D. Manuel Linda foi professor de Ana (nome fictício), na disciplina de Educação Moral e Religiosa, quando esta desabafou sobre o que estava a acontecer entre ela e o padre Heitor Antunes
O bispo do Porto foi acusado de não ter dado crédito ao abuso sexual de uma menor há cerca de 18 anos. De acordo com o Jornal de Notícias (JN), Manuel Linda - que em declarações aos jornalistas disse que não existia a obrigatoriedade de denunciar casos de abuso sexual por não se tratarem de crimes públicos - foi acusado por uma antiga aluna, na altura com 12 anos, de não lhe ter dado atenção quando esta admitiu que o padre Heitor Antunes, então com 34 anos e pároco de Nogueira, se tinha envolvido com ela.
"Ele disse que a culpa era minha", contou Ana (nome fictício) ao JN.
O caso aconteceu há cerca de 18 anos e, num comunicado enviado às redações, D. Manuel Linda alega que não se recorda desta denúncia, mas pede desculpa em nome da Igreja.
Não me consigo recordar minimamente de nada parecido com essa denúncia. Se alguma vez tivesse recebido alguma denúncia, teria reportado imediatamente ao meu Bispo. Agora, e como Bispo do Porto, espero que nunca uma denúncia como esta fique sem resposta e que qualquer vítima possa denunciar e partilhar essa dor. Se alguma vez uma denúncia não teve acolhimento pela Igreja, só posso pedir perdão por essa falha."
O bispo do Porto colocou a responsabilidade da investigação deste caso na Comissão Independente - "é público que o caso está a ser investigado (...) e é assim que deve ser" -, dizendo ainda que tem "toda a confiança" no trabalho que está a ser feito.
Ao que o JN apurou, Manuel Linda foi professor de Ana na disciplina de Educação Moral e Religiosa, na Escola Secundária Camilo Castelo Branco, de Vila Real. A mulher não consegue precisar a data, mas sabe que tinha 13 ou 14 anos quando desabafou sobre o que tinha acontecido: "Contei-lhe que, mesmo sendo menor, tinha um envolvimento com o padre Heitor. Ele disse que a culpa era minha. Que eu é que andava atrás dele."
Não me estava a sentir bem com a situação. Queria ouvir um conselho ou que falasse com ele [o padre Heitor Antunes]. Com aquela resposta saí de lá a chorar. Depois, pedi ao meu pai para mudar para um colégio interno de Vila Nova de Gaia para poder afastar-me. Heitor descobriu onde eu estava e reatámos a relação", relatou.
Aos 23 anos, Ana engravidou. A filha que nasceu, agora com nove anos, está no centro de um processo de regulação de poder parental entre Ana e Heitor Antunes. Na notícia divulgada pelo Observador na quinta-feira, o ex-padre quer visitas prolongadas, mas Ana tem medo e chegou a pedir em tribunal uma "perícia psiquiátrica". "Tenho medo que lhe faça o mesmo que começou por me fazer a mim, porque não tem laços afetivos nem emocionais com a filha."
Este não é o único caso suspeito na vida de Heitor. Em 2015 foi investigado na sequência de uma queixa anónima a dar conta de que tinha engravidado uma rapariga menor de idade. Mas durante todo o processo o ex-padre negou todos os factos. Atualmente, trabalha como diretor técnico do lar Associação Paz e Amizade, em Vila Real.
