Foi pedido a "uma das melhores mentes económicas da Europa" que faça um relatório sobre o nosso futuro. Enquanto esperamos pelo resultado disso, Ursula von der Leyen quer mitigar o risco de sermos extinguidos pela IA e pela inflação

13 set 2023, 11:35
Discurso do Estado da União de Ursula von der Leyen (AP)

Presidente da Comissão Europeia fez o ponto da situação do estado da União: da União Europeia, da nossa união com o clima, da união à causa ucraniana (mas também africana), da nossa união ao dinheiro - ou à falta dele. Mas fez também o estado da desunião - e sobretudo da desunião com a China. "Este é o momento de a Europa responder ao chamamento da História", disse von der Leyen no seu discurso em Estrasburgo. E este é o momento de explicarmos o essencial desse discurso da presidente da Comissão

1. Uma das melhores mentes

A inflação vai demorar mais tempo a resolver do que o esperado e será o "grande desafio económico" da União Europeia. A presidente da Comissão Europeia admite que a elevada inflação é um dos principais problemas a afetar o continente e que retomar o alvo de 2% vai demorar algum tempo. 

“Outro grande desafio económico é a persistência de uma inflação elevada. Christine Lagarde [presidente] e o Banco Central Europeu [BCE] estão a trabalhar arduamente para manter a inflação sob controlo, [mas] sabemos que o regresso ao objetivo de médio prazo do BCE levará algum tempo”, disse Ursula von der Leyen.

A presidente da Comissão Europeia destacou outros pilares da economia que devem ser as prioridades económicas da indústria europeia no próximo ano. A  "escassez de mão-de-obra e de competências, a inflação" e a necessidade de "facilitar a atividade das empresas" são prioridades caso a União queira manter a sua competitividade. 

Para isso, von der Leyen revelou ter pedido a Mário Draghi, "uma das melhores mentes económicas da Europa" para preparar um relatório sobre o futuro da competitividade europeia. 

2. Investigação aos chineses

Ainda a falar sobre a competitividade dos mercado livre, a presidente da Comissão criticou as práticas de vários países que excluem empresas europeias dos seus mercados ou que usam o que considera serem práticas predatórias. A governante recordou o caso dos subsídios chineses à indústria da energia solar - que acabaram por apagar quase por completo a indústria europeia nesse sector.

"Não nos esquecemos como as práticas injustas chinesas afetaram a nossa indústria solar. Muitos jovens negócios foram empurrados para fora de mercado por competidores altamente subsidiados pela China." 

Para combater este tipo de casos, a Comissão Europeia vai lançar uma investigação sobre os carros elétricos chineses, que são altamente apoiados pelo governo de Pequim e, dessa forma, conseguem praticar preços muito inferiores aos da indústria europeia. Este cenário é visto na Europa como uma ameaça particularmente grave para os gigantes automóveis alemães. 

"O mercado está inundado com carros chineses artificialmente baratos através de grandes subsídios estatais. Isto distorce o nosso mercado. A Comissão vai lançar uma investigação aos subsídios estatais aos carros elétricos que vêm da China."

3. Carnificina das temperaturas extremas

Ursula von der Leyen garantiu também que Bruxelas vai “continuar a apoiar as indústrias europeias na transição energética”, prosseguindo com o chamado Green Deal europeu. Para a governante, este trabalho é fundamental não só para empurrar a economia europeia, mas também para fazer face ao problema das alterações climáticas.

"Grécia e Espanha foram afetadas por incêndios selvagens — e poucas semanas depois foram afetadas por cheias devastadoras. E vimos o caos e a carnificina das temperaturas extremas, da Eslovénia à Bulgária, através de toda a nossa União. Esta é a realidade de um planeta que está a ferver.”

Ursula von der Leyen destacou a importância da transição da economia para a utilização de energia limpa, como o hidrogénio ou a energia eólica. No entanto, o foco da União Europeia é em manter os níveis de descarbonização da indústria ao mesmo tempo que mantém a competitividade do continente. 

"Mudámos a agenda climática para uma agenda económica. Nos últimos cinco anos, o número de fábricas de aço limpas na UE cresceu de zero para 38. Estamos agora a atrair mais investimento em hidrogénio limpo do que os EUA e a China juntos."

