"Ministério da Cultura? Afuera. Ambiente? Afuera. Saúde? Afuera. Educação? Afuera”: breve bio de "O Peruca", o novo presidente da Argentina

João Guerreiro Rodrigues , (Atualizado no dia 20/11/2023)
14 ago 2023, 16:04
Javier Milei (AP)

É apoiante fervoroso de Donald Trump. Considera-se aliado de Jair Bolsonaro. Pretende liberalizar o porte de arma. Deseja militarizar as prisões. Gosta muito pouco da maioria dos Ministérios. Ambiciona fazer da irmã primeira-dama do país. Javier Milei venceu as eleições argentinas

“Esta é a foto do Estado que temos hoje”, afirma Javier Milei (também conhecido por "O Peruca", como veremos adiante) de braços abertos perante um quadro que pinta a estrutura do Governo argentino. À sua frente está um organograma com os 19 ministérios que compõe o executivo da Argentina. Um a um, o excêntrico candidato presidencial arranca os nomes das pastas que pretende excluir. Turismo e desporto? “Afuera.” Ministério da Cultura? “Afuera.” Ambiente? “Afuera.” Saúde? “Afuera.” Educação? “Afuera.” E assim sucessivamente, até restarem apenas os oito ministérios - Capital Humano, Infraestruturas, Economia, Justiça, Segurança, Defesa, Relações Externas e Administração Interna. “O trabalho da política acabou. Viva a liberdade, caralho”, proclama para os seus seguidores.

 

Este é apenas um excerto da visão libertária do economista de 52 anos que, à semelhança de muitos movimentos que um pouco por todo o mundo, propõe uma solução radical para acabar as várias décadas de problemas económicos que se arrastam no país. Admirador confesso do antigo presidente norte-americano Donald Trump, Milei junta às promessas de crescimento um Estado mínimo e o compromisso de “limpar” o país de “ladrões”.

Além de acabar com um grande número de Ministérios, El Peluca (O Peruca), como é conhecido devido ao penteado e às imponentes suíças que se tornaram a sua imagem de marca, propõe ligar a economia argentina ao dólar de forma a tentar estancar a persistente inflação que faz com os argentinos percam poder de compra todos os meses. Em junho, a taxa de inflação anual argentina atingiu perto dos 150%.

A verdade é que a situação económica argentina é o seu maior aliado político. A constante desvalorização do peso argentino e as reservas cada vez mais escassas face a uma dívida pública que está prestes a atingir dos 400 mil milhões de dólares parecem estar a fazer com que muitos argentinos sintam que o país precise de um abanão. E é isso que o líder do movimento "A Liberdade Avança" diz que vai fazer.

O político, que se descreve como anarco-capitalista, quer resolver os problemas do país com um tratamento de choque. Para acabar com a inflação, Milei quer acabar com o Banco Central, tornar o dólar a moeda oficial do país e reduzir drasticamente os gastos do Estado em ministérios. 

“Nós somos a verdadeira oposição. É possível uma Argentina diferente mas é impossível com as velhas coisas que sempre falharam”, afirma entusiasticamente o político populista perante uma multidão em festa, após o anúncio da vitória na primeira volta das eleições presidenciais. Javier Milei tornou-se o candidato mais votado da primeira ronda, com 30,04% dos votos. O resultado surpreendeu até alguns dos analistas mais atentos. E agora tornou-se mesmo presidente.

Embora o relacionamento com seus pais não seja bom, Milei admite ter encontrado o apoio e a estabilidade necessária na sua irmã. O economista reconheceu publicamente que Karina Milei é a pessoa que melhor o conhece e “a grande arquiteta” de seus acontecimentos políticos. Milei disse a diferentes meios de comunicação que, caso se torne presidente, ela desempenhará o papel de primeira-dama.

Esse percurso político aconteceu a uma velocidade astronómica. A partir de 2018 começou a aparecer nalguns dos principais meios de comunicação após divulgar o seu “discurso liberal libertário” - e a sua presença não conseguia passar despercebida, tendo colecionado polémicas durante as suas aparições na televisão e na rádio.

Foi em 2020, com o anúncio de que se ia candidatar à presidência da Argentina nas eleições deste ano, que surgiu o seu movimento político, o “A Liberdade Avança”. No ano seguinte conquistou dois lugares na Câmara dos Deputados, cargo que ocupa com a sua candidata a vice-presidente, Victoria Villarruel.

Entre as suas propostas mais polémicas estão medidas que permitem às empresas reduzir custos com o despedimento de funcionários, bem como a privatização de várias indústrias. No entanto, duas medidas destacam-se quando o tema é a controvérsia: Javier Milei quer liberalizar o porte de arma e militarizar as prisões. No entanto, é preciso esperar para perceber se El Peluca vai ser escolhido para aplicar o seu programa de “revolução liberal”: “Convido os argentinos a juntarem-se à revolução liberal que fará da Argentina uma potência mundial dentro de 35 anos. Viva a liberdade, caralho!”, gritou eufórico na cerimónia de anúncio da vitória na primeira volta.

Um mês depois, vence as eleições contra Sérgio Massa, atual ministro da economia, com 55,70% dos votos contra 44,29%. Perante a multidão em festa que o recebeu, Milei agradeceu "aos cidadãos de bem" por terem conseguido cometer "um milagre" de eleger um presidente libertário.  "Hoje começa o fim da decadência da Argentina, termina o modelo empobrecedor do estado omnipresente, que nos fez passar de maior potência do mundo a 130ª"", promete.

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