Universidades cortam ligações com a Fundação Russkiy Mir, criada por Putin

10 mai 2022, 07:00
Inauguração do Centro de Estudos Russos da Universidade de Coimbra

Esta entidade é chefiada por um oligarca russo, próximo de Putin, que tinha vários polos de influência em Portugal, nomeadamente em Braga, Coimbra e Lisboa. Universidade de Coimbra e do Minho decidiram afastar-se da fundação, "em função do contexto geopolítico atual"

A Universidade de Coimbra e a Universidade do Minho cortaram relações com a fundação de Putin que tem estado sob polémica por suspeitas de ser um veículo de propaganda e desinformação em Portugal.

As instituições, como revelou a CNN Portugal na sexta-feira, eram duas das entidades onde aquele organismo criado pelo presidente russo tinha conseguido estabelecer polos de influência no País. Ambas tinham centros de estudo que foram criados com apoio da Fundação Russkiy Mir, a mesma organização que tem colaborado com associações de imigrantes responsáveis por ajudar autarquias no acolhimento de refugiados vindos da guerra.

Agora, tanto a Universidade de Coimbra como a Universidade do Minho garantem ter acabado com os protocolos de colaboração com a Fundação Russkiy Mir, à qual estiveram ligadas durante cerca de 10 anos. À CNN Portugal, fontes oficiais das duas universidades justificam a decisão com o contexto que levou à invasão da Ucrânia por parte da Rússia. 

Em causa, está o Centro de Estudos Russos da Universidade de Coimbra e o Gabinete Mundo Russo na Universidade do Minho. Sobre o primeiro, documentação interna da Fundação Russkiy Mir revela como esta entidade de Moscovo ajudou a organizar conferências e viagens para aproximar os estudantes de Coimbra da Rússia, chegando a convidar uma voluntária para discursar na celebração do “Regimento Imortal” em Belgrado.

Já o Gabinete Mundo Russo, de acordo com a documentação consultada pela CNN Portugal, operava como um meio para oferecer "apoio e esclarecimento a cidadãos russos residentes no estrangeiro, bem como a cidadãos estrangeiros que demonstrem interesse na Rússia”. 

As suspeitas sobre a ação desta Fundação foram levantadas pela embaixadora da Ucrânia em Portugal, que numa entrevista exclusiva à CNN Portugal, alertou para o facto de existirem associações com ligações a esse organismo que estavam a participar no acolhimento de refugiados.

Por outro lado, o líder da Associação dos Ucranianos em Portugal enviou um documento para as secretas portuguesas a alertar para a teia de ligações entre várias associações que se movimentam de norte a sul e aquela Fundação Russkiy Mir criada por Putin. Fundação esta que o próprio Parlamento Europeu considerou ser uma ameaça, tendo aprovado em 2016 uma resolução para que os países tomasses medidas de combate a este tipo de estratégia russa.

Segundo fonte oficial da Universidade de Coimbra, a instituição decidiu “não renovar o protocolo anual com a Russkiy Mir em função do contexto geopolítico atual”. O apoio, acrescenta a mesma fonte tratava-se de uma “contribuição financeira anual para o funcionamento do Centro de Estudos Russos, com atividade académica centrada no ensino de língua, literatura e cultura russas”.

O último protocolo assinado com a instituição russa tinha data final de 31 de dezembro de 2021, e agora decidiu-se não o renovar. Colocando assim um ponto final a uma relação que já existia desde 2012, altura em que o próprio vice-presidente, Vasily Istratov, foi a Coimbra para inaugurar o Centro de Estudos Russos.

Também fonte oficial da reitoria da Universidade do Minho refere que a decisão de tirar a informação sobre o gabinete criado pela fundação de Putin em 2012 do site da escola de Letras, Artes e Ciências Humanas, onde está inserido, segue em linha com "a posição de condenação que a universidade tem vindo a adotar desde o início da invasão militar". 

A mesma fonte esclarece, porém, que “não existiu necessidade de cessar totalmente a colaboração”, como a Universidade de Coimbra fez, “porque este gabinete é meramente uma biblioteca integrada na escola”.

Para além disso, a Universidade do Minho sublinha que "há vários anos" que o gabinete da Russkiy Mir, que diz funcionar “numa lógica cultural”, "não desempenha qualquer atividade na Universidade".

Estas informações surgem depois de a CNN Portugal ter publicado um artigo sobre a expansão da Fundação Russkiy Mir em Portugal, que é chefiada por um oligarca russo que foi sancionado pelos EUA por apoiar a invasão militar da Ucrânia. Um alargamento feito através de associações que acolhem refugiados e de polos de influência não só nas academias de Coimbra e do Minho, mas também na Universidade de Lisboa. 

Nesta última, a fundação de Putin ajudou a criar e apoiou financeiramente o projeto DIALOG, responsável por fornecer manuais de língua russa, promover aulas abertas e dar palestras. A CNN Portugal tentou contactar a reitoria da Universidade de Lisboa, tal como o Centro de Línguas e Culturas Eslavas, onde este projeto se insere, para perceber se ainda mantém ligações à entidade de Moscovo, mas não obteve resposta.

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