As plantas não são silenciosas. Fazem cliques sonoros, revela um estudo

CNN , Katie Hunt
9 abr 2023, 15:00
As plantas não são silenciosas. Fazem cliques sonoros, revela um estudo. Foto: Cortesida da Universidade de Telavive

"Quando os tomates não estão stressados, são muito silenciosos", diz uma das autoras do estudo

As plantas fazem sons que soam a “pops” que são indetetáveis para o ouvido humano, de acordo com gravações realizadas num novo estudo – e fazem mais sons quando estão com sede ou sob algum tipo de stress. 

A investigação vem abalar o que a maioria dos botânicos pensava saber sobre o reino vegetal, que tem sido considerado em grande parte silencioso, e sugere que o mundo à nossa volta é uma cacofonia de sons de plantas, diz o coautor do estudo Lilach Hadany. 

Ela diz que há muito tempo que estava cética em relação ao facto de as plantas serem completamente silenciosas. 

"Há tantos organismos que respondem ao som, que eu pensei que não havia uma boa razão para as plantas serem surdas e mudas", argumenta Hadany, professora na Escola de Ciências das Plantas e Segurança Alimentar e diretora do programa da Faculdade de Ciências da Vida George S. Wise da Universidade de Telavive. 

A primeira planta que Hadany gravou, usando um microfone ultrassónico, foi um cato no seu laboratório há seis anos atrás, mas na altura ela não podia descartar que o som que detetou tivesse sido feito por outro elemento no ambiente. Estudos anteriores tinham mostrado que as plantas vibravam, mas não se sabia se essas vibrações se transformavam em ondas sonoras. 

Para descobrir se as plantas emitiam realmente sons, Hadany e a sua equipa arranjaram caixas acústicas insonorizadas. 

Os investigadores colocaram nas caixas plantas de tabaco e tomate, equipadas com microfones ultrassónicos que gravam a frequências entre 20 e 250 kilohertz. (A frequência máxima que o ouvido de um adulto pode detetar é de cerca de 16 kilohertz). Algumas das plantas tinham caules cortados ou não tinham sido regadas durante cinco dias, e outras estavam intocadas. 

A equipa descobriu que as plantas emitiam sons a uma frequência de 40 a 80 kilohertz, e quando condensadas e traduzidas numa frequência que os humanos podem ouvir, os ruídos eram um pouco semelhantes aos das pipocas a serem feitas ou das bolhas de plástico a rebentar. 

Uma planta stressada emitia cerca de 30 a 50 destes estalidos ou cliques por hora a intervalos aparentemente aleatórios, mas as plantas que não estavam sob stress emitiam muito menos sons – cerca de um por hora. 

"Quando os tomates não estão stressados, são muito silenciosos", diz Hadany.

A equipa realizou o estudo dentro de uma estufa e colocou as plantas em caixas insonorizadas. Fotografia: cortesia da Universidade de Telavive

Estarão as plantas a comunicar? Não é assim tão simples 

Os investigadores não sabem exatamente como são feitos os sons, mas acreditam que os ruídos vêm da cavitação – um processo em que uma bolha de ar na coluna de água da planta cede a algum tipo de pressão, fazendo um clique ou estalido. 

Mas fique descansado, o bouquet de flores cortadas no seu vaso não está a gritar de dor. Não há provas de que o ruído produzido pelas plantas seja intencional ou uma forma de comunicação. 

"Estes dados vêm complementar o que sabemos sobre as respostas das plantas ao stress. São uma contribuição útil para a área e para o nosso conhecimento geral de que as plantas são organismos sensíveis capazes de comportamentos sofisticados", diz Richard Karban, um distinto professor de entomologia da Universidade da Califórnia, Davis, que estuda as interações entre os herbívoros e as suas plantas hospedeiras. Ele não esteve envolvido nesta investigação. 

"No entanto, não deve ser interpretado como prova de que as plantas estão a comunicar ativamente fazendo sons", acrescenta Karban. 

Enquanto os sons das plantas são um fenómeno passivo, outros organismos podem ser capazes de utilizar os sinais sonoros das plantas para seu próprio benefício, diz o ecologista sensorial Daniel Robert, professor de bionanociências na Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Bristol, no Reino Unido. Ele também não esteve envolvido na investigação. 

Por exemplo, ele diz que os sons poderão transmitir a uma traça fêmea a mensagem de que um determinado tomateiro está em stress e não é adequado para pôr ovos, ou para se alimentar. 

"São gerados muitos sons no mundo que não são sinais «intencionais», mas que, no entanto, podem ser ouvidos e utilizados por outros organismos para seu próprio benefício. Portanto, o conceito de comunicação é de facto um desafio... terá de ser bidirecional para funcionar e ser considerado como tal?", questiona, num e-mail.

Yossi Yovel, à esquerda, e Lilach Hadany, os principais autores do estudo. Ambos são professores na Universidade de Telavive. Foto: cortesia da Universidade de Telavive

Quem é que está a ouvir? 

A equipa repetiu a experiência com a planta do tabaco e o tomateiro num ambiente de estufa mais ruidoso. Depois de gravar as plantas, os investigadores desenharam um algoritmo de aprendizagem automática que conseguia distinguir entre as plantas sem stress, as plantas sedentas e as plantas cortadas.

"A descoberta de que conseguimos informação retirada das emissões acústicas, utilizando a classificação de redes neurais, é excitante uma vez que é uma técnica rápida e pode identificar estruturas de dados que os olhos ou ouvidos humanos não conseguem", observa Robert.  

Os investigadores utilizaram a plantas do tabaco e o tomateiro porque são fáceis de cultivar de forma padronizada, mas também registaram sons feitos por uma variedade de outras espécies vegetais, tais como trigo, milho, catos e videiras, e descobriram que também emitiam mais sons quando stressados.

Além dos insetos ou mamíferos que poderão detetar e utilizar os sons de plantas, Hadany diz que outras plantas também poderão estar a ouvir e a beneficiar dos sons. Trabalhos anteriores realizados por Hadany e outros membros da equipa mostraram que as plantas aumentam a concentração de açúcar no seu néctar quando "ouvem" os sons feitos pelos polinizadores.

Hadany diz que agora olha para as plantas e flores de forma diferente. "Há muitas canções que não conseguimos ouvir." 

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