Adalberto Campos Fernandes afirma que caso das gémeas tratadas no Santa Maria está a "desgastar a imagem do hospital e do SNS"

2 dez 2023, 23:18

Ex-ministro da Saúde, em entrevista à CNN Portugal, destacou que todo o processo deveria ter sido encerrado quando os neuropediatras concluíram que não existia qualquer vantagem terapêutica na administração do medicamento mais caro do mundo e sublinhou que, por estar em causa o nome do Presidente da República, o caso já deveria ter sido esclarecido

Adalberto Campos Fernandes sublinhou este sábado, em declarações à CNN Portugal, que o caso do tratamento milionário às gémeas no Santa Maria está a "desgastar a imagem do hospital, do SNS e a criar descrédito nas instituições". Para o ex-ministro da Saúde, todas as dúvidas que se têm adensado sobre este processo já deveriam ter sido resolvidas. "Estando em causa a Presidência da República, eu esperaria que não fossem necessários tantos meses para que os serviços se inteirassem sobre quem interferiu e de que maneira".

"Este caso do meu ponto de vista devia ter já sido esclarecido em muitos poucos dias, porque nós estamos a falar de um conjunto de intervenientes, num processo, cuja intervenção pode ser facilmente verificada e a componente documental e processual também pode ser facilmente verificada", afirma o médico.

Campos Fernandes manifesta ainda a sua "perplexidade" por, até ao momento, serem "poucas" as "explicações que existem sobre o facto de os neuropediatras terem manifestado uma posição clínica de que não haveria justificação para o fármaco - o mais caro do mundo - ser administrado" e, aparentemente, "ter havido uma pressão contrária nesse sentido".

Se os médicos tivessem sido "respeitados na soberania da sua decisão" algumas das questões no centro deste caso já estariam resolvidas, destaca Adalberto Campos Fernandes garantindo que todo o processo de administração do tratamento às gémeas que sofrem de atrofia muscular espinhal "deveria ter terminado quando os neuropediatras disseram que não havia necessidade para a administração" do fármaco.

Campos Fernandes referia-se aos alertas de vários especialistas que têm salientado que a utilização do medicamento em questão - o Zolgensma - não traz, por si só, qualquer vantagem terapêutica. Nomeadamente, Miguel Guimarães, ex-bastonário da Ordem dos Médicos sublinhou que “o próprio estudo do Infarmed e das outras autoridades reguladoras do medicamento mostram exatamente isso”. E José Pedro Vieira, neuropediatra reiterou que “nenhum tratamento para atrofia muscular espinhal reverte a doença”. “A expectativa de cura é irrealista e a deficiência que existia permanece no essencial.”

Assim, Adalberto Campos Fernandes propõe a seguinte reflexão: "É normal que do ponto de vista humanitário alguém possa interpelar uma situação clínica para um serviço de saúde, mas quem decide, no final, são os médicos que têm essa responsabilidade ética e deontológica para o fazer". Por isso, continua, o facto de o Ministério Público ter avançado com um inquérito contra desconhecidos levanta "dúvidas":  "Nós no fundo conhecemos a maior parte dos intervenientes", sublinha.

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