Ideia de pôr TAP a investir no Brasil foi de Fernando Pinto. Estado estava a par de tudo, garante Lacerda Machado

11 mai 2023, 19:17
O ex-administrador não-executivo da TAP, Diogo Lacerda Machado, durante a sua audição na Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP na Assembleia da República (Lusa/ José Sena Goulão)

Tem sido considerado um dos negócios mais ruinosos da TAP. Mas Lacerda Machado continua a defender a importância desta operação

Diogo Lacerda Machado, ex-administrador da TAP, confirmou que a ida de comprar o negócio da manutenção no Brasil “partiu de Fernando Pinto”, antigo presidente-executivo da empresa. Contudo, assegurou, o Estado esteve sempre a par do negócio.

“O Estado português acompanhou desde início esse negócio, sendo sempre informado e dando a sua condescendência por essa via, tal como o governo brasileiro, que mobilizou o Banco de Desenvolvimento do Brasil”, explicou na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP.

Mais tarde, quando confrontado pelo comunista Bruno Dias, havia de confirmar que o acordo para comprar a VEM foi feito sem uma análise profunda. “Havia uma informação sumária do que lá estava e depois confirmada na due dilligence”, disse. E reconheceu que havia coisas que não estavam na “contabilidade” da VEM, que só foram conhecidas depois.

Lacerda Machado confirmou que o custo total do negócio foi de 61 milhões de dólares para comprar duas empresas do grupo Varig, uma ligada à manutenção e outra à logística. À altura, dada as limitações da TAP para se financiar, o investimento foi feito com o parceiro Geocapital e com o apoio do Banco de Desenvolvimento. “Foi a TAP que acabou por pagar os 61 milhões”, reconheceu.

Lacerda Machado, que foi advogado e administrador da Geocapital, citou conversas com Fernando Pinto em 2005, que terá sido abordado pelo governo brasileiro para encontrar uma solução “que salvasse” a Varig.

O gestor lembrou que, na altura, a administração da TAP era composta por quatro brasileiros, “que tinham estado, alguns deles, 30 anos na Varig”.

“Era uma oportunidade extraordinária de juntar duas companhias em estado de fragilidade para que o resultado da soma fosse imensamente maior, tornando a possibilidade de ser tornarem agentes ativos no processo de consolidação na área da aviação comercial”, justificou.

Há dois dias, numa outra audição no Parlamento, Lacerda Machado não hesitou mesmo em classificar este negócio como “o melhor investimento” da TAP nos últimos 50 anos. Porque, com essa entrada no Brasil, a TAP conseguiu depois desenvolver a sua operação naquele país, justificou.

Lacerda Machado disse agora que a TAP teve uma mais-valia de sete milhões após ter alienado o negócio aéreo da Varig.

“A Geocapital não ganhou um cêntimo com esta operação. A única beneficiada com mais-valias foi a própria TAP”, acrescentou.

Em 207, a Geocapital vendeu a sua participação à TAP. Mariana Mortágua quis saber porquê. “A propósito de, infelizmente para todos, não ter sido possível salvar a Varig, desapareceu a motivação e o propósito. Desfez-se a operação, como aliás estava acordado desde o primeiro dia”, respondeu.

O negócio da manutenção no Brasil tem sido apontado como uma das maiores dores de cabeça às contas da TAP, com perdas na ordem dos mil milhões de euros.

Contudo, Lacerda Machado argumentou que a “soma do total do investimento, porque não lhe chamo custo, pelas minhas contas foi de 600 milhões”, contrapondo com as receitas entre 10 e 12 mil milhões de euros com a operação da TAP no Brasil.

O gestor insistiu que foi a pandemia que levou ao fecho da manutenção no Brasil, porque “deixou de haver clientes para ir à oficina”. “Ainda bem que foi a Comissão Europeia que mandou fechar”, desabafou.

Minutos antes, admitia que “o problema com a VEM eram os 4500 empregados, manifestamente excessivo”.

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