Cogumelos têm uma linguagem com 50 'palavras'. Estudo sugere que podem comunicar uns com os outros

Tom Yun, da CTVNews.ca
16 abr 2022, 16:00
Diferentes variedades de cogumelos crescem em vários substratos na quinta urbana Le Champignon de Bruxelles, nas caves de Cureghem em Bruxelas, quarta-feira, 5 de Fevereiro de 2020 Foto: Virginia Mayo/AP

Estudo recente descobriu que os cogumelos podem comunicar uns com os outros através de padrões e sinais elétricos

O cientista informático Andrew Adamatzky, da Universidade do Oeste de Inglaterra, analisou a atividade elétrica de quatro espécies de fungos e publicou as suas descobertas na quarta-feira passada na revista Royal Society Open Science. Adamatzky descobriu que os picos de atividade elétrica eram utilizados por certos fungos para comunicar e transmitir informação a outros fungos da sua rede.

"Então, nesta última pesquisa, um cientista informático colocou elétrodos em alguns cogumelos em busca de respostas para as questões: ‘Que tipo de sinais ocorrem? E será que os sinais têm algum nível de complexidade?" explica o Especialista em Ciência e Tecnologia do CTV News, Dan Riskin.

Por baixo de cada cogumelo encontram-se hyphae (hifas), estruturas subterrâneas semelhantes a raízes que podem ser comparadas com as células nervosas do sistema nervoso do ser humano. Quando as hifas formam uma rede, designada micélio, esta pode facilitar a comunicação entre os fungos.

"Há toda uma cultura em torno dos cogumelos e eles são, sem dúvida, arquitetos espantosos do nosso mundo natural", afirmou Riskin. "Formam uma enorme rede subterrânea e, de vez em quando, os cogumelos rebentam para se reproduzirem. Mas, na maioria das vezes, mantêm-se escondidos".

O estudo descobriu que os picos nos sinais elétricos gerados pelos fungos se assemelham a uma linguagem. Os picos podem ser agrupados em "palavras" e "frases", e, de acordo com a investigação, os cogumelos podem ter um vocabulário até 50 "palavras".

"Está a surgir um conjunto significativo de provas de que estas hifas enviam diferentes tipos de sinais umas às outras... comunicando sobre onde estão os recursos, onde está o alimento, e talvez ocorram mesmo comunicações muito ativas de cogumelos entre si ", explicou Riskin.

A complexidade da linguagem varia entre as espécies de fungos. Nesta investigação descobriu-se que os fungos de guelras divididas podem gerar as frases mais complexas com o maior número de vocábulos, enquanto outras espécies como os cogumelos enoki e os cogumelos de lagarta têm um léxico muito mais reduzido.

Apesar de o estudo comparar estes sinais elétricos fúngicos a "palavras", Riskin afirmou ser "um passo gigantesco " assumir que os fungos estão, de facto, a usar palavras para comunicar uns com os outros, da mesma forma que fazem os seres humanos.

“Penso que a maioria dos biólogos dirão que isso será ir longe de mais... Mas dito isto, essa complexidade está provavelmente subjacente à comunicação real que acontece entre estes organismos", afirmou. 

"Faz sentido. Eles têm a arquitetura para o fazer, e isso iria beneficiá-los numa perspetiva de seleção natural. Por isso, há certamente muito para descodificar aqui em termos de como estes cogumelos e como estes fungos estão a fazer o que fazem".

Ciência

Mais Ciência

Patrocinados