Bebé que esteve ligado à ECMO por covid-19 foi "uma situação limite", que "mostrou que o SNS funciona"

Beatriz Céu , BCE
2 mar 2022, 14:55
Mãe com bebé

Apesar do desfecho positivo, Maria João Batista lembra a importância de se estar atento aos sinais

O caso do bebé de 13 meses que esteve ligado a ECMO no hospital de São João, no Porto, com covid-19, e que esta quarta-feira teve alta hospitalar, "mostra que o SNS funciona", defende a diretora clínica do Centro Hospitalar e Universitário São João (CHUSJ), que vai continuar a acompanhar a criança.

Em entrevista à CNN Portugal, Maria João Baptista sublinha que o bebé teve uma evolução positiva desde que foi ligado a ECMO (oxigenação por membrana extracorporal), um suporte utilizado com frequência em cuidados intensivos, assente numa técnica que substitui temporariamente os pulmões e o coração.

"O bebé já está em casa. Está equilibrado. Está bem, e vai continuar a ser seguido por nós", diz.

Para a cardiologista pediátrica, este caso, que teve um desfecho feliz, mostra que "o SNS [Serviço Nacional de Saúde] funcionou", uma vez que o tratamento da criança contou com "um trabalho em rede" do CHUSJ e outros hospitais da região Norte, tendo sido inicialmente transferido de Barcelos para o Centro Materno Infantil do Norte e dali para Hospital de S. João, por "alterações cardíacas".

Se não tivesse sido transferido para o hospital, que, ao contrário dos restantes da região Norte, tem capacidade para colocar uma criança tão pequena em ECMO, "este bebé não tinha possibilidade de ser tratado", salienta.

"Os colegas do hospital de Barcelos perceberam que não tinham capacidade [de tratamento da criança], ou seja, o SNS funcionou. É importante que as equipas localmente tenham essa capacidade de perceção e que as transfiram o mais rápido possível", afirma.

Quando chegou ao hospital de São João, recorda a médica, o bebé sofreu um choque cardiogénico, ou seja, o seu coração deixou de ser capaz de bombear o sangue para o corpo, "não respondia à medicação" e, na madrugada de 5 de fevereiro, teve de ser ligado a ECMO. 

Esta manifestação da covid-19, que obriga ao internamento em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) e ECMO, "é rara" nas crianças mais pequenas, "mas acontece", sublinha.

Embora a covid-19 seja considerada uma doença ligeira, a verdade é que, "por vezes, e por motivos que não percebemos, em algumas crianças provoca quadros [clínicos] muito graves", acrescentou, lembrando que muitas crianças em todo o mundo passaram pelo mesmo processo clínico.

Apesar do desfecho positivo, Maria João Batista sublinha que esta é "uma situação limite", lembrando a importância de se estar atento aos sinais e da vacinação.

Por isso, a médica sublinha que a covid-19 "não é de todo risco zero" para as crianças ou qualquer outra faixa etária. "Temos de respeitar a covid-19 como outras infeções", defende.

"É bom que seja possível salvar as crianças, mas às vezes pode ser à custa de uma sequela muito grave", argumenta, referindo-se às consequências associadas a internamentos em UCI, "nomeadamente neurológicas", que podem refletir-se, por exemplo, em dificuldades na aprendizagem. Mas não costumam surgir outras sequelas, nomeadamente "sequelas nos rins, pulmonares e até cardíacas".

Questionada sobre se o bebé acabou por ficar com sequelas deste tratamento, Maria João Batista diz estar "confortável em dizer que está bem" e "seguro".

Por fim, a médica sublinha a importância da "prevenção da doença" e de continuar a cumprir as regras de etiqueta respiratória, evitar contactos de risco, cumprir a vacinação e "estar atento aos sinais".

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