Guia para poupar mais de cem euros por mês e aprender a organizar melhor o seu dinheiro

15 fev 2022, 10:00
Dinheiro (Getty Images)

Se comer em casa, pode poupar pelo menos cem euros por mês, mas há muitas outras dicas para organizar as suas finanças pessoais e poupar bem mais até ao fim do ano

Com os saldos a chegarem ao fim, pode ser a altura certa para começar a definir metas e objetivos de poupança para o resto do ano.

Para o economista Pedro Braz Teixeira, só se consegue poupar a partir do salário médio em Portugal, que é de 900 euros. “Não me atrevo a dar dicas de poupança a quem recebe o salário mínimo”, diz Braz Teixeira, por considerar que não é possível poupar quando o dinheiro não chega sequer para as despesas.

Em Portugal, existem 900 mil pessoas receber o salário mínimo nacional ao fim do mês. Desde 2013, mais que duplicou o número.

O valor fixa-se desde janeiro deste ano nos 705 euros. As mulheres têm uma remuneração média mais baixa dos que os homens, sendo que 27% recebe o ordenado mínimo nacional, face a 22,6% dos homens.

Por idade, 34% dos jovens com menos de 25 anos recebe o salário mínimo, proporção que desce para os 26% nos trabalhadores entre os 25 e os 29 anos.

Não serão essas as famílias que conseguem poupar.

De acordo com os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística (INE), no ano de 2020 as famílias portuguesas pouparam um total de 18.706,3 milhões de euros brutos. Em janeiro de 2022, as famílias portuguesas conseguiram poupar 15,1%, menos cinco décimas que em dezembro de 2021 (15,6%), segundo dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

1. Ter uma conta poupança

A primeira regra deve ser cumprida logo após receber o seu salário: retirar um montante assim que receber o ordenado ou pagar os encargos fixos, como o empréstimo da casa, do carro, contas.

“Sugiro criar uma conta poupança onde coloque o dinheiro mal receba o ordenado. É mais fácil poupar dinheiro assim do que estar constantemente a tentar resistir à tentação. É como se aquele dinheiro não existisse. Gere a sua vida de acordo com o dinheiro que fica, a ideia é não mexer no outro”, aconselha Pedro Braz Teixeira à CNN Portugal, especialista em economia e finanças pessoais.

2. Definir um montante

As contas-poupança dos bancos não têm normalmente encargos, mas podem requerer alguma cativação permanente. Por exemplo, na Caixa Geral de Depósitos, é muito fácil transferir, através da app, uma quantia mensal para a conta-poupança, ou até criar várias contas-poupança, mas quando se pretende usar os montantes destas contas, há uma pequena quantia que tem de permanecer na conta. Terá de entrar em contacto com o seu gestor de conta para reaver esse montante, caso o pretenda usar e encerrar a conta-poupança. Noutros bancos passa-se mais ou menos o mesmo.

A parte difícil será sempre definir um valor para a poupança ao início do mês. Por um lado, dependerá do número de pessoas do agregado familiar, das despesas, das necessidades e também das prioridades de cada família.

Uma coisa é certa, “se a família tem muitos encargos, fica mais difícil poupar muito”, mas há também que ter em conta o que motiva a poupança. Para Braz Teixeira, é mais fácil poupar com um objetivo do que "poupar de forma genérica".

Quando não há uma motivação, as poupanças são como as dietas, torna-se mais fácil dizer que "fica para amanhã", indicou o especialista. Sem um objetivo concreto as pessoas estão a preparar-se para uma "eventualidade sem data marcada", o que leva a que não haja tanta preocupação.

Uma solução para colmatar esse problema é, mesmo se não tiver um objetivo concreto para poupar, tentar reduzir o tempo de pagamento de eventuais créditos, como o da habitação. Se tem um crédito a 20 anos, pode tentar poupar para que este seja reduzido para 15, por exemplo. É possível aproveitar a folga financeira para conseguir pagar a casa mais depressa. 

Poupar em alimentação também pode ser mais fácil do que parece, com alguma disciplina. Ter uma lista de compras bem definida antes de ir ao supermercado, comparar preços e aproveitar promoções são boas ferramentas, mas a melhor poupança ainda está em optar por cozinhar em casa.

O economista explica como se pode, com pouco esforço, cozinhar em casa permite poupar logo pelo menos 100 euros mensais. “Quando vai trabalhar, partindo do pressuposto que uma refeição em casa fica por dois euros e num restaurante a sete euros, são cinco euros de diferença durante cerca de 20 dias. Isto representa uma poupança de 100 euros por mês”, exemplificou.

Evitar o desperdício alimentar é também uma forma de poupar. É preciso ter cuidado nas quantidades a cozinhar, quando se trata de fazer refeições em casa e também perder o pudor de pedir os restos quando come uma refeição no restaurante”, aconselhou.

