PARTE III da entrevista do Maisfutebol a Vítor Matos, membro da equipa técnica do Liverpool
O Valadares perdeu um jogador, mas ganhou um treinador. Inspirado pelo FC Porto de Mourinho, Vítor Matos foi como que empurrado para uma carreira nos bancos de suplentes. Começou no clube gaiense e rapidamente chegou ao FC Porto através de Luís Castro e por lá se manteve durante cinco épocas.
Partiu para os chineses do Shandong Luneng em 2017 e regressou a casa, segundo o próprio, a convite de Rui Barros. No entanto, tornou a sair pouco mais de um ano após ter voltado. O convite do Liverpool feito por Pepijn Linders (outro ex-FC Porto) foi irresistível.
Vítor Matos tornou-se admirador e um dos braços direitos de Jurgen Klopp, além de responsável pelo desenvolvimento dos jogadores de elite do Liverpool. O português chegou a ser considerado como a melhor contratação do clube por Pepijn Linders.
PARTE I: O adjunto de Klopp que guardou jornais sobre o FC Porto de Mourinho
PARTE II: «Em cinco minutos Klopp convence-te a conquistar o mundo com ele
Maisfutebol: Falemos no contexto mais geral do Liverpool. Praticamente não deram hipóteses na Premier League. Quais os pontos do sucesso da equipa?
Vítor Matos: Tudo começa com um grupo de jogadores fantásticos. Quando o talento e a criatividade aceitam que o jogo é colectivo, quando os teus jogadores entendem que são responsáveis por aquilo que acontece em termos ofensivos e defensivos, tu tornas-te numa equipa com a qual as outras têm de estar preocupadas. Quanto mais organizados enquanto clube formos, mais os jogadores sentem a importância do detalhe, e sem dúvida que eles sentem o esforço, o profissionalismo e a dedicação que todo o clube tem todos os dias em prol deles. Esta união e esta cultura têm muito a ver com o sucesso desta época. Todos temos a sensação de que vencemos o jogo durante a semana e não ao fim de semana. A ambição, a mentalidade, o talento e a criatividade do grupo é fantástica.
Porém, hoje em dia o Liverpool não é uma equipa só de pressão (gegenpressing) e de verticalidade. Ganhou maior versatilidade.
Tem que ver com vários fatores, entre eles, a forma como conseguimos potenciar essas características dos jogadores em função daquilo que é a nossa ideia de jogo. Esta variabilidade está também relacionada com a sensibilidade que a equipa foi construindo para, perante diferentes problemas, conseguir ajustar-se em termos coletivos. Está tudo relacionado com a forma como gerimos o ritmo e o espaço do jogo.
O Lallana referiu, aquando da chegada do Klopp ao Liverpool, que a exigência física aumentou, mas que a dor provocada pelo esforço era boa. Como é que se convence jogadores com qualidade tremenda a terem essa atitude?
Sim. Para além de convencer, exigir. Nós exigimos compromisso com aquilo que são os nossos princípios de jogo fundamentais e é isso que nos garante fluidez e intensidade. Acreditamos que devemos ter organização e cultura tática, e o Jurgen consegue encher isto com muita vida e paixão. Este equilíbrio é fundamental e funciona nos dois sentidos. Se tivéssemos só paixão por certo não iríamos ser tão regulares e consistentes.
O Liverpool é praticamente campeão inglês. Qual sensação tanto no clube como na cidade com a suspensão da Premier League devido à Covid-19?
Quando o que está envolvido é algo tão sério como a saúde de todos nós e o bem-estar de um país, sinceramente nem temos espaço para outro tipo de sentimentos. Sentimo-nos sim, orgulhosos por todo o trajeto e processo que fomos desenvolvendo até agora. Sabemos que o futebol vai regressar e quando isso acontecer iremos voltar a onde terminámos. Vamos treinar e jogar com a nossa identidade e paixão.
Para já não há data para o regresso da competição. Acredita que será possível concluir a Liga?
Existem vários cenários possíveis e várias soluções que permitem que se conclua a liga. Neste sentido o governo inglês, a Premier League e o clube têm estado em constantes conversações para procurar a melhor solução. Neste momento aquilo que nos compete é focar no que podemos fazer para manter a nossa saúde e a saúde dos outros. Isso é o mais importante neste momento.
Onde se imagina daqui a dez anos?
Onde me sinta bem e onde as pessoas me queiram. O momento atual que vivemos é a prova que tudo deve ser relativizado e que devemos estar sempre perto daquilo que é mais importante para nós. O que eu pretendo sempre é que as coisas façam sentido para mim, para a minha família e para o clube.
Por último, quais são os treinadores que tem como referência?
Jurgen Klopp (risos).