Boavista - V. Guimarães, 4-1 (crónica)

14 nov 2000, 23:30

O futebol, agora sem pressões No terreno de jogo, a raiva natural de vencer um adversário historicamente difícil. As declarações de Pimenta Machado na véspera anunciavam o ambiente escaldante, mas o Boavista preferiu alhear-se de pressões e jogar cada vez melhor. Marcou três golos até ao intervalo e nem com a expulsão de Petit, já na segunda parte, desistiu de marcar mais. A defesa do Guimarães colaborou da melhor forma, sendo o pior sector em campo.

A vontade de elogiar a beleza do futebol surge em forma de protesto contra as declarações cirúrgicas, as manobras de bastidores e as pressões sobre os árbitros. A véspera do jogo de hoje foi marcada por declarações inflamadas de Pimenta Machado, que falou em favorecimentos ao Boavista que levaram a vitórias menos claras. É certo que ficaram dúvidas sobre alguns lances crucias nos triunfos axadrezados, mas a verdade também deve doer ao presidente vimaranense se se abordar o encontro de hoje. 

Pois bem, e num esforço de contenção, de uma vez por todas que os dirigentes se deixem de tricas, estratégias ocultas ou frases estudadas e ofereçam aos jogadores maior autonomia no discurso, na maneira de estar fora de campo e, essencialmente, na postura de lealdade que devem assumir no relvado perante os adversários. O futebol português possui talento e qualidade suficientes para oferecer bons espectáculos aos espectadores e levar os clubes a lugares mais dignos nas competições internas e externas. Fim de desabafo. 

Sim, é lindo 

A partir deste momento, só se vai falar de futebol. Pelos cinco golos, pelas exibições de Silva, Martelinho, Rui Óscar e Petit (apesar da expulsão), pela goleada esclarecida do Boavista a um Guimarães que permanece irreconhecível e que está a acumular dados negativos na sua história ¿ o pior arranque de, pelo menos, as últimas duas décadas e a derrota mais desnivelada dos últimos 39 anos. Pior no Bessa, só em 51/52, quando perdeu por 4-0. 

A vitória justifica-se, basicamente, pelo 30 minutos avassaladores dos axadrezados, que sufocaram o meio-campo e defesa adversárias, e marcaram três golos sem grande favor. O jogo do domínio começou logo aos 6¿, com Auri a introduzir a bola na própria baliza, só que o arbitro auxiliar entendeu que Silva estava em fora-de-jogo posicional. Só serviu para alimentar, ainda mais, o espírito de raiva latente nos olhar vestido de xadrez. Dois minutos depois, o primeiro golo, por Silva, que aproveitou uma das inúmeras desatenções da pecaminosa defesa de Guimarães. 

Ninguém sentiu as ausências de Sanchez e Rui Bento e Petit aproveitou para agigantar-se, ajudado pelo motivadíssimo Pedro Santos. Defendeu, recuperou bolas, subiu no terreno e rematou duas vezes com muita força à baliza de Tomic. Mas não foi por acção do «trinco» que surgiram os momentos de êxtase e libertação do Boavista. Antes do intervalo, os mesmos protagonistas. A desatenção da defesa forasteira e a matreirice de Martelinho e Silva ofereceram a vantagem larga já ao intervalo, com golos de Pedro Santos e Jorge Couto. Assim é lindo ver futebol ¿ é claro que Autuori não concorda, mas... 

Com menos um e sem diferenças 

Ninguém podia adivinhar que o dúbio cartão amarelo mostrado por Isidoro a Petit a poucos segundos do intervalo levasse à expulsão do médio. Uma entrada mais dura sobre Congo levou o árbitro a pensar duas, três vezes, a olhar atentamente para o pé do colombiano e levantar os braços com cartões de diferentes cores à frente do boavisteiro. Obviamente houve contestação nas bancadas, com alusões à incompetência do juiz (e respectivos palavrões).  

Não se notaram grandes diferenças no jogo, apesar de uma equipa estar a jogar só com dez. É que já existia uma nítida vantagem de golos e a vontade de segurar o resultado sobrepunha-se a qualquer outro interesse. Pacheco ainda retirou Silva e colocou Gouveia, fazendo pairar a ideia que abdicava do ataque para poder defender melhor o gozo dos três golos. O V. Guimarães vinha com as orelhas quentes do balneário e tentou aproveitar o momento para tentar marcar uma vez. Nada feito, embora tenham surgido duas oportunidades que poderiam ter justificado essa vontade. 

Até ao fim, o jogo foi incaracterístico. Duda entrou em campo e foi um digno sucessor dos diabólicos Jorge Couto e Martelinho. Auri e Paulão nunca tiveram descanso e foram os principais culpados do desaire ¿ sempre atrás de Rogério Matias, que foi um buraco autêntico no lado esquerdo e talvez tivesse sido melhor não recuperar das dores nas costas que o levaram ao lote de dúvidas antes do encontro. Jorge Silva marcou o quarto golo, da redenção, mas Evando acabou por amenizar o descalabro com um tento no último instante do encontro. Festejou, pulou, foi gozado pela assistência e Isidoro terminou com o martírio de Autuori.

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