Eventos climáticos extremos empurraram 27 milhões de crianças para a fome e desnutrição em 2022

Agência Lusa , MJC
28 nov 2023, 14:56
Inundações em Madagáscar, janeiro de 2023 (AP)

Os 12 países onde as condições meteorológicas extremas foram a principal causa da fome são Angola, Burundi, Etiópia, Iraque, Quénia, Madagáscar, Malawi, Paquistão, Somália, Tanzânia, Uganda e Zâmbia

Mais de 27 milhões de crianças de países altamente afetados pela crise climática, entre os quais Angola, passaram a sofrer de fome e desnutrição em 2022 por causa de eventos climáticos extremos, um aumento de 135% face a 2021. Os dados foram divulgados esta terça-feira pela organização Save The Children, nas vésperas de mais uma cimeira do clima, a COP28, que decorrerá no Dubai.

A organização Save The Children revela que as crianças representam quase metade dos 57 milhões de pessoas que caíram em situação de crise de insegurança alimentar aguda em 12 países, devido a fenómenos meteorológicos extremos no ano passado.

A análise baseou-se em dados extraídos da escala IPC, ou Classificação Integrada de Segurança Alimentar, um sistema para avaliar situações de emergência em termos de fome em 58 países.

De acordo com os dados divulgados hoje, o número de pessoas que sofre de fome em países onde estes acontecimentos são os principais impulsionadores das crises alimentares quase duplicou em cinco anos, aumentando para 57 milhões em 2022, quando eram cerca de 29 milhões de pessoas em 2018.

A maioria desses países está concentrada na região do Corno de África, e cerca de metade dos 27 milhões de crianças estavam concentradas na Etiópia e na Somália.

Os 12 países onde as condições meteorológicas extremas foram a principal causa da fome são Angola, Burundi, Etiópia, Iraque, Quénia, Madagáscar, Malawi, Paquistão, Somália, Tanzânia, Uganda e Zâmbia.

O comunicado afirma que a Somália está no topo da lista dos mais afetados pela crise climática, onde as recentes fortes chuvas e inundações deixaram cerca de 650 mil pessoas deslocadas – sendo quase metade destas crianças –, impedindo o acesso das famílias a alimentos e assistência médica.

O Paquistão foi outro desses países, após inundações devastadoras num terço do seu território, afetando 33 milhões de pessoas, metade das quais crianças.

Anualmente, os conflitos e os impactos económicos ainda conduzem mais crianças para situações de fome do que as condições meteorológicas extremas, de acordo com a nota da Save The Children.

Segundo a organização, os conflitos foram, aliás, a principal causa da fome para 117 milhões de pessoas em 19 países, no ano passado.

Globalmente, cerca de 774 milhões de crianças – um terço da população infantil mundial – sofrem duplo impacto, o da pobreza e o do elevado risco climático, acrescenta.

Inger Ashing, desta organização, realçou que, “num mundo em que incêndios, inundações, secas e furacões se tornam um terrível novo normal, as crianças de hoje não só enfrentam uma emergência climática, mas também um ambiente de desigualdades acentuadas, onde a fome é um problema indesejável”.

“À medida que estes acontecimentos climáticos se tornam mais frequentes e severos, veremos consequências mais drásticas na vida das crianças. Em 2022, houve mais 135% de crianças do que no ano anterior a serem empurradas para a fome devido a acontecimentos climáticos extremos”, acrescentou.

A Save The Children apela aos líderes mundiais que participem na COP28 para que tomem medidas relativamente à crise climática, reconhecendo as crianças como “agentes-chave da mudança”.

Apelou, também, aos líderes para que abordem “as causas profundas” da insegurança alimentar aguda, tais como o “conflito, desigualdades e falta de sistemas resilientes de saúde, nutrição e proteção social”.

A 28.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28) realiza-se no Dubai, a partir de dia 30.

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