"A maior parte das coisas está disponível por um preço". Segredos de um agente de viagens das celebridades

CNN , Francesca Street
30 mar, 16:00
Como são os bastidores de um hotel de luxo?

Chegar a um destino de férias num jato privado, helicóptero ou iate – ou uma combinação das três. Entrar num hotel de cinco estrelas por uma entrada privada – pseudónimo pronto, comitiva a reboque. Fazer check-in numa suite penthouse decorada de acordo com todos os desejos. Jantar e bebidas no restaurante mais badalado de uma cidade.

É assim que as celebridades viajam pelo globo: “de forma perfeita, sem paragens, sem problemas”, como explica o agente de viagens dos ricos e famosos Rob DelliBovi.

Esta facilidade não acontece de forma automática. É o trabalho de DelliBovi garantir um “processo perfeito” – quer esteja a coordenar uma viagem de lazer dos clientes, a organizar uma digressão global de concertos ou a mover celebridades de um destino para outro numa tour publicitária de um filme.

Na sua empresa, a RDB Hospitality, DelliBovi gere uma pequena equipa de 17 agentes de viagem especializados. E tem uma rede de contactos em todo o globo que ajuda a atender a todas as necessidades dos seus clientes – por mais escandalosas que sejam.

“A maioria das coisas está disponível por um preço”, diz DelliBovi à CNN Travel.

Ele está em trânsito quase 24 sobre 24 horas, a monitorizar as viagens dos seus clientes, a telefonar para restaurantes e hotéis, a pedir favores, a apagar incêndios – ou idealmente, a garantir que não há incêndios a precisar de serem apagados.

Os clientes de DelliBovi são grandes nomes com grandes exigências e grandes expectativas. E há muito dinheiro envolvido – pelo que alguma coisa correr mal é inaceitável.

Isto pode ser “stressante”, diz DelliBovi.

Contudo, se acha que coordenar viagens de celebridades também parece divertido, brilhante e intrigante – DelliBovi assegura que não está errado.

“É chamativo e glamoroso”, diz DelliBovi. “É um pouco mais porreiro lidar com clientes de quem ouvimos falar, sobre os quais lemos, que vemos na TV e que escutamos em concertos ou na rádio todos os dias. É mais interessante do que lidar com advogados ou banqueiros.”

E sim, o trabalho-sob-acordos-de-confidencialidade de DelliBovi traz “toneladas de vantagens”.

“É simplesmente divertido estar nesse mundo”, diz DelliBovi. “És convidado para os concertos de toda a gente. Está repleto de vantagens e torna o teu dia-a-dia um bocadinho mais emocionante.”

E mesmo quando “os clientes nos maltratam” ou as exigências parecem demasiado complexas, DelliBovi prospera com a emoção da caça.

“É um trabalho muito, muito stressante, exigente, às vezes ingrato, mas no final de contas, quando fazemos as coisas como deve ser, é a melhor sensação do mundo”, diz.

Espreitar por trás da cortina

DelliBovi lançou-se no ramo hoteleiro no início dos anos 2000, a trabalhar como gerente de vendas de entretenimento para uma série de hotéis de alto nível em Nova Iorque, incluindo o Soho Grand, o Hotel Gansevoort e o grupo Dream Hotel.

Ser gerente de vendas de entretenimento é um emprego “que existe em qualquer cadeia sofisticada de hotéis de luxo do mundo”, explica DelliBovi.

O objetivo desta função é atrair “celebridades, bandas, músicos, atletas – pessoas de qualquer segmento do cinema, da televisão, da música, do desporto” para o seu hotel. Depois, quando estes VIPs fazem check-in, os gerentes de vendas de entretenimento estão à disposição para garantir que têm uma experiência de topo no hotel.

Em troca, o hotel colhe os benefícios: uma pessoa famosa fotografada no seu lobby pode pôr um hotel no mapa, aumentando os pedidos de reservas de outros convidados VIP, fãs e os demais. Se o hotel estiver nas bocas do mundo, isso chega até àqueles que não fazem ideia porque é que se começou a falar do hotel em primeira instância.

Ao trabalhar como gerente de vendas de entretenimento, DelliBovi conseguiu espreitar por trás da cortina, e aprender o que envolve levar celebridades do ponto A ao ponto B. E depressa uma ideia de negócio começou a despontar.

“Estou a lidar com estas pessoas todos os dias, cara a cara nestes hotéis, e se as estivesse a representar, e a reservar-lhes hotéis e voos e restaurantes e tudo para eles, poderia fazer um trabalho melhor”, pensou DelliBovi.

Em 2015, depois de mais de uma década a entrincheirar-se no ramo hoteleiro e no circuito das celebridades, DelliBovi abriu a sua agência de viagens à medida.

DelliBovi diz que o negócio rapidamente “cresceu e cresceu e cresceu de boca em boca”.

