Pedro Nuno Santos assume culpas e muita vontade de "fazer" neste "novo ciclo": o "vazio" da direita está cheio de "antigos e ultrapassados velhos do Restelo"

6 jan, 14:08

Sem gravata no primeiro discurso do Congresso. Vestido de camisola negra, Pedro Nuno Santos procurou afirmar-se como um fazedor. Vincou a ideia: ele só errou e foi criticado porque fez, ao contrário da oposição onde reina o “vazio”. Ainda há muito para resolver, admite, mas é o PS quem está melhor posicionado para esse trabalho. Para a direita não faltam críticas: um “projeto amarelecido”, cheio de “velhos do Restelo”, que procura apagar a governação dos tempos da troika

Pedro Nuno Santos, novo secretário-geral do PS, desafiou-se este sábado a “abrir um novo ciclo no país”, admitindo que apesar do trabalho feito existem muitos problemas que “ainda persistem em Portugal”. À direita, e ao PSD de Luís Montenegro, não poupou nas críticas: um projeto “vazio”, sem “confiança”, que foi ao “baú recuperar um projeto amarelecido pela antiguidade de mais de 40 anos” para tentar “fazer esquecer” a última governação PSD/CDS-PP com Pedro Passos Coelho. 

No 24º Congresso do PS, Pedro Nuno Santos prometeu ainda que irá, no discurso deste domingo, apontar “prioridades e medidas concretas” que farão parte do programa eleitoral do partido. 

“Não escondemos nem ignoramos os problemas que ainda persistem em Portugal”, começou por dizer. Para garantir: “É o PS que está em melhores condições para os continuar a resolver”. 

Nesta primeira intervenção na reunião magna do partido, o novo secretário-geral socialista admitiu também as suas falhas enquanto governante. Tirando uma conclusão: só erra e é criticado quem “faz ou tentar fazer”. 

“Testemunhei, também, que só erra quem faz ou tenta fazer - ao contrário daqueles que nada fazem e nada tentam. Esses, posso garantir-vos, nunca erram. Mas porque nunca erram, nunca aprendem. Nunca melhoram. Nunca evoluem. Nunca progridem”, afirmou. 

Pedro Nuno Santos prepara-se par um “novo ciclo” mas sem esquecer o passado. “Os acontecimentos de novembro último interromperam, infelizmente, um ciclo político de estabilidade e uma governação com provas dadas”, descreveu. 

Daí as palavras de “solidariedade e de reconhecimento” a António Costa”, com quem disse ter-se valorizado, amadurecido e ganhado experiência como político. 

“Se temos motivos para estar orgulhosos do trabalho feito nestes últimos oito anos, também sabemos assumir, com humildade, perante os portugueses, que nem tudo foi bem feito e que há ainda muito trabalho pela frente”, disse. 

Para Pedro Nuno Santos, a gerigonça, “a solução governativa de que muitos duvidaram”, acabou por se revelar “virtuosa”: “virtuosa tanto do ponto de vista da estabilidade, como dos resultados alcançados”. 

Pedro Nuno Santos aproveitou o legado de António Costa também para atacar fortemente a direita. Porque o antecessor “não virou apenas a página da austeridade, escreveu um capítulo novo da nossa democracia”, que “provou como era errada a estratégia do PSD” 

O secretário-geral do PS recordou o “brutal aumento de impostos e corte de pensões” do PSD para trazer o presidente do maior partido da oposição ao discurso, Luís Montenegro: “ainda nos lembrámos bem de quem era o líder parlamentar do PSD nessa altura”. 

“Os portugueses sabem quem é o partido das contas certas. O partido para quem contas certas não significa cortes na certa”, rematou. 

À direita, Pedro Nuno Santos diz faltar “confiança”. “Mostra-se tão envergonhada da sua história recente que, numa tentativa de se unir, teve de ir ao baú recuperar um projeto amarelecido pela antiguidade de mais de 40 anos”, para “fazer esquecer o período em que governaram juntos, entre 2011 e 2015, quando cortaram salários e pensões, fizeram explodir o desemprego e a dívida pública, aumentaram os impostos e privatizaram sem acautelar o interesse público”. 

Mas, mais do que falta de confiança, o que o socialista vê no PSD é “vazio”. “Ninguém conhece o seu projeto para o país. Ao fim de mais de ano e meio sob a liderança de Luís Montenegro, temos o vazio: vazio de projeto, vazio de liderança, vazio de visão, é o vazio de credibilidade, vazio de experiência, e, como todos já percebemos, vazio de decisão”, descreveu. 

Nos alvos estiveram também o Iniciativa Liberal, que “mais parece uma agência de marketing e publicidade, entretida a criar cartazes alegóricos” e a esconder “um projeto de transformação radical da forma como organizamos a nossa vida coletiva”. E o Chega, que “já defendeu tudo e o seu contrário” e “não tem qualquer projeto sério para o país”. 

Pedro Nuno Santos puxou dos galões, do trabalho feito, para se afirmar como um fazedor – mesmo que nessas áreas que tutelava continuem a existir graves problemas. Sim, há atrasos nas obras da ferrovia, “porque há obras em curso”. 

“Sabem porque não nos queixávamos, durante os governos do PSD/CDS, dos atrasos nas obras, camaradas? Era porque não havia obras”, atirou. 

“Parar, recuar, desfazer é e será sempre muito mais fácil do que decidir, avançar, construir. Aqui está a grande linha entre nós e eles: entre os que decidem, que fazem, que investem no progresso do país e aqueles que nunca passarão de antigos e ultrapassados velhos do Restelo”, resumiu. 

Passou depois para a habitação, área onde foi feito um “investimento sem precedentes” que “não pode produzir resultados no imediato, apesar da urgência do momento”. 

“O PSD e o CDS, quando tiveram a oportunidade de intervir na habitação, foi para piorar a situação. Veja-se o caso da ‘lei Cristas’, que levou ao despejo de milhares de pessoas das suas habitações”, contrastou. 

Terminou na TAP, que “continua a ser usada como arma de arremesso”, em especial por aqueles que ainda não tornaram claro o que teriam feito em 2020, quando a pandemia de covid-19 afetou fortemente a empresa. “Ou era intervencionada, ou encerrava, tão simples como isto. Houve que decidir e enfrentar, com coragem e determinação, uma situação dramática”, atestou. 

Pedro Nuno Santos mostrou o “orgulho por ter deixado a TAP a dar lucro, assim como a CP”. “As empresas públicas não estão condenadas a ser deficitárias”, rematou, conseguindo um dos aplausos mais fortes da intervenção. 

O primeiro passo para cinco disputas eleitorais 

Pedro Nuno Santos afirmou o 24º Congresso do PS como um congresso “de afirmação e de mobilização”, cumprimentou os rivais internos pelo “contributo para o fortalecimento do PS” e traçou um mandato de secretário-geral marcado por cinco atos eleitorais. 

“Agradeço a confiança depositada em mim. Farei o possível para merecer essa confiança e dar o melhor nestas funções”, disse. 

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