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Coalgate lava mais branco

11 abr, 15:37

“Como é que vou sair desta?”. Este deve ser o pensamento de Markus Krebber enquanto lava os dentes. Krebber é o CEO da RWE, uma companhia de energia alemã que foi a maior fonte de emissões de CO2 Europeia em 2018.

Coalgate poderá bem ser o nome do próximo escândalo ambiental alemão. Um novo relatório do think tank Ember, circula nas redes sociais e tem levantado muitas sobrancelhas. As emissões de metano alemãs derivadas da mineração de carvão têm sido subestimadas entre 28 a 200 vezes. O metano é um poderoso gás de efeito de estufa, quase 100 vezes mais do que o dióxido de carbono no curto prazo. Urge contabilizar e cortar as suas emissões o melhor possível. As emissões de metano alemãs são inclusivamente visíveis do espaço, segundo o relatório.

As emissões de metano reportadas pela Alemanha, à esquerda, comparativamente com estimativas mais credíveis.

Já na RWE, as acções estão em queda e atingiram o valor mais baixo desde que Markus Krebber se tornou CEO. As novas regras de contabilização de emissões de metano por parte da UE vão complicar ainda mais a situação da RWE. Numa entrevista recente ao Financial Times, Krebber afirma que “É improvável que a indústria alemã recupere totalmente da crise energética”. Haverá “destruição estrutural significativa da procura” em sectores intensivos em energia, continua Krebber. A destruição de procura acontece quando o preço de algo se torna persistentemente elevado e deixa de ser atractivo para o consumidor, que buscará alternativas ou desistirá de utilizar esse algo. No caso Alemão esse algo persistentemente caro é a energia, e o consumidor neste exemplo é a indústria intensiva em energia alemã, que continua a fechar portas ou a migrar para Estado Unidos e China. A Europa tornou-se nos últimos anos muito dependente de importações de gás natural dos Estados Unidos, um parceiro cujas relações futuras estão altamente dependentes do resultado das eleições de Novembro. Na mesma entrevista ao Financial Times, Krebber diz que “que a decisão da então chanceler Angela Merkel em 2011 de encerrar a sua frota nuclear sem substituir o combustível por outra fonte de energia além das importações através de gasodutos russos foi um erro”. No entanto, a própria RWE continua hoje a desmantelar reactores nucleares em perfeitas condições de funcionamento.

Menos trabalhos bem pagos, menos competitividade, menos indústria, a troco de quase nada: os danos ambientais continuam. “É preciso expandir as minas, as luzes têm de permanecer ligadas”: foi assim que votaram os verdes alemães em 2023. Entre destruir o tecido industrial alemão ou manter reactores nucleares, a escolha do governo alemão ficou clara: que se dane a prosperidade e o ambiente.

Estamos provavelmente na presença de um novo escândalo de emissões alemão, um “Dieselgate II: electric boogaloo”. Há de facto uma contribuição para a redução de emissões de CO2 da UE à custa da destruição da nossa indústria. Erros atrás de erros que atentam contra a resiliência do projecto europeu. E sempre de modo auto-infligido.

Obrigado a Mark Nelson pela discussão que resultou na escrita deste artigo.

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