Hoje, DelliBovi ainda tem um pé no ramo hoteleiro como consultor, mas a sua agência de viagens tem quase 1.000 clientes. Nem todos são celebridades, mas “na sua maioria são [indivíduos com] elevado património líquido”, com “elevadas exigências”. E é função de DelliBovi assegurar que essas exigências são atendidas enquanto os seus clientes viajam pelo globo.

Voar privado ou comercial

As celebridades viajam regularmente por todo o mundo para cerimónias de entregas de prémios, digressões e férias pessoais.

Muitas destas viagens acontecem via jato privado – um facto que se tornou um tópico muito discutido em anos recentes, à medida que aumentam as conversas sobre as emissões poluentes de jatos com elevados consumos de combustível.

Aqueles que defendem o uso de jatos privados pelas celebridades sugerem que os VIPs do mundo não podem viajar em voos comerciais por questões de segurança.

Mas é absolutamente possível para os famosos viajar em aviões comerciais disfarçados, diz DelliBovi – e muitos fazem-no. Os aeroportos têm serviços de boas-vindas, áreas VIP e procedimentos rígidos para lidar com o trânsito de celebridades.

“As celebridades não precisam de estar na área de espera regular”, diz DelliBovi. “Quem os recebe pode levá-los do lounge ou da área VIP para o avião.”

As caras famosas normalmente embarcam muito depois de os passageiros de classe económica estarem sentados – na verdade, elas geralmente até embarcam “mesmo antes de o avião descolar”. Nessa altura, os passageiros de 1.ª classe com quem vão partilhar a cabina também param para analisar os seus companheiros de viagem. E durante o próprio voo, é improvável que se dê conta dos VIPs – as cabines dos aviões de classe superior, com as suas suites isoladas, foram projetadas tendo a privacidade em mente.

Para além disso, a celebridade que viaja na Singapore Airlines ou na British Airways não vai estar parecida com as suas publicações de Instagram ou aparições na passadeira vermelha. DelliBovi insiste que “não se dá por elas” e diz que costumam equipar-se com “óculos de sol, chapéus e coisas assim”.

Mas apesar de os grandes nomes poderem viajar em comercial de forma incógnita, DelliBovi diz que uma das principais razões pelas quais as celebridades viajam em privado é porque “não querem ser vistas” – e as viagens privadas dão-lhes essa garantia.

Diz que a experiência de viajar num jato privado também traz um certo à-vontade difícil de replicar – “podes descolar e aterrar quando quiseres, há menos procedimentos de segurança e não há multidões”.

Como resultado, DelliBovi diz que “a maioria das grandes celebridades viaja em voos privados” – ainda que existam exceções.

“As pessoas que se esperaria que usassem jatos privados por vezes voam em económica plus na Delta, enquanto outras, em que pensarias ‘Esta pessoa pode pagar um jato privado?’, fazem questão de viajar sempre em privado.”

Assim que o voo aterra, a equipa de DelliBovi tem carros a postos para as transportar. Se necessário, podem ser organizadas escoltas policiais e helicópteros.

Para os VIPs, não há cá esperar por carros presos no trânsito ou táxis que nunca chegam.

“O carro está pronto na pista de aterragem. O talento sai do jato, entra no carro, o carro leva-o para o hotel”, diz DelliBovi.

Hotel 101

Então para que hotel é que vai o carro?

Tudo depende da celebridade e das suas preferências – DelliBovi tem um conhecimento enciclopédico dos melhores hotéis do mundo e se os clientes pedirem recomendações, ele oferece-as – ainda que, na maior parte das vezes, se limite a acomodar os seus pedidos.

“Somos 100% reativos”, diz. “As pessoas ligam-nos e dizem: ‘É isto que queremos. Façam acontecer.’”

Para além disso, quando se trata de reservar alojamento, “não há lei nem rei no que toca a quem quer o quê, ou para onde vai toda a gente”, indica DelliBovi.

“Temos alguns convidados que são extremamente famosos que dizem ‘Pode ser o Hilton’. E depois há algumas pessoas que não são assim tão famosas que dizem ‘Se não ficar numa penthouse no Four Seasons, nem sequer tenho nada para falar contigo’.”

No geral, as marcas hoteleiras de elite mais chamativas – pense-se no Four Seasons, no Ritz, no Mandarin Oriental, no Peninsula – estão sempre nos radares das celebridades.

Mas hotéis-boutique independentes também são atrativos – muitas vezes têm associada uma certa distinção (como arte local, decoração marcante) mas também são compactos.

“São literalmente mais pequenos, portanto mais fáceis de controlar”, diz DelliBovi. “Há um novo hotel em Londres chamado Broadwick que é muito bom para as celebridades.”

