A Luz não viveu a noite de Champions: sobreviveu a ela

5 nov 2014, 10:06

Benfica-Mónaco, 1-0 (crónica)

Algum dia ainda alguém haverá de compreender este súbito sumiço do Benfica na Liga dos Campeões: um sumiço sem justificações, sem atenuantes e sem desculpas.
 
Um sumiço, apenas. Óbvio e inexplicável.
 
É verdade que neste exato momento pode parecer estranho estar a falar de sumiço depois de uma vitória que recolocou a equipa na luta pelo apuramento, mas caramba: era preciso sofrer tanto?
 
Era realmente necessário um sofrimento tão grande, tão intenso, tão desnecessário?
 
Um sofrimento que só Júlio César evitou que se transformasse em dor profunda, aliás, daquela que só se sente quando se é confrontado com uma perda irreparável: neste caso a perda do sonho.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

 
O Benfica, convém dizê-lo já, não viveu a noite de Champions: sobreviveu a ela.
 
Na segunda parte, por exemplo, chegou a ser sufocado por uma pressão enorme do Mónaco. Foi nessa altura que Júlio César se tornou fundamental ao evitar um golo certo aos pés de Carrasco. Foi nessa altura também que Luisão desviou um remate muito perigoso de Traoré.
 
O Mónaco, convém também recordá-lo, apresentou-se no Estádio da Luz com um registo muito importante: zero golos sofridos em três jogos da Liga dos Campeões. Só o Borussia Dortmund conseguiu fazer igual. É fácil aliás compreender porquê: esta equipa defende bem.
 
É uma equipa à imagem de Leonardo Jardim: recolhida e solidária. Ocupa bem os espaços, obriga os extremos a cobrir as subidas dos laterais e deixa o adversário manietado nas ideias.

Confira como está a classificação no Grupo do Benfica

 
Depois, e sempre através dos extremos, tenta atacar em saídas rápidas.
 
Esta noite, por exemplo, fê-lo quase sempre por Ferreira-Carrasco, um jogador rápido, batalhador e que infernizou a vida a André Almeida. Por aqui, aliás, se percebe também como Jardim mudou pouco: estudou o adversário, descobriu-lhe o ponto fraco e tratou de o explorar até à exaustão.
 
Ora tudo isso é verdade, sim senhor, mas não explica o sumiço do Benfica, lá está. A formação encarnada tem qualidade para ultrapassar este Mónaco, que defende bem, é certo, mas está muito longe de ser uma equipa de topo do futebol europeu. Muito, muito longe.
 
O problema é que o Benfica não foi o Benfica: não foi pelo menos aquele Benfica intenso, de futebol cheio e de trocas posicionais. Aquele rolo compressor que tantas vezes foi marca de água.
 
Mesmo tendo a bola a maior parte do tempo, e tendo com ela jogado no meio campo adversário, praticamente só nas transições rápidas conseguia criar situações de remate. Em ataque continuado, que foi a maior parte do tempo, faltou-lhe dinâmica para ultrapassar as marcações.

Talisca de ouro: os destaques do jogo

 
Faltou-lhe aquele toca e foge, faltou-lhe mais laterais na área adversária, faltou-lhe trocas de posições, faltou-lhe aquela movimentação de jogadores que é a principal imagem de Jorge Jesus, e no final de contas um problema para os adversários.
 
O Benfica raramente foi esse Benfica.
 
Manteve-se demasiado estático, lento e sem nervo. Pareceu condicionado pela obrigação de mostrar à Liga dos Campeões que não é apenas uma equipa de Liga Europa: paralisou, portanto.

Para quem tiver dúvidas, os números estão aí para auxiliar a justificação: o Benfica fez oito remates, apenas três enquadrados com a baliza, o Mónaco fez dez remates, cinco dos quais saíram à baliza...
 
É verdade que a equipa encarnada até criou uma ou outra boa ocasião para marcar, Gaitán na primeira parte teve uma sublime, por exemplo, mas à entrada para os dez minutos finais ninguém diria que merecia estar a ganhar a este Mónaco simples e comedido.
 
Até que apareceu Talisca: numa bola parada, de resto. Derley desviou de cabeça e o brasileiro surgiu solto do outro lado a rematar para a vitória.
 
Talisca voltou a ser uma espécie de milagreiro, sim. O Benfica, esse, continua a sonhar. Mas é bom não esquecer que permanece longe de viver a Champions em pleno: vai sobrevivendo.

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