“O que está a acontecer? É um OVNI, é lixo ou uma estrela?” O que está a acontecer é um grande problema entre a China e os EUA

3 fev 2023, 18:05
Balão espião chinês (AP)

Um balão-espião chinês sobrevoou uma zona nos EUA onde estão vários mísseis balísticos. Há problemas em curso - eis o que sabe e nem por isso. E por enquanto é assim: "Este objeto violou o espaço aéreo dos Estados Unidos e a lei internacional, o que é inaceitável"

“O que está a acontecer? É um OVNI, é lixo ou uma estrela?” Ashley McGowan contou à CNN que recebeu uma chamada de um vizinho que só a deixou ainda mais confusa. Aparentemente estava um objeto estranho no ar a passar por Reed Point, no estado norte-americano do Montana. Tratava-se afinal de um balão espião que o Departamento de Estado já estava a seguir, informando pouco depois que se tratava de um engenho chinês.

Um caso estranho e singular que já está a provocar alta tensão entre Washington e Pequim, motivando mesmo o adiamento da visita do secretário de Estado Antony Blinken à China, que estava a horas de levantar voo rumo a território chinês.

Transparente, ao longe parece mais esbranquiçado - é assim o balão detetado pelos Estados Unidos. Um objeto do tamanho de três autocarros e que estava a voar a cerca de 8.200 metros, altitude que obrigou alguns aviões a desviarem-se da rota, segundo a CNN.

Responsáveis norte-americanos garantem que este tipo de objeto não tem uma melhor capacidade de reunir informação sobre o terreno do que os satélites de que a China já dispõe em órbita.

Talvez por isso Pequim esteja a desvalorizar a situação, limitando-se a dizer que se trata de uma “aeronave civil utilizada para pesquisa, sobretudo para propósitos meteorológicos”. Esta é a versão oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, que aponta um desvio do percurso planeado do balão.

Uma versão que parece não convencer os norte-americanos. Em conferência de imprensa, o assessor de imprensa do Pentágono afirmou conhecer a posição chinesa, a qual rejeita. "O facto é que sabemos que é um balão de vigilância", afirmou o brigadeiro-general Pat Ryder, reiterando que o balão "violou o espaço aéreo dos Estados Unidos e a lei internacional, o que é inaceitável".

Em todo o caso, e estando "a par dos relatos", o porta-voz da diplomacia chinesa referiu que o país está a trabalhar para "perceber as circunstâncias e verificar os detalhes" do que se passou. "Quero assinalar que, antes que se torne claro o que se passou, qualquer especulação ou exagero não vai ajudar a lidar com o assunto", acrescentou Mao Ning, que pediu a todas as partes que lidem com a situação de forma calma.

Já os meios de comunicação chineses foram mais agressivos, acusando mesmo os Estados Unidos de "exagerarem a ameaça da China". "Por um período de tempo os Estados Unidos utilizaram frequentemente afirmações sobre a 'ameaça chinesa' e a 'teoria da espionagem chinesa' para criarem uma atmosfera de Guerra Fria e agravar as relações", escreveu o Global Times.

Abater ou não abater

A zona onde o balão foi detetado é conhecida por armazenar vários mísseis balísticos intercontinentais, alguns deles nucleares, projéteis capazes de percorrer uma distância suficiente para atingir qualquer ponto do solo chinês, o que deixou os Estados Unidos em alerta.

Uma das primeiras reações surgiu de Antony Blinken, que adiou de imediato a viagem que tinha programado a solo chinês. Mas há mais: durante várias horas, e sempre com o conhecimento do presidente norte-americano, as autoridades discutiram a possibilidade de abaterem o balão, acabando por decidir não o fazer.

Joe Biden ouviu os vários responsáveis militares que o aconselham diariamente, tendo levado em consideração que o percurso do balão se faz por cima de “vários locais sensíveis” do território norte-americano, naquilo que terá sido uma referência ao arsenal balístico que ali está sediado.

Refere a CNN que os responsáveis que aconselham a Casa Branca entendem que os eventuais destroços da destruição do balão superam o risco do objeto. Isso mesmo foi confirmado pelo assessor do Pentágono, que esclareceu que o balão continua a ser acompanhado pelo Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte. "Atualmente entendemos que o balão não apresenta uma ameaça física ou militar às pessoas", disse o brigadeiro-general Pat Ryder, referindo que o balão continua a mover-se em direção a este, encontrando-se na zona central dos Estados Unidos, devendo ficar em território norte-americano por alguns dias.

Ainda antes de ser comunicado oficialmente o acompanhamento do balão, já os Estados Unidos tomavam medidas. Na quarta-feira foi emitida uma ordem para que se suspendesse o espaço aéreo no Montana, ao mesmo tempo que se mobilizaram vários meios, incluindo caças F-22, colocando tudo a postos para, em caso de necessidade, abater o balão. Apesar de a decisão ter sido pelo não abate, Joe Biden ordenou que fossem protegidas várias informações secretas que podem ser sensíveis.

As autoridades canadianas também estão a acompanhar o caso, com as Forças Armadas a monitorizarem o trajeto do balão. A coronel Elizabeth Mathias referiu que só é conhecido este caso, garantindo que "os canadianos estão seguros e o Canadá está a tomar medidas para garantir a segurança do seu espaço aéreo".

De resto, o Canadá decidiu mesmo convocar o embaixador chinês no país para dar explicações sobre o caso.

Responsáveis militares referiram à CNN que a presença deste balão não é uma ameaça totalmente nova, esclarecendo que já foram sinalizados casos semelhantes no passado. Isso mesmo terá acontecido em territórios como Hawaii ou Guam, duas ilhas que pertencem aos Estados Unidos, ambas no Oceano Pacífico, sendo a última das quais o território norte-americano que fica mais perto de solo chinês.

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