Este espetáculo teve de ser reescrito devido à crise política. É caso para dizer “Bravo!”

16 dez 2023, 18:00
Bravo 2023!

“Bravo 2023!”, dos Teatro Praga, está em cena no São Luiz Teatro Municipal em Lisboa. Em cena até 22 de dezembro, recorda os principais marcos deste ano que surpreendeu tudo e todos

Basta olhar para o nome “revista” para perceber uma das facetas deste género teatral: fazer a revisão daquilo que de mais relevante aconteceu em determinado período. Neste caso, 2023.

Os elementos do Teatro Praga começaram a compilar, num documento partilhado, os acontecimentos fundamentais deste ano. Depois do verão, fizeram a primeira análise. E perceberam que, enquanto uns se tornaram menores, outros exponenciaram.

O que não imaginavam é que, já numa etapa tão avançada do trabalho, a poucas semanas de subirem ao palco do São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, com “Bravo 2023!”, teriam de reescrever uma parte do espetáculo para refletir um acontecimento incontornável: a crise política em Portugal.

“Não podia ter sido um ano mais intenso, até pelas contingências políticas do país. Quando tínhamos o texto fechado, tivemos de fazer alterações. Provavelmente este ano vai ficar na história, como aquele em que cai um governo de maioria absoluta em Portugal. Não podíamos deixar estes acontecimentos de fora”, conta Claúdia Jardim, um dos elementos deste coletivo.

(Estelle Valente)

É a prova de que a própria revista, tal como o mundo, “está em constante alteração”. Nesta entram também a guerra na Ucrânia ou o conflito Israel-Hamas. “São eventos trágicos e ainda é difícil fazer humor com estas realidades. São citados, não em rábulas cómicas”, confessa Cláudia Jardim.

Mas, em muitos outros temas, há material com fartura para gargalhar, ao bom estilo da revista. Nesta, em particular, misturam-se elementos que à partida viveriam em mundos diferentes. Como Tchekhov ou Rosinha. “Tão depressa nos conseguimos socorrer de um soneto de Shakespeare como de uma música do Quim Barreiros”. Não há alta nem baixa cultura. Há cultura. Mesmo que a revista tenha assistido a muitas tentativas de enfiá-la no segundo território.

“Temos muita tendência de trabalhar com aquilo que as pessoas acham que não tem valor. Não gostámos dessas catalogações. Não há nenhuma intenção de reabilitar a revista porque ela sobrevive em Portugal, não só no Parque Mayer como no Politeama ou em produções próprias de artistas empresários. O que nos interessa é poder usar esse mecanismo para poder defender ideias, porque é uma estrutura teatral tão rica como qualquer outra. Qualquer ator que não experimentou, devia fazê-lo. É preconceito”, resume.

(Estelle Valente)

“Bravo 2023!” é um regresso dos Teatro Praga ao género, depois do sucesso de “Tropa Fandanga” em 2014. “Ficámos com vontade de voltar ao género, mas achámos que devíamos deixar passar um tempo”. Nessa altura, socorreram-se da experiência de José Raposo. Desta vez, é Marina Mota quem se junta em palco.

“A Marina é uma atriz imensa, é um prazer absoluto vê-la trabalhar. É de uma generosidade muito acima da média. E uma atriz que sabe de revista como poucos em Portugal. É incrível vê-la a resolver coisas. Portugal tem uma atriz do calibre da Marina Mota, que nunca tinha pisado o palco de um teatro municipal ou nacional”, descreve Cláudia Jardim, para vincar o preconceito de que o género (e os atores que o cultivam) é alvo.

Revista do ano, sim. E com um cheirinho de 2024? “Revemos 2023 com muito medo que virá aí”. Há uma frase do texto que resume o sentimento deste coletivo. “Para onde se cai depois de se ter caído para o fundo mais fundo?”. Logo veremos todos.

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