O Broadwick Soho tem apenas 57 quartos, o que faz parte do encanto para as caras famosas, de acordo com DelliBovi.

“Podíamos comprar aquele hotel todo”, explica DelliBovi. “E depois somos donos do hotel e mais ninguém pode vir ver-nos ou o que quer que seja.”

Independentemente do tamanho e escala de um hotel, se for um estabelecimento de quatro ou cinco estrelas DelliBovi diz que, normalmente, “têm infraestruturas para proteger os seus hóspedes de renome”.

Pense em entradas privadas, garagens de estacionamento privadas e elevadores privados que levam os hóspedes diretamente para a sua suite. Outros hóspedes do hotel passam a sua estadia inteira sem saber que essas infraestruturas existem.

Os hotéis também atendem as celebridades de outras formas. Tomemos como exemplo as tours de imprensa do cinema, em que os atores ficam sentados no mesmo sítio horas a fio enquanto os jornalistas vão rodando, entrando e saindo do quarto para colocarem as suas questões. Estes eventos costumam ter lugar em hotéis de quatro e cinco estrelas.

Os hotéis de luxo querem esse negócio, diz DelliBovi, e estão preparados para acomodá-lo.

“Eles criam um piso inteiro todo preparado com eletricidade e luzes e tudo o que é necessário para estes encontros com a imprensa quando o edifício começa a ser construído”, diz. “É um grande trunfo ter estes grandes ativos.”

E para o caso de estar a questionar-se, não é um mito que haja celebridades que dão entrada em hotéis sob pseudónimos. Apesar de algumas não se darem ao trabalho (“algumas celebridades dizem ‘Ponha o meu nome verdadeiro e eu atravesso o lobby, sem problema’”, diz DelliBovi), recorrer a nomes falsos é geralmente uma prática comum por motivos de segurança.

DelliBovi diz que se os fãs souberem que um determinado nome está na cidade – quer para participar num evento, para dar um concerto ou para um jogo – podem ligar para os hotéis com semanas de antecedência, na esperança de obterem pedacinhos de informação.

Então como é que DelliBovi se mantém a par dos vários pseudónimos dos seus clientes? Há bases de dados internas, explica, e a sua equipa comunica com os assessores das celebridades por WhatsApp.

Para digressões musicais, confirmar pseudónimos faz parte da discussão alargada e intrincada pré-tour – porque esses pseudónimos muito provavelmente também são usados para reservar carros e jatos.

Pedidos bizarros

Assim que um hotel é reservado, a equipa de DelliBovi trabalha com a gerência para garantir que o quarto escolhido está equipado com tudo o que a celebridade precisa.

“Toda a gente tem o seu tipo de garrafa de água, o que é muito engraçado”, diz DelliBovi. “Para mim, não há diferença entre todas as garrafas de água, mas o que é que eu sei?”

A temperatura também faz muitas vezes parte da conversa – desde a temperatura do quarto, à temperatura da água do banho e da água do duche.

E por vezes os pedidos entram num território mais surreal. DelliBovi fez recentemente manchetes quando apareceu no podcast “Good Listen” do seu amigo Joe Pardavila e revelou que um ex-cliente costumava solicitar que um “cão de porte médio” estivesse à sua espera em cada quarto de hotel.

Era uma “coisa divertida e inofensiva – o tipo brincava com o cão umas duas horas”, diz DelliBovi. Ainda assim, isto era muitas vezes complexo de orquestrar. Em cada destino, a equipa de DelliBovi tinha de encontrar um cão de tamanho apropriado e bem comportado. Geralmente começavam pelos funcionários do hotel, oferecendo aos donos dos cães dinheiro ou bilhetes para concertos em troca do favor.

No extremo menos saudável do espectro, DelliBovi recebe pedidos por “muitas coisas ilegais”.

“Fico demasiado assustado de me envolver nesse tipo de coisas”, diz.

Mas face a qualquer solicitação de um cliente “dentro da legalidade”, DelliBovi trabalha para a tornar realidade. E após todos estes anos está “imune ao absurdo”.

Já lhe foi dito “queijo é a minha comida favorita” e pedido que “criasse uma tábua de queijos com um metro de comprimento”. Já teve de separar vários sacos de M&Ms por cores, um pedido comum entre músicos (“Esse é um daqueles que costuma acontecer a cada evento”, diz. “Algumas pessoas poderiam dizer que é só para se meterem connosco.”)

Um cliente que “não gosta de fazer a mala com a roupa” quer “nova roupa interior e meias e camisolas e tudo” à sua espera em cada quarto de hotel.

“Roupa nova é comprada em cada cidade”, explica DelliBovi.

DelliBovi também consegue aos clientes lugares na primeira fila em jogos desportivos. Consegue reservas em restaurantes com semanas de antecedência – por exemplo no Polo Bar ou no Carbone em Nova Iorque, ou no Dishoom e no Chiltern Firehouse em Londres.

