Crianças adicionadas a grupos no WhatsApp. Mães contam o que viram: centenas de mensagens e 'nudes'

1 dez 2023, 08:01
WhatsApp (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket via Getty Images)

Crianças e jovens estão a ser adicionados a grupos de WhatsApp onde são partilhados conteúdos pornográficos e não só. Falámos com duas mães que descobriram estes grupos nos telefones dos filhos antes do assunto ser notícia

“’Adicionem toda a gente’ ou ‘Adicionem quem quiserem’. Era um nome assim”. Quando a PSP lançou o primeiro alerta de grupos de WhatsApp onde crianças e jovens eram adicionados e depois era partilhado conteúdo de cariz sexual e de violência, Luísa (nome fictício) sentiu que a descrição “era familiar”. O filho tem 11 anos e com alguma frequência verifica o seu telemóvel. Há cerca de duas semanas, Luísa encontrou um desses grupos. Poucos dias depois era a Polícia Judiciária a lançar um novo alerta

“Achei aquilo tudo muito estranho. As conversas estavam a escalar. Usavam palavrões e imagens mais gráficas”, explica Luísa. Assume que não viu pornografia explicita, mas viu uma foto “de uma mulher nua e um homem com a mão em cima do peito. Também havia gifs a simular que estavam a ter sexo. Coisas assim”, recorda.

Questionou o filho sobre aquele grupo. “’Mas tu conheces estas pessoas?’ Ele disse conheço ‘o não sei quantos e o não sei quantos’. Eram dois”. Luísa retirou o filho do grupo e apagou o grupo. Ele não terá participado em conversas e Luísa acha que ele tinha sido adicionado naquele dia ou no dia anterior.

Além dos amigos identificados, Luísa não conhecia mais nenhum número, nem o filho: “Aquilo era tudo números basicamente desconhecidos, mas números portugueses”.

Luísa falou com o filho e avisou-o para não se juntar a grupos de pessoas que não conhece. Percebeu que ele “não ligou ao grupo” e que, por ser recente, não teria visto quase nada das mensagens. Não se lembra ao certo do nome do grupo do WhatsApp: “’Adicionem toda a gente’ ou ‘Adicionem quem quiserem’, era um nome assim” e “havia mesmo um incentivo a juntar mais pessoas ao grupo”.

Apesar de ter telemóvel e usar o WhatsApp, o filho de Luísa não tem redes sociais e esta não tem dúvidas que ele foi adicionado por algum colega ou amigo ao grupo. Desde então, e mesmo antes dos alertas das autoridades, Luísa passou a verificar o telemóvel do filho de dois em dois dias, mas não apresentou queixa, nem fez denúncia. Agora, tal como pedido pelas autoridades, vai bloquear a possibilidade de ser adicionado a grupos do WhatsApp.

"Não tinha pornografia infantil, mas tinha 'nudes', imagens de corpos nus"

Foi há cerca de três semanas que a filha de Inês (nome fictício), com 10 anos de idade, lhe contou que um amigo dela do Norte a tinha adicionado a um grupo que se chamaria qualquer coisa como "vamos atingir o maior número de pessoas de sempre", recorda à CNN Portugal. Não se lembra bem do nome, mas era à volta destas palavras.

Perguntou à filha o que era o grupo e esta respondeu: "São tantas mensagens que eu nem consigo acompanhar". Inês costuma ver o telefone da filha, mas nem sempre lê todas as mensagens do WhatsApp. Por norma verifica os anexos que são enviados através desta rede.

A dada altura a filha mostra-lhe algumas coisas que estavam a ser partilhadas no grupo. "Não era pornografia de menores, nem pornografia explícita. Nem vi imagens enviadas como anexo. Eram 'memes' e também havia 'nudes'". Disse-lhe que ela ia sair imediatamente do grupo e que ia "denunciar o grupo" dentro do WhatsApp. No entanto, reparou que o grupo tinha mudado de nome: "Agora era 'fãs do coloridinho ou fãs do colorido', qualquer coisa assim".

Com calma olhou para o conteúdo do grupo: "Estive a ver o grupo, eram centenas de mensagens. Não tinha pornografia infantil, mas tinha 'nudes', imagens de corpos nus. E também não dava para perceber se eram adultos" a interagir ou publicar.

Na altura não falou com ninguém, nem foi à polícia e, só agora, após o alerta das autoridades percebeu o alcance e gravidade do que se estava a passar. "Nunca imaginei as proporções que isto ia ter", confessa Inês.

Mesmo assim, era grave e, na altura, falou com a filha, explicou que ela tinha feito bem em contar-lhe do grupo. Depois alertou-a para os perigos que existem online e sobre os quais já tinham falado no passado. Recorda ainda que a filha lhe contou que algumas pessoas se queixaram das coisas publicadas e pediram para "não enviarem aquelas coisas".

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