Casais devem criar conta bancária conjunta? Tudo o que precisa de saber antes de decidir

20 ago 2023, 15:00
Casal (Ketut Subiyanto/Pexels)

Muitos casais ponderam criar uma conta em conjunto, mas será que vale a pena? Se quer ter as respostas para as suas inquietações, então este artigo é para si

Consciente de que “temas financeiros podem trazer sérios problemas ao casal”, João Morais Barbosa, diretor da consultora Reorganiza, partilhou com a CNN Portugal dicas para criar a conta bancária com o seu cônjuge com mais chances de sucesso. 

Antes de criar a conta, o que é preciso saber? 

São duas as palavras-chaves que deve manter em mente se quer criar oportunidades, prevenir e resolver conflitos na criação e gestão de uma conta partilhada - o diálogo e a confiança. 

O especialista considera que a postura face ao dinheiro deve ser bem conhecida “antes de abrir uma conta em conjunto”. Se no casal coexistirem duas dinâmicas diferentes, isto é, um membro consumista, que “se tiver dinheiro na conta, vai gastar” e outro que seja poupado, pode interferir na boa gestão financeira da família, aponta João Morais Barbosa. 

Para evitar esses constrangimentos, “é importante que se saiba a verdade e sejam definidas estratégias para garantir o sucesso financeiro do casal”, devendo ser debatidos os objetivos comuns e pessoais, tendo sempre por base o “respeito mútuo”, afirma o especialista. 

Importa realçar a importância do "total conhecimento acerca das dívidas do parceiro", visto que se um dos membros estiver endividado, “o banco pode penhorar a conta do casal”, alerta o gestor. De acordo com a Deco Proteste, "será penhorado 50% do total depositado". Muitas vezes, este tema é negligenciado, não só antes de abrir uma conta em conjunto, mas até antes de solicitar um empréstimo para a habitação, conta o mesmo responsável. 

Por isso, o gestor salienta a importância de verificar, em conjunto, os mapas de créditos dos membros do casal, onde consta a informação detalhada acerca das dívidas. Estes dados podem ser encontrados no site do Banco de Portugal.

Receita para o sucesso 

“A confiança e o diálogo” são os pilares para gerir com sucesso uma conta em conjunto, reforça o gestor. “É preciso ouvir todos os envolvidos no projeto e deve fazer sentido para cada membro do casal”, acrescenta. Este processo é vital por permitir evitar desentendimentos entre o casal no futuro, justifica. 

Além disso, é essencial dedicar “um dia por mês” ao que o especialista denominou como: “o dia de gestão do orçamento familiar”. Nesse dia, o casal define objetivos financeiros comuns e debate acerca do estado dos anteriores. De acordo com o especialista, este processo é importante, uma vez que a conta “torna-se num projeto comum, e sendo comum, os sacrifícios têm um propósito e uma vantagem - o bem da família”. 

O gestor considera que é imprescindível definir uma estratégia para poupar e aconselha os casais a "decidirem um montante que seja confortável para todos", e uma vez acordado o valor, ativa-se uma "transferência automatizada para uma conta poupança". Mas atenção! Programe a transferência para o início do mês, já que é provável “no fim do mês já não haver dinheiro”, alerta.

Mas a conta bancária individual, marcada de privacidade e espontaneidade, deve ser preservada, sendo até importante para garantir uma boa gestão do património. Assim o gestor aconselha que as contas individuais sejam mantidas para gastos pessoais e privados.

Qual é o destino dos fundos depositados?

 
Pexels

Ainda não existe uma resposta única que seja adequada para todos os casais. Mas, na maioria das vezes, a conta serve para "a gestão do dia a dia e para a gestão dos objetivos financeiros do casal", indica o diretor. 

De acordo com o especialista, nesta conta deve constar o montante necessário para “fazer face às despesas mensais, como a alimentação, o pagamento da casa, da luz e da eletricidade”. 

Assim como, uma vez tratar-se de “um projeto de vida”, será nesta conta que serão depositados, após acordo entre o casal, os montantes necessários para alcançar “objetivos financeiros, como o crédito à habitação, e os objetivos comuns de poupança”, afirma. 

Quais são as vantagens? 

Em primeiro lugar, a criação de uma conta coletiva cria a "oportunidade de abrir diálogo em torno de projetos financeiros", evidencia o gestor. 

Consequentemente, a centralização dos rendimentos, aliada à boa gestão do quotidiano, permite "centralizar a gestão do dinheiro extra para poupanças e investimento".

Existem desvantagens? 

Estas também existem e ficarão mais propícias de surgir se não existir confiança e abertura entre os membros do casal, salienta o especialista. Visto que pode abrir “espaço para desconfiança”. Que se poderá traduzir em dúvidas regulares acerca dos gastos realizados por parte de um ou dos mais titulares. 

De acordo com o especialista, corre-se o risco de “perder a privacidade e a espontaneidade” individual. Há casos de pessoas que recorrem à conta bancária de amigos para fazer surpresas ao parceiro, caso contrário, este havia de saber o valor de compra do produto, e existem até casais onde as questões acerca de gastos tornam-se parte do quotidiano, confessa. 

Importa salientar que caso um dos titulares movimente o património sem autorização do outro, em caso da conta coletiva solidária, “não existe forma do lesado recorrer, uma vez que o dinheiro é dos dois”, explica o especialista. 

As dívidas constituem outro perigo. Caso o casal tenha uma conta conjunta e um dos titulares tenha acumulado dívidas, “o banco pode penhorar aquela conta”, diz o especialista, tendo a autoridade de penhorar metade do total depositado, expõe a Deco Proteste. Daí Barbosa reforçar que “dívidas e créditos” são tópicos de grande importância que devem ser “muito bem ponderados em família”. 

Quais são os erros mais cometidos pelos casais?

Muitos casais cometem, principalmente, dois erros: "a não definição das regras e a ausência de diálogo acerca da interpretação dos movimentos bancários", responde prontamente Barbosa. 

Isto é, muitos casais avançam para a formalização de uma conta coletiva antes de definirem regras que ditem o destino do capital conjunto, quer este seja para as despesas, investimentos ou poupanças, alerta Barbosa. 

O especialista acrescenta que não definir um dia do mês para dedicar às finanças da família é também um dos erros cometidos pelos casais. 

Adicionalmente, a inexistência de “diálogo acerca da interpretação que fazem dos movimentos da conta, pode levar à invasão de privacidade do outro” e até gastos realizados sem acordo prévio, continua João Barbosa.

Ter uma conta conjunta facilita o acesso ao crédito para a habitação?

“Não tem qualquer impacto”, afirma o gestor. “O banco apenas irá analisar aquela conta bancária para perceber o perfil de consumo daquela família, se tem despesas que possam não fazer muito sentido, para avaliar o risco”, acrescenta. 

Que opções temos em cima da mesa? 

Recorrendo à Deco Proteste, a CNN Portugal, dá-lhe conta dos tipos de contas coletivas que tem ao seu dispor, nomeadamente: 

  • Conta conjunta: “para qualquer operação é necessária a assinatura de todos os titulares”;
  • Conta solidária: “qualquer um dos titulares pode movimentar a conta, sem necessidade de informar ou de pedir autorização aos restantes”
  • Conta mista: é possível dar a autorização a apenas um dos titulares para movimentar a conta;

De acordo com João Barbosa, “não existe uma solução única” quanto ao tipo de conta bancária coletiva que o casal deve criar em conjunto. Ainda assim, refere que contas que não permitem a movimentação de capitais, exceto se for fornecida a autorização ao banco, revela alguma falta de confiança entre o casal.

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