Têxtil português fabrica cuecas, tops e abafos para militares da Ucrânia. Quem são os fornecedores?

ECO - Parceiro CNN Portugal , Fátima Castro
16 dez 2023, 18:22
Militares ucranianas (AP)

Conheça a PPTex de Santo Tirso e a Madrilage de Guimarães, escolhidas para produzir as cuecas, tops e abafos que vão ser entregues às militares ucranianas. Os três contratos ascendem a 162 mil euros.

As têxteis PPTex e Madrilage foram escolhidas pelo Ministério da Defesa para fornecer cinco mil tops, cuecas e abafos para o pescoço destinados às militares da Ucrânia. Os três contratos para a confeção da roupa interior feminina têm um valor total de 162,4 mil euros. Conheça as duas empresas nortenhas e os pormenores dos contratos.

Instalada em Burgães, no concelho de Santo Tirso, a PPTex vai fornecer cinco mil tops camuflados no valor de 91.635 euros, com IVA incluído. Cada top — nas cores coiote, verde-azeitona e preto — tem o valor unitário de 14,90 euros e os tamanhos variam do XS ao XL, lê-se no contrato publicado no Portal Base. Entretanto, fechou outro contrato no valor de 33.825 mil euros, com IVA incluído, na área do fardamento, que prevê a entrega de cinco mil “abafos para o pescoço” com o valor unitário de 5,5 euros.

“Todos os dias concorremos a concursos públicos. Fazemos roupa para as forças armadas, polícia, bombeiros, trabalhadores das câmaras, entre outros. Neste caso, já estamos a produzir os tops e o cliente final é o Exército português, que encaminhará a produção para as militares da Ucrânia”, explica Lourenço Aroso, diretor de operações da PPTex, em declarações ao ECO.

"Cada país contribuí com aquilo que é forte – e Portugal tem uma indústria têxtil forte", diz Lourenço Aroso, diretor de operações da PPTtex.

Já a vimaranense Madrilage foi escolhida pela tutela liderada por Helena Carreiras para o fornecimento de um lote de cinco mil cuecas para as militares na Ucrânia. O contrato tem um valor de 36.900 euros com IVA incluído, sendo que cada cueca tem o preço unitário de seis euros, de acordo com o contrato publicado no portal Base. As cuecas devem ter o padrão camuflado do exército e contemplar as cores “coiote, verde azeitona e preto”, de acordo com a cláusulas técnicas do contrato.

Depois da assinatura do contrato, às duas empresas do setor têxtil foi dado um prazo de 25 dias para entregarem as encomendas nas instalações da Unidade de Apoio Geral de Material do Exército (UAGME), em Samora Correia. O diretor de operações da PPTex assegura ao ECO que a encomenda estará pronta entre o final deste ano e início do próximo.

Fundada em 2017 por Pedro Braga, formado em Gestão na Universidade Católica, a PPTex tem como principal cliente o Estado português, que absorve 95% da produção. A empresa, que subcontrata a produção têxtil, emprega 15 pessoas a faturou 3,5 milhões de euros no ano passado. A têxtil prevê fechar 2023 com um volume de negócios de 4,5 milhões de euros.

Em 2020, como consequência da pandemia de Covid-19, a PPTex foi uma das empresas nacionais que reconverterem a produção para os artigos de proteção na área da saúde, nomeadamente máscaras, através da marca Protect Others — um negócio que ainda hoje dá frutos no segmento dos dispositivos médicos.

No ano passado, a firma tirsense ganhou um concurso público no valor de 50.605 euros sem IVA e adjudicado pelo Laboratório Nacional do Medicamento, para a “aquisição de bolsas táticas de primeiros socorros” destinadas igualmente à Ucrânia. “Foi o Laboratório que doou os kits à Ucrânia”, recorda o diretor de operações da PPTex, que é formado em Gestão de Empresas na Católica do Porto.

Só no mês passado, de acordo com os dados consultados pelo ECO, a PPTex ganhou outros três concursos públicos: para fornecer “materiais para kits de emergência para apoio a ações no âmbito dos programas “Aldeia segura” e “Pessoas seguras”, no âmbito do PRR, adjudicado pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (174.750 euros); sacos de urina para o Hospital da Senhora da Oliveira, de Guimarães (9.240 euros); e “vinte mil cantis” para o município de Loulé (36.170 euros). No total, soma 125 contratos adjudicados desde 2020, segundo o Portal Base. Este mês, já ganhou mais um lote de um concurso público no valor de 840 euros para a “aquisição de campos e trouxas para bloco operatório” do Hospital Distrital da Figueira da Foz.

Por outro lado, a Madrilage foi fundada há dez anos por Raul Salgado de Freitas. No ano passado faturou meio milhão de euros, com um EBITDA de 47 mil euros. O mercado nacional absorve 69% da produção, de acordo com a informação disponibilizada pela plataforma Informa D&B. O ECO tentou o contacto com a empresa, sem sucesso até à publicação do artigo.

Desde 2014 acumula mais de 90 contratos celebrados com o Estado português. Só nos últimos dias, já este mês, somou mais dois contratos através de concursos públicos, ambos para a Marinha. Para o fornecimento de protetores solares, repelentes e bolsas, no valor de 5.640 euros; e para a entrega de “material de hotelaria” no montante exato de 4.568,30 euros.

Este ano, a empresa minhota já ganhou um total de 16 contratos públicos no valor de 292 mil euros, o que compara com os 11 contratos no valor de 484 mil euros que tinha fechado no ano passado, de acordo com as listagens oficiais.

Apoio humanitário, militar e financeiro à Ucrânia

Na sequência da invasão da Ucrânia por parte da Rússia, o Estado português avançou com vários pacotes de auxílio direto de índole humanitária, militar e financeira. Em maio do ano passado, o primeiro-ministro português fez uma visita a Kiev, capital ucraniana, onde assinou um acordo para a concessão de apoio financeiro de 250 milhões euros.

Um ano depois, reiterou o apoio militar, político, diplomático e humanitário à Ucrânia, numa reunião com o Presidente Volodymyr Zelensky, em Bulboaca, na Moldova, onde ambos participaram na cimeira da Comunidade Política Europeia. Portugal disponibilizou então um novo pacote de apoio para a Ucrânia, com 14 viaturas blindadas de transporte pessoal e nove obuses, num “momento crítico e importante” de contraofensiva ucraniana.

Depois do apoio militar e financeiro, o Estado português decidiu doar estes artigos têxteis para as militares da Ucrânia. Para a PPtex, resume ao ECO o porta-voz da empresa de Santo Tirso, “cada país contribuí com aquilo que é forte – e Portugal tem uma indústria têxtil forte”.

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