Grande Barreira de Coral ameaçada pelas alterações climáticas. Austrália promete 700 milhões de dólares

CNN , Rhea Mogul
4 fev 2022, 08:00
A Grande Barreira de Coral é o habitat de mais de 1500 tipos de peixes, mais de 400 tipos de corais duros e dezenas de outras espécies. Foto: Reinhard Dirscherl/ullstein bild/Getty Images

Numa carta publicada em julho do ano passado, 13 figuras públicas – atores, ex-políticos e jornalistas – pediram aos líderes para agirem depressa e “salvarem” o recife

O governo australiano prometeu, na sexta-feira, mil milhões de dólares australianos (700 milhões de dólares americanos) para proteger a Grande Barreira de Coral meses depois de evitar, por pouco, ser colocada na lista de "perigo" da agência cultural da ONU, devido à ameaça das mudanças climáticas.

O primeiro-ministro Scott Morrison divulgou o pacote de conservação de quase uma década antes do prazo de 1 de fevereiro estabelecido pela UNESCO para apresentar um relatório sobre o estado de conservação do recife.

“Apoiamos a saúde do recife e o futuro económico dos operadores turísticos, fornecedores de hospitalidade e comunidades de Queensland que estão no centro da economia do recife”, afirmou o chefe de governo num comunicado.

O financiamento apoiará novas tecnologias de adaptação ao clima, investimento em programas de qualidade da água e protegerá espécies-chave no recife biodiverso, acrescentou.

Em julho, a UNESCO debateu se a Grande Barreira de Coral estava “em perigo” - uma designação que significa que um local está sob ameaça. Se não se tomassem medidas para abordar as preocupações, corria o risco de perder o seu estatuto de Património Mundial, alertou a agência da ONU.

Numa carta publicada em julho do ano passado, 13 figuras públicas – atores, ex-políticos e jornalistas – pediram aos líderes para agirem depressa e “salvarem” o recife.

“Pedimos aos principais emissores do mundo que tomem a ação climática mais ambiciosa sob o Acordo de Paris”, estipulava a carta. “Ainda estamos a tempo de salvar a Grande Barreira de Coral, mas a Austrália e o mundo devem agir agora.”

O anúncio de Morrison, na sexta-feira, precede uma eleição geral prevista para maio.

O Conselho Australiano do Clima, que é independente do governo, rejeitou a promessa de Morrison, apelidando-a de "um penso rápido numa perna partida" num comunicado na sexta-feira.

“A menos que se corte significativamente as emissões nesta década, a situação no recife só vai piorar”, afirmou o professor Lesley Hughes, cientista climático e professor de Biologia da Universidade Macquarie, no comunicado.

Em entrevista à estação de rádio 4A Cairns na sexta-feira, Scott Morrison explicou que as emissões estão enquadradas nas políticas que o governo estabeleceu, o que é benéfico para o recife.

“Estamos a alcançar estes objetivos e vamos continuar a fazê-lo, porque somos apaixonados por isto”, afirmou.

O impacto da crise climática

A Grande Barreira de Coral, o maior recife de coral do mundo, abrange cerca de 344 000 quilómetros quadrados e é o habitat de mais de 1500 tipos de peixes, mais de 400 tipos de corais duros e dezenas de outras espécies.

Porém, os efeitos da crise climática, juntamente com uma série de desastres naturais, tiveram um impacto devastador no recife. Uma investigação de cinco anos do governo australiano em 2019 descobriu que a condição da maravilha natural tinha-se deteriorado de “pobre” para “muito pobre”.

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O recife perdeu 50% da sua população de corais nas últimas três décadas, segundo um estudo publicado em outubro de 2020 por investigadores do Centro de Excelência para o Estudo dos Recifes de Coral do Conselho de Investigação Científica da Austrália.

Num relatório publicado em junho do ano passado, uma missão de monitorização da UNESCO revelou que, apesar do trabalho do governo australiano para melhorar a situação do recife, “não há dúvidas de que o património está a enfrentar um perigo comprovado.”

Contudo, o governo australiano opôs-se fortemente a essa conclusão. A ministra do Ambiente Sussan Ley voou para a Europa em julho como parte de uma última tentativa de convencer os outros membros do Património Mundial a votar contra a medida. Atualmente, a Austrália pertence ao comité rotativo de 21 países.

Scott Morrison afirmou na sexta-feira que o recife era o “mais bem gerido” do mundo.

“Hoje, elevamos o nosso compromisso a outro nível”, afirmou.

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