Quem teve covid-19 no surto da Ómicron precisa de reforço? Esta e outras respostas às dúvidas que se colocam agora

CNN , Deblina Chakraborty
29 jan 2022, 12:00
Pfizer

A Pfizer e a BioNTech anunciaram na terça-feira que vão iniciar o ensaio clínico de uma vacina específica para a variante Ómicron, e a Moderna revelou esta quarta-feira já ter iniciado a segunda fase de um ensaio para uma vacina contra esta variante que é, de longe, a variante dominante neste momento nos Estados Unidos (e em Portugal).

Cerca de 50% dos americanos elegíveis já receberam a vacina de reforço, segundo os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, mas, ainda assim, as notícias vindas da Pfizer e da Moderna poderão levantar dúvidas. Quem ainda não foi vacinado deve esperar até haver uma vacina específica para a Ómicron? Quem já teve covid-19 no surto da Ómicron ainda precisa da vacina de reforço? E o que significa isto para as pessoas que já tomaram o reforço ou que tomaram a vacina de toma única da Johnson & Johnson e, posteriormente, uma dose de outra?

Para responder a estas e a outras perguntas, falámos com a consultora médica da CNN, Leana Wen. Wen é médica da urgência e professora de política e gestão de saúde no Instituto Milken de Saúde Pública da Universidade George Washington. É também autora de "Lifelines: A Doctor's Journey in the Fight for Public Health."

CNN: As pessoas devem adiar a toma do reforço até haver uma vacina específica para a Ómicron?

Leana Wen: Não, não devem. Todas as pessoas elegíveis para tomar o reforço, devem tomá-lo já.

Eis as duas principais razões: primeiro, há cada vez mais provas de que é necessário uma terceira dose da vacina da Pfizer ou da Moderna ou uma segunda vacina após a Johnson & Johnson para assegurar uma proteção prolongada contra a covid-19. Na semana passada, três novos grandes estudos do CDC concluíram que os reforços protegem contra doença grave e reduzem a probabilidade de contrair o coronavírus.

Durante um período em dezembro e janeiro, quando a Ómicron era dominante, um estudo concluiu que tomar uma dose de reforço tinha uma eficácia de 90% na prevenção de internamento, comparado com a eficácia de 57% nas pessoas vacinadas que não tinham feito o reforço, passados seis meses depois da segunda dose. Outro estudo que analisou mais de 13 mil casos da Ómicron concluiu que a probabilidade de desenvolver uma infeção sintomática era 68% inferior em participantes com três doses em relação aos com apenas duas doses.

Segundo, as vacinas específicas para a Ómicron ainda estão em ensaios clínicos que demorarão meses a ficarem concluídos. Ainda não conhecemos os resultados desses ensaios nem se essas vacinas específicas de uma variante serão melhores do que as vacinas originais. Mesmo que venham a ser autorizadas, isso só será daqui a meses, e com os casos de Ómicron ainda a subir a pique, as pessoas não devem adiar o reforço.

Se são adultos e se já faz pelo menos cinco meses desde as vossas duas doses da Pfizer ou da Moderna, ou dois meses desde a toma única da Johnson & Johnson, devem fazer já o reforço. Também é recomendado que adolescentes a partir dos 12 anos recebam a terceira dose da vacina da Pfizer, caso tenham passado pelo menos cinco meses desde a sua segunda dose (só está autorizada a vacina da Pfizer/BioNtech para os adolescentes dos 12 aos 17).

CNN: Se tomarmos o reforço geral agora, isso quer dizer que não poderemos tomar o reforço para a Ómicron mais tarde?

Wen: Não. Um dos grupos que a Pfizer está a estudar inclui pessoas que tomaram as três doses e vão agora receber uma quarta dose que é específica para a Ómicron. A empresa irá estudar os efeitos dessa quarta dose. Poderá acontecer que uma quarta dose seja desnecessária porque o reforço inicial continuará a conferir uma boa proteção. Mas se o reforço para a variante, para além da terceira dose, for algo que aumente em muito a proteção, a recomendação poderá ser para que essas pessoas também a tomam no futuro.

CNN: E para quem teve a Ómicron recentemente? Ainda deve tomar o reforço?