Outra dica é a partilha do transporte. Apesar de vivermos um momento pandémico, Braz Teixeira aconselha a que se torne um hábito que partilhe transporte de forma consistente. Seja com amigos ou vizinhos, esta dica ajuda a carteira e o ambiente. 

As taxas de juro também vão subir e, com elas, as prestações das casas. Quanto mais depressa pagar o empréstimo, melhor. Aliás, o economista aconselha que ainda antes de haver um aumento das taxas de juro, se habitue desde já a colocar dinheiro de parte para esse "extra".

3. Definir um objetivo

O primeiro objetivo da poupança deverá ser "construir" um fundo de emergência, "uma almofada financeira" para usar em situações em que o agregado familiar perca parte ou a totalidade do rendimento e só depois ter outro tipo de objetivos como viajar ou comprar um carro, por exemplo. No entanto, o economista Braz Teixeira defende a importância de ter sempre em mente objetivos concretos para que seja mais fácil manter o foco no momento de poupar. 

“Se houver um objetivo concreto é mais fácil. Se quiser mudar de casa ou comprar um automóvel, sabe que tem que arranjar determinada quantia de dinheiro e quanto mais poupar, mais depressa vai conseguir”, explica.

A almofada financeira deve corresponder a, pelo menos, seis salários que vá permitir que, a qualquer momento consiga enfrentar imprevistos evitando recorrer a soluções como os créditos.

Para além deste fundo de emergência, o ideal é mal comece a trabalhar, subscrever um Plano Poupança Reforma (PPR), ainda que inicialmente com quantias mais pequenas. Esta é uma maneira de poupar a longo prazo e conseguir aplicar os investimentos em produtos potencialmente mais rentáveis. 

 4. Evite os cartões de crédito

Eliminar cartões de crédito ou nem chegar a aderir é outra sugestão do economista. Braz Teixeira explica que o recurso ao uso de cartões de crédito deve ser evitado, a menos que o consiga "pagar" a 100%, isto é, caso seja possível que nunca fique a dever nada por causa das taxas de juro aplicadas.

“São uma loucura. Uma forma de não ter dívidas é evitar este tipo de créditos”, disse, reforçando que é melhor esperar mais tempo e poupar para o que quer, do que recorrer a créditos ao consumo.

Apesar deste conselho, caso tenha cartões de crédito, tente conciliar o dia de pagamento com as suas necessidades. As prestações dos créditos têm um dia fixo no mês para ser retirado o dinheiro. Acontece que, por vezes, esse dia é distante daquele em que recebe o seu vencimento e pode mesmo implicar não conseguir pagá-lo, em meses de maior aperto. Isto irá levá-lo à situação que todos os especialistas desaconselham: juros e penalizações aplicadas.

Nestes casos deve, por isso, renegociar com o seu banco a alteração da data de pagamento, aproximando-a o mais possível do dia em que recebe o seu ordenado.

5. Poupar nas despesas fixas

Investir nas poupanças domésticas é uma estratégia ganha, de acordo com o economista. A fórmula parece ser simples: perceber onde é necessário mudar hábitos para poupar mais algum dinheiro.

Pedro Braz Teixeira acredita que a poupança não estará em correr de um lado para o outro a desligar as luzes de casa, mas sim a apostar em medidas que constituam "grandes poupanças" na fatura energética.

Durante estes meses mais frios de inverno as contas do gás disparam e é aí que deve "investir", para poupar. “É uma barbaridade a fatura no inverno. Os aquecimentos são fatais para a conta de eletricidade”, disse, explicando que é essencial aproveitar políticas públicas para favorecer a climatização dos espaços, como mudar as caixilharias das janelas, por exemplo.

Um bom isolamento dos espaços vai representar uma poupança muito significativa porque esse investimento fará com que seja desnecessário o recurso a soluções de conforto que pesam na conta da luz.

A despesa da água também pode diminuir com alguns pequenos ajustes no dia a dia. Fechar a torneira enquanto lava os dentes e optar por tomar duche em vez de um banho de imersão são pequenas mudanças diárias, mas que fazem a diferença na fatura do fim do mês. Por exemplo, considerando uma família de quatro pessoas, um duche diário de 10 minutos pode implicar um gasto até 33.600 litros de água por mês, dependendo da eficiência do chuveiro.

Também as torneiras e autoclismos que pingam acarretam um desperdício de água e consequentemente um aumento na fatura. Se tem máquina de lavar a loiça, só deve pôr a funcionar só quando estiver cheia e optar pelos programas menos longos.

Os contratos do telefone e da Internet também podem conduzir a poupanças. Pode tratar-se de mudar de operador ou tentar renegociar o pacote que está a subscrever. O número de canais; os pacotes de dados ou as promoções da concorrência são fatores a ter em conta.

Outra coisa a ter em atenção são as subscrições que são pagas através de um cartão de crédito ou por débito direto através do seu número de telemóvel. Às vezes nem as usa, mas mensalmente são debitadas.

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