Alerta é da própria empresa pública. Quem ali trabalha diz que o Arsenal do Alfeite é um "museu vivo"
Numa altura em que o estado dos navios da Armada portuguesa está longe de ser o melhor, o estaleiro da Marinha corre o risco de ficar "inoperacional" por falta de pessoal e tem equipamentos "obsoletos". O aviso está num documento da empresa pública que gere o Arsenal do Alfeite, localizado em Almada, num plano de actividades e orçamento homologado há menos de três meses pela tutela dos ministérios das Finanças e da Defesa e lido pelo Exclusivo da TVI (do grupo da CNN Portugal).
O novo plano de actividades é claro ao dizer que a empresa pública "debate-se com escassez de recursos humanos e enfrenta sérios riscos de inoperacionalidade da estrutura produtiva associada à perda de capacidades técnicas e envelhecimento da população".
Além disso, o relatório acrescenta que, "aliado a esta ameaça premente, esta empresa tem sofrido as repercussões da constante redução dos recursos humanos".
O diagnóstico é confirmado pela comissão de trabalhadores que sublinha que são cada vez menos e a idade média já ronda os 50 anos, com muitos funcionários próximos da idade da reforma.
O Arsenal do Alfeite é o estaleiro onde devem ser reparados os navios da Armada portuguesa apesar de desde 2009 ser uma empresa pública que se autonomizou da Marinha.
Na altura, em 2009, o Arsenal tinha 1.200 funcionários, mas hoje são poucos mais de 400, número que a empresa admite que é claramente insuficiente.
Equipamentos "obsoletos" de 1939 com "elevadas lacunas ambientais e de segurança" Os avisos à navegação por quem gere a administração da empresa pública não se ficam por aqui. O plano de actividades que traça os cenários futuros até 2024 alerta que é fundamental aprovar o plano de investimentos, algo que fonte oficial da empresa confirma à TVI, por escrito, que continua a ser trabalhado com a tutela, num elemento "imprescindível" para "modernizar" o estaleiro naval que não trabalha apenas para a Marinha. O documento homologado no final de dezembro pelo Governo revela mesmo a existência de equipamentos "obsoletos", incluindo gruas e mecanismos para tirar os navios da água que têm "elevadas lacunas ambientais e de segurança".A comissão de trabalhadores refere que costumam dizer que trabalham num "museu vivo", onde ainda se usam vários equipamentos com mais de 80 anos instalados em 1939 quando o Arsenal do Alfeite se transferiu de Lisboa para Almada.