Abdeselam fez um pedido de asilo à Bélgica em 2019, mas o mesmo foi recusado. Na noite de segunda-feira, disparou contra várias pessoas enquanto decorria o jogo de qualificação para o Euro2024 com a Suécia, num ataque que reivindicou através de um vídeo e que fez com que o nível ameaça na região fosse elevado para o máximo
Na segunda-feira à noite, um ataque armado na capital belga provocou a morte de duas pessoas e feriu uma terceira. O suspeito, de origem tunisina, morreu depois de ter sido atingido a tiro pelas autoridades no café onde se refugiou, revelaram as autoridades esta terça-feira.
Mas, afinal, quem era Abdesalem Al Guilani, o homem de 45 anos que num vídeo divulgado pelo próprio garantiu ser membro do Estado Islâmico e reivindicou a autoria do atentado.
Abdeselam fez um pedido de asilo à Bélgica em 2019, mas o mesmo foi recusado, tendo sido retirado dos registos da comuna em 2021. No entanto, a ordem para que deixasse o país nunca foi emitida, e Abdeselam era conhecido da polícia por tráfico humano, residência ilegal e atentado contra a segurança do Estado, avança a RTBF.
Em 2016, três anos antes do pedido de asilo, o suspeito do ataque tinha sido identificado como radicalizado e pronto para combater em zonas de conflito pela jihad. No entanto, segundo o Ministro da Justiça Vincent Van Quickenborne, nada pôde ser feito na altura. Recentemente, terá ameaçado um residente de um centro de asilo em Kempen, na Alemanha, que o denunciou e recordou que ele tinha sido condenado por terrorismo na Tunísia.
Já o Centro Comum de Informação, que tinha uma reunião agendada para esta terça-feira, adianta que a condenação tinha sido por delitos comuns e não por terrorismo e que, "por isso, não foi detetada qualquer ameaça terrorista iminente". No entanto, assumiram as autoridades, tratou-se de um ataque terrorista.
Ataque sem ligação à guerra Israel/Hamas
Esta segunda-feira, enquanto decorria o jogo Bélgica-Suécia, no Estádio Rei Balduíno, Abdesalem Al Guilani dava início aos ataques, a cerca de cinco quilómetros dali. O jogo, interrompido ao intervalo, não voltou a ser retomado.
A conduzir uma scooter e com um casaco laranja fluorescente, Abdesalem usou uma arma de guerra para disparar contra várias pessoas antes de seguir viagem. Segundo a polícia, o ataque teve lugar na esquina da Boulevard d'Ypres com a Boulevard du Neuvième de Ligne, perto da Place Sainctelette.
O ataque fez dois mortos - dois suecos - e um ferido e não teve qualquer ligação direta ao conflito israelo-palestiniano apesar de na sua conta de Facebook ter feito referência ao menor palestino-americano de seis anos esfaqueado mortalmente pelo senhorio por ser muçulmano.
Depois dos ataques, que começaram cerca das 19:15, o suspeito colocou-se em fuga, tendo sido capturado horas mais tarde na zona de Schaerbeek, perto da sua residência.
A confirmação de que o suspeito tinha morrido foi dada pelas autoridades apenas esta terça-feira de manhã.
Nível de ameaça reexaminado
O ataque fez com que o Organismo Coordenador da Análise de Ameaças (OCAM) elevasse o nível de ameaça nacional de 2 (ameaça "média") para 3 ("grave"), enquanto na Região de Bruxelas foi elevado para 4 ("muito grave").
A última vez que o nível de ameaça 4 tinha sido ativado foi a 22 de março de 2016, quando a capital foi alvo de ataques terroristas.
Por causa do ataque, também o programa da visita de Estado do Presidente da República à Bélgica, que começou esta terça-feira, está a ser adaptado, por razões de segurança.
Segundo as autoridades belgas, foi cancelada a cerimónia de boas-vindas a Marcelo Rebelo de Sousa no exterior do Palácio Real, em Bruxelas, que era o primeiro ponto do programa, assim como a deposição de uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido.