Zelensky avisa que “o mundo está à beira de muitas novas crises”

23 mar 2022, 10:38

Presidente da Ucrânia discursou perante o Parlamento do Japão, a quem pediu um embargo comercial total à Rússia. Acusou a comunidade internacional de não estar a fazer o suficiente, reclamou novos mecanismos de prevenção de agressões militares, e alertou para o risco de uso de armas nucleares pelo Kremlin

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediu esta quarta-feira ao Japão para aumentar a pressão das sanções sobre a Rússia, introduzindo um embargo comercial total aos produtos russos. No discurso perante uma sessão especial das duas câmaras do Parlamento japonês, que o aplaudiu de pé, Zelensky acusou também a comunidade internacional - nomeadamente a ONU - de não estar “a fazer o suficiente” pela Ucrânia. 

Na opinião do presidente ucraniano, “as organizações internacionais não funcionaram”, e “têm de ser reformadas”. “Se as organizações internacionais não funcionam, precisamos de instrumentos preventivos” de agressões como a que a Rússia desencadeou contra a Ucrânia, defendeu Zelensky, apelando ao Japão para que promova iniciativas nesse sentido.

"Os Estados responsáveis unem-se para proteger a paz”, disse o líder ucraniano, agradecendo aos nipónicos a posição firme que têm assumido, e o facto de terem sido “os primeiros na Ásia que realmente começaram a pressionar a Rússia para restaurar a paz, que apoiaram as sanções contra a Rússia”. Essas sanções devem, porém, ser reforçadas, apelou Zelensky, até para “mandar uma mensagem muito forte a futuros invasores” - uma referência subtil aos receios do Japão em relação a ambições territoriais da China, tanto na questão de Taiwan como em relação às ilhas japonesas Senkaku, que Pequim reclama como suas.

Uma guerra que trará “muitas crises “

Ao dirigir-se ao parlamento de Tóquio através de uma ligação vídeo, Zelensky chamou a atenção para as “muitas crises” que a invasão russa irá provocar, não apenas naquela região, mas em todo o planeta. "O mundo está à beira de muitas novas crises", alertou, enumerando-as: os mercados financeiros estão em sobressalto; há ainda mais pressão sobre as cadeias logísticas, há novas ameaças ambientais, e há enormes riscos de segurança alimentar. “Esta invasão desestabilizou o mundo todo”, resumiu Zelensky.

Crises que afetam bastante o Japão e, por isso, o presidente ucraniano repetiu a ideia de que “estamos na luta juntos”.

Novos riscos nucleares

Mas há uma questão em particular a que o Japão é sensível, e a que Zelensky deu grande destaque na sua intervenção: os renovados riscos nucleares que assombram o mundo. Por um lado, porque a Rússia controla a zona de exclusão de Chernobyl e atacou a maior central nuclear da Europa. O presidente ucraniano acusou - sem adiantar provas - que Moscovo estará a preparar novos ataques da chamada zona de exclusão em torno da central nuclear de Chernobyl, que foi ocupada pelas forças russas no primeiro dia de guerra. 

Por outro lado, Zelensky lembrou que o Kremlin assumidamente não põe de lado a possibilidade de recorrer a armas nucleares neste confronto - ainda ontem o porta-voz de Putin admitu o recurso a esse arsenal. “Se forem usadas bombas nucleares, como é que o mundo irá responder?”, questionou Zelensky, falando para os representantes eleitos do único país que alguma vez foi vítima de bombas nucleares. A guerra russa na Ucrânia está a provocar um renovado interesse das potências asiáticas pela ideia de ter arsenais nucleares (até no partido do governo no Japão já é admita a possibilidade do país albergar mísseis nucleares americanos), e Zelensky lembrou que, se houver recurso a armas nucleares, “a confiança no futuro está perdida em todo o lado”.

No final da sua intervenção, Zelensky foi aplaudido de pé por uma plateia onde estavam o primeiro-ministro e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, e os líderes das duas câmaras da Dieta Nacional. Antes da alocução do presidente ucraniano, o chefe do governo nipónico Fumio Kishida tinha admitido que o Japão poderá endurecer as sanções à Rússia e aumentar o apoio à Ucrânia, mas disse que queria ouvir primeiro o que Zelensky teria a dizer.

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