Não é por preguiça que adia fazer coisas. É por causa disto

CNN , Kristen Rogers
28 jan 2023, 16:00
Não dormir o suficiente pode prejudicar o seu sistema imunitário e desencadear inflamações (CNN)

Adiar, demorar ou postergar - sinónimos de procrastinar - por ter razões específicas. Identificar a mentalidade na raiz da sua procrastinação é o primeiro passo para quebrar o hábito

Se se sente paralisado no que parece ser um ciclo interminável de procrastinação, culpa e caos, pode estar a pensar: “porque sou tão preguiçoso?” ou “porque não me consigo recompor?”

Mas apesar da perceção comum, a preguiça, normalmente, não é a razão por detrás da procrastinação, explica Jenny Yip, psicóloga clínica e diretora executiva do Centro de Pequenos Pensadores, em Los Angeles, EUA, que ajuda crianças a enfrentar desafios académicos. “Ter preguiça é como: ‘Não tenho absolutamente nenhum desejo de sequer pensar nisto'. A procrastinação é: 'Incomoda-me pensar nisto. E por isso, é-me difícil conseguir fazê-lo’. É uma grande diferença."

Saber por que razão procrastina e aprender a combatê-lo são as únicas formas de mudar o seu comportamento, de acordo com os especialistas. A psicóloga Linda Sapadin procurou ajudar neste esforço de autoaperfeiçoamento com o seu livro “How to Beat Procrastination in the Digital Age” [à letra, “Como vencer a procrastinação na Era Digital”].

Pode passar a ser o perfecionista, o sonhador, o preocupado ou o desafiador - estes são estilos de procrastinação que Sapadin enumera no seu livro.

Embora estes tipos de procrastinação não sejam resultado de diagnósticos específicos, e não sejam apoiados pela investigação, “são tipos psicológicos ou razões pelas quais alguém pode procrastinar”, diz Yip, que é também professora assistente clínica de psiquiatria na Escola de Medicina de Keck, da Universidade do Sul da Califórnia.

A procrastinação pode ter consequências práticas, tais como ficar para trás no trabalho, não conseguir atingir objetivos pessoais ou cumprir tarefas como compras de mercearia ou enviar uma carta. Mas há também impactos emocionais ou mentais. A procrastinação tem sido associada à depressão, ansiedade e stress, sono deficiente, atividade física inadequada, solidão e dificuldades económicas, de acordo com um estudo de janeiro com mais de 3.500 estudantes universitários.

“Particularmente na América, onde tanto do valor está ligado ao que se faz, como se trabalha, o que se produz – uma pessoa pode sentir vergonha se não conseguirmos fazer o que é suposto”, analisa Vara Saripalli, psicóloga clínica baseada em Chicago. “Pode deixar as pessoas a sentirem-se derrotadas e a sentir que não vale a pena tentar.”

Saber porque se procrastina pode fazer com que tenha consciência de si próprio, mas ainda requere estratégias para quebrar o hábito. “Caso contrário, vamos continuar a repetir as coisas”, diz Saripalli. “A estratégia que vai empregar para vencer a procrastinação vai mudar com base no propósito que a procrastinação lhe está a servir.”

Eis como explorar que tipo de procrastinador poderá ser – embora, lembre-se que poderá incorporar mais do que um tipo de caraterísticas.

O perfecionista e o preocupado

Um procrastinador é normalmente um perfecionista, alerta Jenny Yip.

“Porque o perfecionista precisa das coisas feitas na perfeição – com todos os pontos nos is -, precisa de um esforço insuperável. E se não tiver um plano sobre como completar uma tarefa, então o perfecionista perder-se-á”.

Os perfecionistas tendem a ser indecisos e dependentes de outros para aconselhamento ou tranquilização antes de tomarem a iniciativa. Têm também uma grande resistência à mudança, preferindo a segurança daquilo que já conhecem.

Tanto os perfecionistas como os preocupados podem adiar as tarefas iniciais devido a um medo de fracasso ou de crítica, explica Itamar Shatz, investigador da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e criador do website "Solving Procrastination" [à letra, “resolvendo a procrastinação”].

Desafie essas crenças e o seu comportamento, reconhecendo que os padrões perfecionistas são irrealistas, recomenda Shatz. “Substitua-os por padrões que sejam suficientemente bons, ao mesmo tempo que se dá autorização para cometer alguns erros”, acrescenta.

Evite pensamentos de tudo-ou-nada e dê a si próprio um limite de tempo para completar uma tarefa. (E depois mantenha esse limite de tempo - não desista se não o cumprir.)

O sonhador

Um procrastinador sonhador não gosta dos detalhes logísticos mais finos, que são muitas vezes necessários para a realização de projetos, detalha Saripalli. “Eles gostam de ter ideias”, acrescentou. “Esse material é divertido. É um pouco difícil ou aborrecido depois executar essas visões.”

Os sonhadores podem também pensar em si próprios como pessoas para quem o destino irá intervir, fazendo com que o trabalho árduo pró-ativo e a eficiência pareçam desnecessários.

E, como um perfecionista, um sonhador pode sempre querer algo melhor, diz Yip.

Treine-se para diferenciar entre sonhos e objetivos, e abordar objetivos com seis perguntas: o quê, quando, onde, quem, porquê e como. Mude “em breve” ou “um dia” para horários específicos. Escreva os seus planos numa linha temporal, especificando cada passo.

O desafiante

As pessoas com procrastinação desafiadora tendem a ver a vida em termos do que os outros esperam ou exigem que façam, não do que eles próprios querem. Este pessimismo diminui a sua motivação para completar tarefas.

Se tiver esta mentalidade, encontre formas positivas de se sentir no controlo, diz Shatz. Esforce-se por agir em vez de reagir e tente trabalhar com uma equipa ou supervisor, e não contra eles.

“Se alguma coisa não estiver bem consigo, em vez de ser passivo-agressivo, reconheça o que está e o que não está a funcionar e depois tenha uma conversa com quem lhe está a dar esta tarefa”, recomenda Yip. “Os desafiadores normalmente não se sentem equipados para ter estas conversas com quem veem como figuras de autoridade, ou não acreditam que ter as conversas lhes traria qualquer benefício ou resultado positivo. Isso não é necessariamente verdade.”

Mudar não é fácil

Tal como trabalhar sobre a ansiedade ou outras questões de saúde mental, lidar com a procrastinação pode ser difícil, especialmente se provém de questões profundamente enraizadas, diz Shatz.

Para algumas pessoas que procrastinam, “o seu sentido de si é tão frágil que a ideia de fazer alguma coisa e falhar os levaria à completa inutilidade", analisa Sean Grover, psicoterapeuta com sede em Nova Iorque especializado em terapia de grupo.

Em tais casos, “considere contactar um profissional, como um psicólogo, que possa ser capaz de o ajudar”, sugere Shatz.

“A visualização funciona”, diz Yip. “Se conseguir visualizar-se a si próprio a completar uma tarefa, então ela torna-se mais realizável, porque fica com uma ideia de que pode ser feito.”

No fim de contas, a forma como aborda a vida é “tudo sobre o seu sistema de crenças”, diz Yip. “Se acredita que pode, pode. Se acredita que não pode, não pode. Por isso, no que quer que acredite, está certo.”

 

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