Ministério Público realizou esta terça-feira buscas na residência oficial do primeiro-ministro e em alguns ministérios. Um dos detidos é Lacerda Machado, que se apresenta publicamente como amigo de António Costa. Primeiro-ministro, cujo chefe de gabinete também foi detido, teve de ir a Belém explicar-se a Marcelo
O Ministério Público anunciou a abertura de uma investigação autónoma ao primeiro-ministro, António Costa, no âmbito de um processo sobre exploração de lítio em Montalegre.
Em comunicado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) referiu que, "no decurso das investigações" aos membros do Governo e empresários envolvidos num processo que investiga negócios relacionados com a exploração de lítio em Montalegre, surgiu "o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do primeiro-ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos no contexto suprarreferido".
O primeiro-ministro será, assim, investigado pelo Supremo Tribunal de Justiça, o tribunal que tem competência para o fazer tendo em conta que se trata de uma alta figura do Estado.
O Ministro das Infraestruturas, João Galamba, foi constituído arguido, a par com o presidente do conselho diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente, refere-se no comunicado, enviado às redações.
O Ministério Público efetuou esta manhã buscas na residência oficial do primeiro-ministro e em alguns ministérios do Governo no âmbito de uma investigação sobre projetos de exploração de lítio, em Montalegre.
Em causa está o negócio que garantiu à Lusorecursos a exploração da mina de lítio em Montalegre, apesar de a empresa não fazer parte do grupo de empresas com direito de prospeção.
O processo envolve suspeitas de corrupção para beneficiar a Lusorecursos no processo atribuição da exploração da mina.
As diligências ocorreram depois de recentemente a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ter dado luz verde à exploração da mina por parte da Lusorecursos.
A CNN Portugal sabe que pelo menos cinco pessoas foram detidas, entre as quais o empresário Diogo Lacerda Machado, que se apresenta publicamente como um amigo de António Costa - na comissão parlamentar de inquérito à TAP, em maio deste ano, disse preservar uma "excelente amizade" com o primeiro-ministro.
Também o chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, e o presidente da Câmara de Sines, o socialista Nuno Mascarenhas, foram detidos no âmbito do processo que investiga negócios de hidrogénio e lítio. Dois empresários da zona de Sines também foram alvo de detenções, nomeadamente o CEO da empresa Start Campus, Afonso Salema, e o diretor Jurídico e de Sustentabilidade, Rui Oliveira Neves, confirmou a CNN Portugal.
Pouco depois de serem conhecidas as buscas ao Palácio de São Bento e aos ministérios, António Costa, que tinha um evento agendado para esta manhã no Porto, dirigiu-se a Belém para prestar esclarecimentos ao Presidente da República. A reunião, solicitada pelo próprio António Costa, terá terminado cerca de 30 minutos depois.
Montenegro convoca reunião de "urgência", IL pede demissão de Costa
Entretanto, o líder do PSD, Luís Montenegro, convocou uma reunião "de urgência" da Comissão Permanente para analisar "a gravidade da situação que envolve a base central do Governo". Após a reunião, agendada para esta tarde, o presidente do PSD fará uma declaração ao país.
Os partidos com assento parlamentar já começaram a reagir na Assembleia da República. A Iniciativa Liberal (IL) considera que o primeiro-ministro "não tem condições para continuar a exercer funções" e apelou ao seu bom senso para que apresente a demissão. Caso contrário, diz, Marcelo Rebelo de Sousa terá de pôr "ordem na casa" e dissolver o parlamento.
"Se isto não justifica que o senhor Presidente da República ponha ordem na casa, dissolva a Assembleia da República e permita a renovação democrática, política e institucional no país, então eu não sei o que é preciso mais acontecer no país", afirmou.
Já a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, lembra o princípio da presunção da inocência, salientando, contudo, que João Galamba "há muito tempo que não reúne as condições para se manter em funções" e, por isso, apela ao "bom senso" do primeiro-ministro para que o retire do executivo.