"Não sou do grupo do Dr. Salgado": Sócrates nega amizade com dono do BES, aponta dedo a Barroso e Passos e defende Pinho

19 dez 2023, 16:13
Julgamento do caso EDP. (Manuel de Almeida/Lusa)

“Ricardo Salgado contratou Durão Barroso como consultor, era acionista da empresa onde trabalhou Passos Coelho e agora vêm dizer que ele era amigo dos socialistas. Não, não era”, argumentou o antigo primeiro-ministro

José Sócrates disse esta terça-feira em tribunal que nunca foi amigo de Ricardo Salgado e que tal “acusação” é um “embuste” e uma “mentira”.

“Sou acusado há mais de 10 anos de ser amigo de Ricardo Salgado. Isso é uma loucura. Nunca fui. Isso é um embuste, é uma mentira”, disse Sócrates na sala de audiências, onde está a testemunhar no âmbito do caso EDP.

A juíza pediu ao ex-primeiro-ministro para “não se enervar”, mas Sócrates prosseguiu. “Ele passava férias com o Marcelo Rebelo de Sousa e apoiava Cavaco Silva. É uma mistificação histórica dizer que eu era amigo de Ricardo Salgado”, atirou.

“Ricardo Salgado contratou Durão Barroso como consultor, era acionista da empresa onde trabalhou Passos Coelho e agora vêm dizer (Ministério Público) que ele era amigo dos socialistas. Não, não era”, explicou.

“Eu sei que houve uma testemunha que disse que tinha uma relação de proximidade com o dr. Salgado. Isso não é verdade. Não sou do grupo do dr. Salgado. Não fui ao seu gabinete, não tinha o número de telefone. Nunca o conheci antes de ser primeiro-ministro”.

Com Ricardo Salgado, explica Sócrates, nunca teve uma relação profissional, mas sim institucional: um como primeiro-ministro, outro como presidente de um banco.

Com Manuel Pinho, por seu turno, a relação era e é de amizade, após se terem conhecido no final de um jogo de futebol em 2004. José Sócrates diz que quando convidou Pinho para ser ministro da Economia este estava em Nova Iorque, e que antes de aceitar o convite, o futuro governante pediu para falar com pessoas do seu banco, o BES.

“Eu apercebi-me que ele tomou a decisão contrariando o presidente do banco. Senti que existia uma divergência entre Salgado e Pinho. Até me senti responsável por isso. Até disse que não lhe queria causar um ambiente de mau estar entre amigos. E ele disse que não tinha a ver com isso, já vinha de trás (…) Sempre pensei no Manuel pinho para ministro da Economia”, explicou.

O ex-primeiro-ministro garante que nunca viu Pinho como uma extensão do BES no seu executivo. “Nunca senti. Nunca intercedeu junto de mim a favor do BES. Está acusação do MP nunca aconteceu”, diz Sócrates, que se confessou arrependido por ter demitido Manuel Pinho após o incidente dos ‘corninhos’ no Parlamento.

“Houve aquele incidente na Assembleia da República e nessa tarde eu tive tomar uma decisão. E arrependi-me imediatamente. Não queria tomar. Esse episódio veio diminuir o brio do debate eleitoral. Isso deixou entre mim e Pinho uma certa ferida”, diz.

Nesta audiência, houve também tempo para um momento curioso, em que a juíza perguntou a José Sócrates o que fez entre 2005 e 2009.

“Entre 2005 e 2009 fui primeiro-ministro. Pensei que soubesse, sra. juíza”, respondeu.

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