Ceferín e a traição «chocante» do pai da afilhada nos bastidores da Superliga

16 mar 2023, 13:29
Ceferin e Agnelli - Alessandra Tarantino/API

Relação de amizade de anos com Agnelli não impediu que o antigo presidente da Juventus lhe tivesse mentido

Aleksander Ceferín admitiu em entrevista ao programa The Overlap, de Gary Neville, que o momento mais duro que passou desde que é presidente da UEFA foi o que resultou no anúncio da criação da Superliga europeia.

O presidente da UEFA teve de lidar com uma ameaça que podia ter matado o futebol europeu como o conhecemos há décadas, ainda para mais porque surgiu da união – mais ou menos consentida – de alguns dos maiores clubes da Europa.

Ceferín diz que até começou por desvalorizar a ideia quando reuniu com alguns dos responsáveis que idealizaram o projeto, com quem se reuniu, apesar de ter sido desaconselhado a fazê-lo.

«Convidei elementos da Associação Europeia de Clubes (ECA), adeptos e elementos da FIFA. E eles [responsáveis da Superliga] não sabiam. O presidente dos adeptos da Premier League disse-lhes: “vocês têm menos apoios do que Reino Unido teve primeiros-ministros nos últimos meses”. Todos estavam contra eles, mas continuam a dizer que a UEFA não permitiu», começou por revelar.

Mas uma das coisas que mais lhe custaram no meio do processo foi a «traição» de um amigo de longa data: Andrea Agnelli.

Esse mesmo, o então presidente da Juventus, com quem Ceferín tinha uma relação de grande proximidade, ao ponto de ser padrinho da filha do italiano.

«Dois dias antes do anúncio, Agnelli garantiu-me que era mentira. Depois começaram a sair mais informações, liguei, ele não me atendeu. Então liguei à mulher dele que lhe passou o telefone. Voltou a negar. Até combinámos escrever um comunicado conjunto a negar tudo… mas depois deixou de me atender e eu percebi tudo», conta.

«É difícil de acreditar. Mas ele depois até comentou com um amigo meu que “negócios são negócios, moralidade é moralidade”. Foi chocante para mim, mas agora as coisas estão resolvidas», acrescentou.

Ceferín deu ainda mais detalhes e de como os clubes ingleses se mostraram muito hesitantes em entrar no projeto… mas acabaram por entrar mesmo.

«Recebi um telefonema de um presidente de clube inglês que prefiro não dizer qual, a dizer que tinha de entrar no projeto. “Não gostamos dele, mas se não entrarmos, somos os únicos a ficar de fora”. Na verdade, havia dois clubes ingleses muito hesitantes que até nos disseram que queriam continuar nossos amigos e ser os nossos amigos lá dentro», lembrou, confirmando depois tratar-se do Chelsea e do Manchester City.

«Depois perdi um pouco a razão e disse-lhes para irem para o inferno. Que a partir daquele momento eram meus inimigos. Foi duro», admite

O esloveno que cumpre o segundo mandato como presidente da UEFA assume ainda que não foi totalmente objetivo na altura, fruto da pressão que sentia.

«Não pensei de forma muito objetiva. Fui emocional. Também pela questão da minha suposta amizade com Agnelli. Parece que estava ali no meio. Não consegui dormir, comer ou beber durante 48 horas», revela ainda.

Ainda assim, Ceferín acredita que a competição não tem qualquer tipo de sustentação, até porque os clubes ingleses acabaram por recuar e os alemães nunca quiseram fazer parte.

«Nenhum clube alemão aderiu. Os adeptos sairiam à rua, como fizeram em Inglaterra. Digo aos três clubes que insistem na ideia [Real Madrid, Barcelona e Juventus]: “joguem a Superliga, são três, joguem entre vocês”».

«Ainda não percebi o que eles querem, acho que ninguém sabe, mas não estão a atacar a UEFA. Estão a atacar o futebol. Querem atacar o sistema e a pirâmide do futebol que está aqui há décadas. Eles têm o direito de atacar e nós o de os ignorar», nota.

Depois de um processo tão árduo, Ceferín anuncia mesmo que ambição que tem para o futuro próximo no cargo passa por reforçar a força do futebol popular contra aqueles que o querem «matar».

«Temos de manter o futebol afastado destes tubarões que andam sempre a rondar para destruir o sistema do futebol.  Os que amam o futebol têm de manter-se juntos. Aqueles que sabem que o futebol tem de vir primeiro do que o negócio», finalizou.

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