Ahmet conseguiu voltar a abraçar a filha. Can ainda desespera à procura da mãe. Há histórias e famílias ainda presas nos escombros na Turquia

CNN Portugal , DCT
18 fev 2023, 18:30

Dois sobreviventes do sismo que abalou a Turquia e a Síria contam as suas histórias de perda, do abalo que os separou para sempre da sua própria família. Mas também de esperança: até chegar a certeza de que não há mais vida, há sempre uma luz que faz acreditar que há vida no meio do caos.

Ahmet Ayyan está novamente com a sua filha Gada, de quatro anos. Um reencontro que para sempre ficará na memória, tamanho o desespero e a alegria do momento. Mas Ahmet esteve quase para desistir. Após o sismo, de nada valia continuar a respirar o pó que circulava entre os escombros quando à sua volta apenas ouvia silêncio: a sua mulher e o seu filho de sete anos já não respiravam, sucumbiram ao abalo, à destruição. Ahmet manteve-se firme. Em cima de uma das suas pernas estava Gada, de quatro anos. 

Ela manteve-me viva”, garante.

A sua filha conseguiu resistir ilesa ao sismo, apenas um arranhão e a ingenuidade típica da idade. “Não chores. Relaxa”, disse-lhe vezes sem conta. E foi isso o que o manteve desperto, capaz de acreditar que a ajuda chegaria um dia, apesar de ter consciência de que metade da sua família já não estaria mais presente.

“Quanto [a terra] começou a tremer, agarrei a minha filha e a minha família saiu a correr”, conta à CNN Internacional Ahmet Ayyan, já quase recuperado fisicamente - ficou apenas um pé lesionado. Mas “o prédio desabou em cima de todos nós”. E apenas restou esperar, com escombros a tapar todo o corpo, pedaços de cimento que lhe iam até ao pescoço e que o impediam de se movimentar, de tentar sequer chegar à sua mulher e ao seu filho. E foram quatro dias debaixo dos escombros.

“A minha filha dizia-me repetidamente para eu não chorar. Para relaxar. Eles estão a vir para nos salvar”, conta Ahmet, recordando os dias que esteve no caos. 

A ajuda acabou por chegar e Gada foi a primeira a ser resgatada e levada para o hospital. Mas num ápice Ahmet Ayyan voltou a perder o controlo da situação. Enquanto esteve internado, a sua filha foi colocada aos cuidados do serviço social e assim rapidamente lhe perdeu o rasto.

Ahmet recorreu ao Facebook e ao Instagram para conseguir localizar a sua filha. Partilhou imagens da criança nas redes sociais. Não desistiu até a conseguir abraçar novamente, um abraço que foi filmado e que marcará o começo de uma nova vida, de uma família desfeita, mas sobrevivente. “Ela é a minha heroína”, diz.

“Tudo o que peço é que me ajude a encontrar a minha mãe”

Ahmet conseguiu voltar a ter nos braços Gada. E é isso que Can Gürsoy, de 14 anos, também espera conseguir. O jovem de 14 anos, residente em Konya, está desesperadamente à procura da sua mãe, ainda debaixo dos escombros da casa onde habitava com ela e com a irmã, já resgatada com vida 24 horas após o sismo.

Can Gürsoy ficou ferido num olho e num pé. Ainda debaixo dos escombros, tentou comunicar com o exterior, enviou uma mensagem para um grupo da família no WhatsApp e ligou para o serviço de emergência. Mas sem sucesso. E a dor aumentava: tinha um bloco de cimento em cima de uma perna, imobilizando-a.

Foi ao puxar uma cortina que conseguiu chamar a atenção dos que do lado de forma procuravam salvar vidas: e em poucas horas, Can  e a irmã saíram dos escombros -  momento captado em direto pela CNN Turquia. Mas a mãe, que estava com eles aquando do sismo, não. Pelo menos, que saiba.

“Tudo o que peço é que me ajude a encontrar a minha mãe, Şükran Erden”, apela, na esperança que já tenha sido retirada dos escombros e que esteja num hospital a receber tratamento.

Para já, continua à espera de uma resposta, de um sinal.

Treze dias depois do sismo que abalou parte da Turquia e da Síria, foram já contabilizadas mais de 50 mil mortes, a maioria em território turco.

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