TAP pode mexer com ranking das companhias na Europa. Air France – KLM é a que mais cresce

ECO - Parceiro CNN Portugal , André Veríssimo
28 ago 2023, 08:39
Avião (AP Photo/Armando Franca)

Lufthansa é a maior dos três principais interessados na reprivatização, mas a IAG pode destroná-la no número de passageiros. O grupo franco-neerlandês teria o maior impulso

A corrida à reprivatização da TAP tem à partida três interessados, que são também três pesos-pesados da indústria na Europa: Lufthansa, IAG e Air France – KLM. Protagonistas da consolidação do setor, olham para a companhia portuguesa como uma oportunidade para aumentar o mercado, ganhar volume e somar destinos. O grupo alemão é dos três o maior e mais valioso, mas a dona da British Airways e da Iberia pode superá-lo. A Air France – KLM é a que mais pode crescer.

Só depois de conhecidas as condições da reprivatização é que os diferentes interessados deverão assumir formalmente que estão na corrida, o que poderá acontecer ainda em setembro, segundo chegou a afirmar o ministro das Finanças, Fernando Medina. Enquanto o decreto-lei não chega, vão aquecendo os motores.

Quer o grupo IAG quer a Air France – KLM já contrataram assessores legais, financeiros e de comunicação para preparar o “ataque” à venda parcial do capital da TAP SA, que desde o final de 2021 é detida inteiramente pelo Estado. O ECO questionou a Lufthansa, mas não obteve resposta até à publicação do artigo.

O grupo alemão, que além da Lufthansa integra a Austrian Airlines, a Brussels Airlines, a Eurowings e a Swiss, é o que tem maior arcaboiço. No ano passado, transportou mais de 100 milhões de passageiros e até junho já somava 55 milhões. Comprando a TAP, deixaria ainda a maior distância os concorrentes.

A aquisição da TAP permitiria também reforçar a oferta dos três grupos na ordem dos 16% a 19%. Se a Lufthansa oferece o maior número de lugares para o atual verão IATA (83,15 milhões), que vai de 27 de março a 28 de outubro, quando se inclui a distância das rotas é o grupo IAG que salta para a frente. O dono da British Airways e Iberia disponibilizou 139 milhões de lugares-quilómetro (ASK, na sigla em inglês), o indicador mais usado pela indústria para aferir a capacidade, segundo dados da OAG Aviation.

Integrar a transportadora portuguesa no portefólio permitiria quer à Lufthansa quer à Air France – KLM, que é ainda dona da Transavia, ombrear com o IAG. Com um crescimento percentual de 19%, o grupo franco-neerlandês seria o mais beneficiado.

A constelação de companhias da empresa alemã destaca-se como tendo a maior frota de aviões. Ranking que a compra da transportadora portuguesa, limitada pelo plano de reestruturação e o aeroporto Humberto Delgado, não permite alterar. Fica, no entanto, patente que qualquer uma delas daria à TAP outro poder negocial no leasing das aeronaves.

Os dados não incluem a compra da Air Europa pelo IAG, num negócio de 400 milhões (80% do capital), mas que aguarda ainda a luz verde da Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia, que abriu uma investigação aprofundada. A Lufthansa comprou uma posição minoritária (40%) na italiana ITA, que aguarda também luz verde regulatória.

A Lufthansa também sobressai no volume de negócios. No último exercício completo, registou 32,8 milhões de euros em receitas, bem acima dos concorrentes (ver gráfico abaixo).

A forte recuperação do volume de negócios face à pandemia, iniciada em 2022, prosseguiu no primeiro semestre deste ano e encurtou o fosso. O grupo alemão continua a liderar, com 16,4 mil milhões, mas seguido mais de perto pela Air France – KLM (14 mil milhões) e o IAG (13 mil milhões). A TAP ainda não divulgou os resultados do primeiro semestre, mas mais uma vez levaria a um maior nivelamento, caso o IAG ou o grupo franco-neerlandês vencessem a privatização.

Já quando se olha para a margem operacional nos primeiros seis meses deste ano, a Lufthansa (4,9%) surge como a menos rentável, face aos 9% das concorrentes. Os 414 milhões de lucros conseguidos entre janeiro e junho ficam também aquém dos 921 milhões da IAG, mas acima dos 260 milhões do grupo franco-neerlandês.

Ainda no plano financeiro, o dono da British Airways e Iberia é o mais endividado, com uma dívida líquida de 7,6 mil milhões, e o menos é a Air France – KLM, com 4,9 mil milhões. A alavancagem não é muito diferente: 1,2 vezes o EBITDA no grupo franco-neerlandês, 1,5 vezes na IAG e 1,7 vezes na Lufthansa.

A aquisição da TAP também poderá também vir a alterar o jogo de forças na bolsa. Lufthansa e IAG valem ambas mais de nove mil milhões de euros, com vantagem curta para o grupo alemão. Ambos muito abaixo da Ryanair, que chega aos 17,9 mil milhões de euros. A Air France KLM fica a uns distantes 3,6 mil milhões.

É com estes argumentos que os interessados na reprivatização da TAP se vão posicionar na corrida à próxima noiva do setor na Europa, . As rotas para o Brasil são o grande atrativo da companhia portuguesa, como tem sido sublinhado pelos concorrentes, mas também as ligações a África ou aos EUA.

O músculo operacional e financeiro será importante mas não decisivo num concurso onde o preço não será o único fator. A preservação da marca, do hub no aeroporto de Lisboa e das rotas serão também determinantes para a escolha, como já sinalizou o Governo.

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