BCE insiste na subida de juros. E a prestação da casa volta a aumentar em julho

29 jun 2023, 07:00
Christine Lagarde (AP Photo)

Subida da prestação a pagar ao banco para quem tem contratos revistos em julho pode ultrapassar os 260 euros. Taxas Euribor voltaram a aumentar, mas o ritmo de subida é cada vez menor. Veja as simulações

É pouco provável que, num futuro próximo, o banco central possa afirmar com plena confiança que as taxas máximas foram atingidas. É por isso que a nossa política tem de ser decidida reunião a reunião, e tem de continuar a depender dos dados”, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu.

A líder do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, deixou esta semana a certeza de que as taxas diretoras do BCE vão subir novamente em julho quando o conselho de governadores se reunir no dia 27. Uma subida que já estava antecipada e que a generalidade dos analistas acredita que irá atingir 0,25 pontos percentuais. O objetivo é o mesmo de sempre, tentar recolocar a taxa de inflação da zona euro, atualmente acima dos 6%, próxima de 2%.

As declarações de Lagarde, feitas em Sintra, durante a reunião anual do BCE que junta os líderes dos principais bancos centrais do mundo, serviram também para deixar a certeza de que o banco central não se compromete com uma data para dizer que a subida de juros acabou. E que as taxas de juro terão de ser mantidas altas por um longo período.

Um discurso ortodoxo que tem tido efeito nas convicções dos mercados. Se no início deste mês um inquérito realizado pela agência Reuters a 59 economistas antevia que a subida de juros a realizar em julho era certa, a maioria dos mesmos economistas acreditava que seria a última de 2023. Hoje, a crença dos mercados é outra. E aponta para uma nova subida das taxas em setembro ou outubro. Tudo vai depender, mais uma vez, dos dados da inflação.

NOTA | O BCE tem três taxas de juro de referência:

- A taxa das principais operações de refinanciamento, sob a qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está atualmente nos 4%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;

- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está atualmente em 3,5%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;

- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro a que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4,25%.

Depois das más, as (quase) boas notícias

Sem garantias em relação ao futuro, a certeza que existe é que em junho, ainda faltando os dados desta quinta-feira e os dados de amanhã, a média mensal das taxas Euribor voltou a subir. A média da Euribor a 12 meses, por exemplo, a mais utilizada nos contratos de crédito à habitação em Portugal, está mesmo prestes a romper a barreira dos 4%.

E com o BCE a subir taxas de juro, inevitavelmente, as taxas Euribor também deverão continuar a subir. Essa é, pelo menos, a tendência que os mercados continuam a antecipar. A Euribor a três meses, que em junho chegou a um valor ligeiramente acima dos 3,5%, deverá continuar a subir até ao final do ano, mas não deverá atingir a barreira dos 4%. E no início de 2024 poderá mesmo registar uma ligeira descida. A Euribor a seis meses, que atingiu em junho um valor acima dos 3,8%, deverá ultrapassar a barreira dos 4% em novembro, começando a registar ligeiras descidas depois disso. Já a Euribor a 12 meses também continuará a subir para valores ligeiramente acima dos 4%, mas os mercados antecipam que dentro de um ano já possa estar em patamares próximos dos 3,6%.

Estas previsões variam quase diariamente, mas parecem, para já, mostrar que a subida das taxas está prestes a acabar, pondo também fim às más notícias sobre subidas de taxas de juro.

E olhando para os dados já conhecidos, essa possibilidade sai ainda mais reforçada. As taxas de juro ainda não pararam de aumentar, mas as subidas têm sido menores de mês para mês.

Quem tenha o seu contrato revisto em julho terá na base dessa revisão os dados da Euribor de junho, quem reviu o seu contrato este mês teve como base a taxa de maio e assim sucessivamente. E o que os dados mostram é que nos contratos indexados à Euribor a 12 meses, os acréscimos de taxa de juro têm vindo a ser cada vez menores desde março. Já nos contratos indexados à Euribor a seis e a três meses, os acréscimos de taxas de juro têm vindo a ser cada vez menores desde novembro do ano passado.

Prestação volta a aumentar

Enquanto as taxas de juro não pararem de subir, o aumento da prestação a pagar ao banco torna-se inevitável. E julho não será exceção.

