opinião
Economista, investigador e professor universitário

Os lucros dos principais bancos e o papel da CGD

16 nov 2022, 11:37

O lucro conjunto dos cinco maiores grupos bancários em Portugal (Caixa Geral de Depósitos, Novo Banco, BCP, Santander Totta e BPI) atingiu os 1.889 milhões de euros só nos nove primeiros meses deste ano. Tal representa um aumento de 832 milhões de euros face ao mesmo período do ano passado.

Desse grupo, a Caixa foi a instituição que atingiu o lucro mais elevado, concretamente de 692 milhões de euros. Nas palavras de Paulo Macedo, será assim a “primeira vez que a CGD conseguirá remunerar o custo do capital que é investido pelos contribuintes”. A actividade internacional e a reversão de imparidades foram, de acordo com o seu presidente executivo, as principais razões para o aumento do lucro.

Contudo, é também de destacar que, especificamente no mercado doméstico, a margem financeira da Caixa, isto é a diferença entre os juros recebidos e os juros pagos aumentou em 103 milhões de euros face aos nove primeiros meses do ano passado. Se por um lado o banco já está a beneficiar dos efeitos das subidas das taxas de referência do BCE, por outro lado continua, tal como os seus concorrentes, a remunerar os depósitos a uma taxa muito próxima de 0%. Ora, na conjuntura actual, em que a taxa de inflação já chegou mesmo a ultrapassar os 10%, isto significa que as poupanças que as famílias têm depositadas estão a sofrer uma forte desvalorização em termos reais. A este facto acresce um aumento sucessivo das comissões bancárias cobradas aos depositantes. Não surpreende por isso que os seus resultados financeiros, tal como os dos restantes bancos mencionados, tenham revelado que os rendimentos provenientes de comissões também aumentaram em vários milhões de euros.

Mas será que a Caixa, que tem o Estado como accionista único, não deveria assumir uma postura distinta no contexto actual? Partilho, por isso, da opinião de Pedro Santos Guerreiro quando defende que a maior instituição financeira em Portugal deveria tomar a iniciativa de aumentar as taxas que remuneram os depósitos dos seus clientes, o que faria com que os restantes bancos fossem atrás (ver aqui). É provável que se verificasse algo idêntico no caso de uma redução das comissões.

Em suma, a Caixa poderia assumir um papel relevante para minimizar os efeitos negativos que a inflação está a ter nas poupanças das famílias portuguesas. Se tal não for possível, então para que serve termos um banco público?

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