigo Benitez tem uma ideia diferente, abrir a criação de conteúdos às personalidades mais mediáticas ligadas à AD e que este domingo passaram pela Convenção no Centro de Congressos do Estoril. “Eles têm André Ventura a colar cartazes, nós temos experiência e credibilidade que mostraram hoje que ainda têm muito para dar, como Cecília Meireles e Paulo Portas”. 

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