"A gravidade da situação obriga-nos a fazê-lo": Universidade de Coimbra despede professor acusado de fazer propaganda pró-Putin

10 mai 2023, 16:32
Universidade de Coimbra (Facebook)

A decisão surge na sequência de denúncias feitas por dois ativistas ucranianos que acusaram o professor do Centro de Estudos Russos de divulgar propaganda pró-Putin nas "várias disciplinas" que lecionava

O reitor da Universidade de Coimbra (UC) decidiu despedir o professor responsável pelo Centro de Estudos Russos, Vladimir Pliassov, na sequência de denúncias de propaganda pró-Putin.

A notícia foi avançada pela Renascença e confirmada pela CNN Portugal junto de fonte daquela universidade, que adiantou que o reitor, Amílcar Falcão, "optou pela cessação imediata do vínculo" com o respetivo professor.

“A gravidade da situação obriga-me a fazê-lo [despedimento]. (...) Assim que tomei conta do que se estava a passar dei indicações para a rescisão do contrato e, portanto, o contrato nesta hora deve estar rescindido”, anunciou o reitor, citado pela Renascença.

A decisão surge na sequência de denúncias expressas em artigos de opinião publicados no Jornal de Proença e no Observador, assinados por dois ativistas ucranianos e estudantes da Universidade de Coimbra, Olga Filipova e Viacheslav Medviedev, que qualificaram a instituição como "um espaço para transmitir a propaganda imperial russa e a cultura que criou a Rússia moderna."

Naquela universidade, de acordo com os ativistas, "a república fantoche da RPD é legitimada como uma unidade geográfica válida entre estudantes universitários e professores", além de ser "realçada a divisão da Ucrânia em partes separadas, o que está de acordo com os pontos de vista da propaganda russa moderna".

Os dois estudantes associam estes "fenómenos" ao facto de o diretor do Centro de Estudos Russos, Vladimir Ivanovitch Pliassov, ter assumido, em 2012, a Fundação Russkiy Mir, uma fundação criada pelo presidente russo, Vladimir Putin, sobre a qual recaem suspeitas de ser um veículo de propaganda e desinformação em Portugal.

Há precisamente um ano, a CNN Portugal deu conta de que tanto a UC como a Universidade do Minho tinham cortado relações com a respetiva fundação.

No atual ano letivo, o professor Vladimir Pliassov lecionava "várias disciplinas na universidade, incluindo Cultura Russa", destacam os ativistas nos respetivos artigos de opinião.

"O Dr. Pliassov não é licenciado em História, mas nas suas publicações refere-se ao antigo Estado eslavo de “Rus” com a sua capital em Kyiv como “Rússia Antiga” ou “Sudeste da Rússia”. Classifica como “língua russa antiga” a língua deste Estado que deu origem às três línguas eslavas orientais. Assim distorce fatos históricos, levando a que os estudantes, e outros leitores, fiquem com a ideia de que a Ucrânia como tal nunca existiu, foi sempre Rússia e terra russa, o que coincide com as opiniões dos “escritores russos” acima mencionados", escreveram os estudantes.

UC demarca-se de denúncias de propaganda pró-Putin

Entretanto, a UC emitiu um comunicado no qual se assume como "uma instituição profundamente comprometida com os valores europeus e totalmente solidária com a Ucrânia no contexto da agressão russa". Prova disso mesmo, escreve a instituição, foi o facto de ter promovido "iniciativas de recolha de donativos financeiros para apoiar deslocados e refugiados da guerra" e ter disponibilizado o Estádio Universitário e os seus recursos para "apoiar a sociedade civil no acolhimento dos que chegaram a Coimbra", além de ter reforçado "os laços de cooperação com a Universidade de Lviv, no âmbito da aliança europeia universitária que integra (EC2U)".

"Com a invasão russa da Ucrânia, a UC cessou o vínculo com a Fundação Russkyi Mir, que até dezembro de 2021 apoiava o ensino de língua e cultura russa no Centro de Estudos Russos da Faculdade de Letras", pode ler-se no esclarecimento da instituição.

Todavia, e "em respeito pelo povo e pela cultura da Rússia", a universidade decidiu manter o Centro de Estudos, "com recursos próprios da UC, para ensino exclusivo de língua e literatura russa".

"Ao verificar que as atividades letivas do referido Centro de Estudos Russos estariam a extravasar esse âmbito, a Reitoria determinou a cessação imediata do vínculo com o Professor Vladimir Pliassov", indica a instituição.

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