“Do cidadão comum até às organizações do Estado: estamos todos em risco.” O caso Vodafone mas não só

8 fev 2022, 20:33

Vaidade, dinheiro, maldade: estas são motivações habituais neste tipo de ataques. Mas há motivações de complexidade maior: interesses políticos e "ações de guerra". Uma entrevista CNN Portugal para ler e ver

O ataque informático à Vodafone criou constrangimentos em vários serviços – bancos, INEM, corporações de bombeiros e não só – e expôs fragilidades das infraestruturas portuguesas perante um ciberataque bem coordenado.  Rodrigo Adão Fonseca, especialista em cibersegurança, diz à CNN que o principal motivo – embora não seja o único – deste tipo de ataques costuma ser o financeiro, com os atacantes a procurarem exercer “pressão sobre os prestadores de serviços” de forma a obter uma remuneração. No entanto, sublinha que nem sempre esse é o motivo por trás destes atos.

“Há outros tipos de motivações. Muitas vezes de ordem política, quando alguém que quer chamar atenção para uma determinada causa. Às vezes a motivação também é simples vaidade, com alguém que quer mostrar que tem capacidade de desenvolver essa atividade”, diz Rodrigo Adão da Fonseca.

Outro dos motivos apontados pelo especialista é a motivação geopolítica, quando os Estados utilizam os ciberataques “para pressionar o modo de vida de outros Estados e, dessa forma, conseguirem vantagens negociais”. Sobre se esta poderá ter sido a motivação em causa no ataque à Vodafone, Adão Fonseca diz que existem “poucos elementos” que permitam tirar essa conclusão mas destaca o facto de a empresa se ter referido ao ataque como “terrorista”. “Quem vincula este tipo de mensagem sabe porque o está a fazer.”

“O que temos vindo a registar indicia que podemos estar perante ações de guerra. Pequenas escaramuças que tentam minar o normal funcionamento das instituições. Se há ou não há relação? Poderá ou não haver”, refere.

Mas como acontecem ataques informáticos? Um ataque informático tem como principal alvo alguém ou uma entidade que produz um serviço relevante. E esse ataque é feito “explorando algumas vulnerabilidades que a organização possa ter”, com o atacante a procurar uma falha de um acesso, aplicação ou de uma rede para poder minar o sistema. Rodrigo Adão Fonseca compara a situação a “um ladrão que circunda a nossa casa à procura de uma janela aberta ou de uma chaminé, de forma a poder entrar para poder roubar o que tivermos de valor no interior”.

Para o especialista, o que este ataque demonstra é a vulnerabilidade das infraestruturas portuguesas perante este tipo de ataques, sobretudo quando "até uma empresa de grande dimensão como a Vodafone, que tem muitos cuidados na proteção", é vítima de um golpe desta dimensão. Este ataque é particularmente grave tendo em conta que existem milhares de empresas portuguesas de menor dimensão que não estão tão devidamente preparadas para algo assim. “Do cidadão comum até às organizações do Estado: estamos todos em risco”, garante. “Todo o mundo está numa situação desconfortável. Quando até os EUA – a grande potencia em termos de cibersegurança – admitem que isto é uma ameaça crítica, não podemos dizer que alguém está livre.”

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