Para um contrato de 150 mil euros a 30 anos, indexado à Euribor a 12 meses e com um spread (margem do banco) de 1%, a subida da prestação vai ultrapassar os 260 euros.

O retrato do crédito à habitação em Portugal mostra, no entanto, que, em média, e tendo em conta o total do stock do crédito à habitação existente, o valor médio do capital em dívida de cada contrato é ligeiramente superior a 63 mil euros, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Assim, para um contrato deste valor, também indexado à Euribor a 12 meses e com um spread de 1%, a prestação passaria de um valor de cerca de 228 euros para 338 euros, um acréscimo de 110 euros.

Os dados do Banco de Portugal mostram, por outro lado, que a prestação média em Portugal, tendo em conta a totalidade do stock de crédito, é de 372 euros, que 75% dos contratos existentes têm uma prestação mensal inferior a 455 euros e que apenas 10% dos contratos têm uma prestação superior a 641 euros.

Quanto já aumentou e quanto vai subir em junho a prestação da casa 

Empréstimo a 30 anos com spread de 1%

EURIBOR A 3 MESES

Empréstimo de 25 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 77,69  
Outubro de 2022 92,54 14,85
Janeiro de 2023 106,25 13,71
Abril de 2023 118,07 11,82
Julho de 2023 127,13 9,06
Aumento anual   49,4

Empréstimo de 50 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 155,39  
Outubro de 2022 185,08 29,69
Janeiro de 2023 212,50 27,42
Abril de 2023 236,15 23,65
Julho de 2023 254,26 18,11
Aumento anual   98,9

Empréstimo de 75 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 233,08  
Outubro de 2022 277,63 44,55
Janeiro de 2023 318,76 41,13
Abril de 2023 354,22 35,46
Julho de 2023 381,40 27,18
Aumento anual   148,3

Empréstimo de 100 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 310,78  
Outubro de 2022 370,17 59,39
Janeiro de 2023 425,01 54,84
Abril de 2023 472,30 47,29
Julho de 2023 508,53 36,23
Aumento anual   197,8

Empréstimo de 125 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 388,47  
Outubro de 2022 462,71 74,24
Janeiro de 2023 531,26 68,55
Abril de 2023 590,37 59,11
Julho de 2023 635,66 45,29
Aumento anual   247,2

Empréstimo de 150 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 466,17  
Outubro de 2022 555,25 89,08
Janeiro de 2023 637,51 82,26
Abril de 2023 708,45 70,94
Julho de 2023 762,79 54,34
Aumento anual   296,6

 

EURIBOR A 6 MESES

Empréstimo de 25 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 82,28  
Janeiro de 2023 113,1 30,82
Julho de 2023 131,44 18,34
Aumento anual   49,2

Empréstimo de 50 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 164,57  
Janeiro de 2023 226,2 61,63
Julho de 2023 262,88 36,68
Aumento anual   98,3

Empréstimo de 75 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 246,85  
Janeiro de 2023 339,3 92,45
Julho de 2023 394,32 55,02
Aumento anual   147,5

Empréstimo de 100 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 329,13  
Janeiro de 2023 452,4 123,27
Julho de 2023 525,75 73,35
Aumento anual   196,6

Empréstimo de 125 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 411,42  
Janeiro de 2023 565,5 154,08
Julho de 2023 657,19 91,69
Aumento anual   245,8

Empréstimo de 150 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 493,7  
Janeiro de 2023 678,6 184,9
Julho de 2023 788,63 110,03
Aumento anual   294,9

 

EURIBOR A 12 MESES

Empréstimo de 25 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 90,57  
Julho de 2023 134,14  
Aumento anual   43,6

Empréstimo de 50 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 181,13  
Julho de 2023 268,29  
Aumento anual   87,2

Empréstimo de 75 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 271,7  
Julho de 2023 402,43  
Aumento anual   130,7

Empréstimo de 100 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 362,26  
Julho de 2023 536,58  
Aumento anual   174,3

Empréstimo de 125 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 452,83  
Julho de 2023 670,72  
Aumento anual   217,9

Empréstimo de 150 mil euros

  Pagava Aumento
Julho de 2022 543,39  
Julho de 2023 804,87  
Aumento anual   261,5

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