4. O risco de extinção

Ursula von der Leyen destacou a carta escrita por um grupo de vários cientistas da área da Inteligência Artificial (IA) que alertam para a necessidade de mitigar o risco de "extinção" da nossa espécie.

"Mitigar o risco de extinção por IA deverá ser uma prioridade global, tal como outros riscos sociais como as pandemias e a guerra nuclear", começou por sublinhar.

Para isso, a Comissão quer liderar a criação de um quadro global para o desenvolvimento desta tecnologia "que está a desenvolver-se mais depressa do que os seus criadores anteciparam". Von der Leyen anunciou a criação de um novo órgão composto por cientistas, empresas tecnológicas e peritos independentes para criar um desenvolvimento rápido e coordenado da tecnologia.

“Quero agradecer a esta Câmara e ao Conselho pelo trabalho incansável nesta lei inovadora [Ato de IA de 2021]. A nossa lei de IA já é um modelo para todo o mundo. Devemos agora concentrar-nos na adoção das regras o mais rapidamente possível e passar à implementação delas.”

Ursula von der Leyen destaca também os avanços tecnológicos europeus na área da supercomputação. Diz que quer aproveitar esse salto tecnológico ao permitir que as empresas de IA possam treinar os seus modelos de linguagem nestes computadores "de forma responsável".

5. Repleta de democracias vibrantes

"O futuro da Ucrânia é na nossa União. O futuro dos Balcãs ocidentais é na nossa União. O futuro da Moldova é na nossa União."

Sem esquecer as pessoas da Geórgia que sonham com a ascensão à União Europeia, Ursula von der Leyen traçou a visão e o "interesse estratégico" para "concluir a nossa União" com "um crescimento de sucesso" para uma União "livre, democrática e próspera" com mais de 500 milhões de habitantes e repleta de "democracias vibrantes". 

Ursula von der Leyen sublinha que o alargamento "não é um caminho fácil", embora seja do interesse de todos. “Acredito que o próximo alargamento também deve ser um catalisador para o progresso.”

6. O apelo da História

A Comissão Europeia vai prolongar a proteção temporária de pessoas deslocadas pela guerra da Ucrânia causada pela invasão russa, garantindo apoio “o tempo que for necessário”.

“Estaremos ao lado da Ucrânia a cada passo do caminho e durante o tempo que for necessário. O nosso apoio à Ucrânia manter-se-á”, prometeu.

Desde o início da guerra, e ao abrigo desta diretiva europeia relativa à proteção temporária, “quatro milhões de ucranianos encontraram refúgio na União”, assinalou Ursula von der Leyen. 

“E quero dizer aos ucranianos que são tão bem-vindos agora como o eram naquelas fatídicas primeiras semanas”, referiu, classificando esta como a forma de “a Europa responder ao apelo da História”.

7. A praga

A Comissão Europeia vai organizar uma conferência internacional para combater o tráfico humano. “Precisamos de trabalhar com os nossos parceiros para enfrentar esta praga do tráfico humano. Por isso, a Comissão vai organizar uma conferência internacional para combater o tráfico de pessoas.”

A União Europeia necessita, no entender de von der Leyen, de uma aplicação da lei mais forte e de “um papel mais proeminente” das agências envolvidas no combate a este crime – Europol, Eurojust e Frontex.

“Está na altura de colocar um ponto final a este negócio insensível e criminoso.”

8. Nova abordagem a África

A presidente da Comissão Europeia anunciou hoje uma estratégia para aproximar os 27 de África e defendeu que a União tem de demonstrar a mesma unidade para combater a instabilidade geopolítica naquele continente que demonstrou com a Ucrânia.

“Precisamos de nos concentrar na cooperação com governos legítimos e organizações regionais.”

Von der Leyen recordou que a região africana do Sahel assistiu nos últimos dois anos a uma série de golpes militares e é hoje uma das regiões geopoliticamente mais instáveis do planeta, apesar de ser umas das que têm maior crescimento demográfico.

“É por isso que, em conjunto com o alto-representante [da UE para os Negócios Estrangeiros] Josep Borrell, vamos trabalhar para uma nova abordagem estratégica para levar à próxima cimeira UE – União Africana.”

A presidente da Comissão alertou para a necessidade de o fazer o quanto antes porque a Rússia está “em simultâneo a influenciar e a beneficiar do caos” em África, numa altura em que a região “se tornou um terreno fértil para o crescimento do terrorismo”.

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