Atentado travado na Universidade de Lisboa: como se apanha um potencial terrorista através da internet?

10 fev 2022, 19:42
Ataque informático (Getty Image)

A atuação do FBI foi fundamental para evitar o ataque terrorista planeado para a Universidade de Lisboa

A Polícia Judiciária travou no limite um ataque terrorista em Lisboa que iria ser alegadamente cometido esta sexta-feira na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O suspeito é um jovem estudante de engenharia, de 18 anos, que planeou matar vários colegas, sabe a CNN Portugal, informação que foi confirmada em comunicado pela Polícia Judiciária.

O ataque a pessoas indiscriminadas estava planeado ao pormenor pelo jovem português, por escrito, e visava cometer o maior número possível de homicídios sobre colegas universitários. O alerta chegou à PJ na última semana, sabe a CNN Portugal, através do FBI. 

Mas como é que as autoridades conseguem detetar este tipo de planos? Neste caso, as autoridades norte-americanas, na monitorização que fazem da Internet em geral, das redes sociais e da darkweb como prevenção do fenómeno do terrorismo, detetaram conversas em chats nas quais intervinha o jovem português – onde este anunciava a intenção que tinha de cometer um atentado em Portugal.

Hugo Costeira, vice-presidente do Observatório de Segurança Interna explica à CNN Portugal que o trabalho na darkweb é feito através de uma disciplina que é o Network Intelligent Analysis - que no fundo é uma análise profunda das redes sociais. São utilizados softwares que, muitas vezes, têm tecnologias de Inteligência Artificial e aprendizagem profunda e, portanto, são tecnologias altamente desenvolvidas para fazer pesquisas quer na internet normal - como Facebook, Twitter, etc - até às darkwebs, onde por norma existe este tipo de comportamento criminal.

"É muito bom que o FBI faça esse trabalho porque é extremamente complicado e moroso. É um trabalho que é muito utilizado no contraterrorismo e, claramente aqui é um sucesso", frisa Hugo Costeira, que acrescenta: "Através das congéneres do FBI e do Serviço de Informações de Segurança e da própria Polícia Judiciária chegamos a esta conclusão: há um atentado que foi evitado".

O especialista frisa ainda que importa perceber que "este é um atentado que, sendo evitado, transformaria Portugal neste pós-covid no primeiro país a ter efetivamente um atentado terrorista em solo nacional". "Felizmente não vai acontecer e devemos isso à cooperação internacional e à excelente reputação que as nossas autoridades gozam no panorama internacional", reitera.

O comportamento do jovem português não passou despercebido ao FBI

O jovem de 18 anos falaria em determinados "chats". Como é que ficou na mira das autoridades? Segundo Hugo Costeira, neste caso podemos equacionar vários cenários: há plataformas que são de fácil acesso, mas que o utilizador comum não sabe navegar. Também há plataformas até para utilização nos nossos telefones que são encriptadas e, como tal, só dentro de determinado meio - e quem frequenta determinado meio - é que consegue aceder a essas plataformas. "E aí chats, troca de ficheiros - o manancial à disposição é imenso", frisa.

"Temos que perceber que nos Estados Unidos - e sendo isto uma ação inicial do FBI em termos de aquisição da informação - nesse país funciona-se muito com os agentes encobertos e com os agentes provocadores. É bem provável que o próprio FBI em muitos destes sites tenha alguma forma muito mais capaz de angariar informação porque nós em Portugal, em pleno século XXI, de vez em quando ainda duvidamos se os nossos SIS podem aceder ou não a metadados", realça o vice-presidente do Observatório de Segurança Interna

"Andamos a perder tempo com esses pormenores e nestes países realmente vê-se que este trabalho de intelligence (aceder e conseguir encontrar a informação em tempo real e útil - que foi o caso - é útil".

Questionado se o jovem estaria associado a alguma facção, Hugo Costeira diz que "neste momento só podemos especular", mas lembra que ,"muitas das vezes nestes chats é onde eles conseguem coragem, são incitados e onde conseguem ganhar notoriedade".

"Isto até podia não ser nada a não ser uma simples ideia de alguém que realmente entre nestes sites. Agora compete à PJ - com exclusividade de investigação dos crimes de terrorismo em Portugal - fazer a investigação", conclui.

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