Wen: A maioria das pessoas não sabe com que variante foi infetada, mas dado que a Ómicron constitui agora mais de 99% das novas infeções [nos Estados Unidos], se tiverem contraído recentemente o vírus, o mais provável é ter sido a variante Ómicron. As pessoas que estão vacinadas e que recuperaram da infeção aparentam ter um alto nível de imunidade. A imunidade obtida com a recuperação é, no entanto, variável. Alguém que esteve gravemente doente poderá ter uma resposta de anticorpos mais forte do que alguém que teve uma infeção assintomática, e não sabemos quanto tempo dura essa imunidade. É por isso que se recomenda à mesma o reforço para quem já teve covid-19. Podem fazer o reforço assim que terminar o período de isolamento, desde que já não tenham febre e os sintomas estejam a melhorar [nota: em Portugal, o reforço após infeção terá de esperar três meses]

CNN: Que duração tem o reforço? Acha que precisaremos de um segundo reforço brevemente?

Wen: Não sabemos. Um novo estudo não publicado da Universidade do Texas que está online, mas que ainda não foi revisto por especialistas, concluiu que os anticorpos contra a Ómicron se mantêm fortes durante quatro meses depois do reforço. Há também outras componentes da resposta imunitária, as células T e B, que podem continuar fortes durante meses também, mas ainda não sabemos quando é que a imunidade começa a desaparecer após a toma das três doses. Isto é algo que os investigadores monitorizarão atentamente. Entretanto, as provas indicam claramente que as pessoas precisam de tomar uma dose de reforço.

CNN: E as pessoas que tomaram inicialmente a vacina da Johnson & Johnson e depois um reforço? Precisam de uma terceira dose?

Wen: Eu sou uma dessas pessoas. Inicialmente, tomei a vacina de toma única da Johnson & Johnson num ensaio clínico e, depois, decidi fazer uma mistura e tomei o reforço da Pfizer. Penso que quem recebeu uma segunda dose seja de que vacina for (Pfizer, Moderna ou J&J) a seguir à vacina inicial da J&J, não precisa de tomar uma terceira dose neste momento. Um estudo realizado na África do Sul concluiu que uma segunda dose da J&J tinha uma eficácia de 85% contra o internamento numa altura em que circulava a Ómicron, em comparação com 63% após uma só dose. Outro estudo realizado no Reino Unido analisou a vacina da AstraZeneca, que é semelhante à da J&J e concluiu que, enquanto duas doses da AstraZeneca forneciam pouca proteção contra a Ómicron, o reforço da Pfizer a seguir à AstraZeneca resultava numa proteção de 71% contra doença sintomática. Trata-se de um nível de proteção semelhante a quem recebeu três doses da vacina da Pfizer.

De momento, a recomendação nos EUA [e em Portugal] é de que quem tomou a J&J inicialmente fica bem com uma segunda dose de qualquer uma das vacinas autorizadas. Não tenciono tomar uma terceira dose no futuro próximo. Porém, acho que tem havido algum atraso na orientação para os recetores da J&J e espero que não haja o mesmo atraso numa recomendação caso os estudos concluam ser necessária uma terceira dose.

CNN: Acha que o desenvolvimento de vacinas específicas para a Ómicron ajudará a acelerar o fim da pandemia?

Wen: Em geral, estou otimista quanto ao fim da pandemia. Não que a covid-19 vá desaparecer – é algo que quase de certeza continuará connosco no futuro próximo – mas temos agora muitas mais ferramentas que nos permitirão conviver com o vírus de forma a ele não dominar a nossa vida.

O desenvolvimento de novas vacinas será essencial para podermos conviver com a covid-19. Espero que haja mais investigação a nível das vacinas contra os coronavírus em geral para que, caso surjam novas mutações, não tenhamos de andar a apalpar às escuras.

Dito isso, acho bom as empresas estarem a desenvolver vacinas específicas para as variantes, sobretudo se vierem oferecer uma proteção melhor e mais robusta. Mas, mais uma vez, só saberemos se é esse o caso daqui a meses e, até lá, as pessoas não devem adiar a toma do reforço.

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