Por vezes, as celebridades querem ir a um restaurante para serem vistas, outras vezes querem “uma pequena mesa no canto, para que ninguém as veja”.

Qualquer que seja o pedido, DelliBovi telefona para gerentes, assessores e especialistas locais, e negoceia com eles, “dando um bocadinho para receber um bocadinho”. Oferece-se para enviar os clientes a um restaurante durante um período de menor movimentação se conseguirem assegurar-lhe uma mesa tipicamente impossível de reservar para um sábado à noite.

Em alguns casos, os seus pedidos recebem um sim automático.

“Temos nomes enormes de lista A em que, se ligarmos e dissermos quem é, conseguimos a reserva – eles querem essa pessoa no seu restaurante”, diz DelliBovi.

Poder-se-ia assumir que as refeições e bebidas das celebridades são oferecidas como cortesia, mas DelliBovi diz que a crença de que as pessoas famosas “nunca querem pagar por nada e querem ter tudo à borla” é um mito.

“Estas pessoas estão a gastar enormes quantidades de dinheiro”, diz, e muitas vezes estão também envolvidas grandes gorjetas na conta final.

Mas mesmo com grandes preços em jogo, por vezes assegurar uma reserva simplesmente não é possível – se o restaurante estiver totalmente reservado para um evento privado, por exemplo, não há nada que DelliBovi consiga fazer.

É aí que a sua rede de especialistas espalhada pelo globo se torna essencial.

“Eu não sei o que se está a passar em Melbourne, na Austrália – já lá estive, mas não conheço o mercado. Mas temos pessoas no terreno lá”, diz DelliBovi.

Estas “pessoas no terreno” são agentes de viagens como ele, concierges de hotel, assessores de celebridades e gerentes de restaurantes.

E às vezes estes contactos ajudam DelliBovi em troca de futuros favores – sabem que ele os ajudará noutra ocasião. Noutras vezes, oferece bilhetes para concertos ou convites para a estreia de um filme em troca da sua assistência.

Com outras opções de restaurantes asseguradas, DelliBovi apresenta as alternativas ao seu cliente.

“Na maior parte dos casos dizem ‘Oh, ótimo – algo igualmente fixe e exclusivo, vamos antes a esse’”, diz.

Mas algumas celebridades não lidam bem com o “não”.

“Temos alguns clientes que ficam loucos quando as coisas não lhes correm de feição”, diz a encolher os ombros. “Mas pronto, é assim o mundo do espetáculo.”

Quando as coisas correm mal

Outra agente de viagens, Erica Wilkinson, que em tempos integrou uma equipa que geria viagens para um famoso empresário de tecnologia, também falou com a CNN Travel sobre o seu trabalho.

Questionada sobre o que acontece quando há coisas que fogem ao controlo do agente e que não correm bem, Wilkinson invoca uma cena do filme de 2004 “O Diabo Veste Prada”, em que a imponente editora de renome de uma grande revista, Miranda Priestly, interpretada por Meryl Streep, quer apanhar um voo para casa durante um furacão.

“A assistente dela diz ‘há um furacão, não conseguimos tirá-la daí’. E ela responde ‘São uns salpicos, é um bocadinho de humidade no ar’”, lembra Wilkinson.

Este, diz Wilkinson à CNN Travel, é um retrato exato de como alguns clientes VIP encaram as questões de viagens – não aceitam nenhuma desculpa, nem sequer o mau tempo.

Isto pode ser frustrante, mas por vezes é nestes momentos – não nas grandes e vistosas conquistas ou nos pedidos bizarros atendidos – que as celebridades mais apreciam os seus agentes de viagens.

“Nunca tens de ficar três horas a aguardar ao telefone com uma companhia aérea”, diz Wilkinson. “Essa é a minha função. E normalmente não tenho de esperar três horas, na maior parte das vezes não tenho – até porque tenho acesso às linhas secundárias.”

DelliBovi ecoa a mesma ideia.

“As pessoas dizem sempre que cada erro é uma oportunidade. Mas para nós é literalmente uma oportunidade para mostrarmos o que valemos”, diz ele, adiantando que 99 em cada 100 vezes, resolve um voo cancelado, “em dois segundos, através do nosso sistema, ponho-os noutro voo”.

As pessoas apreciam quando tudo corre bem, diz, “mas só valorizam realmente quando alguma coisa corre mal”.

E enquanto agente de viagens, ele tira prazer de unir as complicadas peças do puzzle, de garantir que as coisas correm bem, contra as probabilidades.

Claro, há personalidades difíceis, mas no geral DelliBovi diz que é “divertido” tornar o impossível possível para os 1%.

“É um prazer tomar conta destas pessoas e garantir que estão a viver a sua melhor vida na estrada”, diz.

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