Vivi esta final numa bancada bem composta por adeptos portugueses, em minoria no estádio Eden, bem perto da ação, mas longe da baliza onde se desenrolou a decisão por grandes penalidades. Num estádio com 21 mil lugares, quase esgotados por 18.800 espectadores, não foi apoio que faltou à seleção portuguesa, apesar da ruidosa mancha amarela dos adeptos suecos.
Indo directo ao assunto, vi uma equipa portuguesa igual a si própria: os portugueses mereceram a vitória, assumindo desde o primeiro minuto a despesa do jogo, perante uma Suécia que jogou com as armas que tinha. A pressão de uma final não pesou: continuámos a ser equipa madura, adulta e paciente dos outros jogos neste Europeu. E a paciência era ingrediente essencial para este jogo, pela forma como a Suécia voltou a organizar-se.
Tivemos algumas oportunidades, o que não era fácil de conseguir perante uma defesa muito cerrada, obrigando-nos a jogar em espaços muito reduzidos. Faltou-nos talvez, num ou noutro momento, um rasgo capaz de fazer a diferença. E face ao elevado número de remates que não saíram enquadrados com a baliza, não tivemos a precisão que poderia ter resolvido as coisas enquanto ainda havia forças. A identidade voltou a ser vincada: criámos, circulámos a bola, continuámos a fazer o que devia ser feito, não caindo na tentação do jogo direto. Por aí não há muito a dizer. Não creio que Portugal tenha estado, nesta final, a um nível inferior aos outros jogos.
Na bancada, perto do terreno, foi terrível constatar o desgaste tremendo das duas equipas, nos últimos minutos do tempo regulamentar e durante o prolongamento. A consequência natural de uma prova desgastante. Talvez os suecos possam ter chegado melhor a essa fase, mas isso acabou por não ser muito evidente. O facto é que Portugal assumiu sozinho o jogo, durante 80 minutos, e isso provoca desgaste acrescido. Os suecos mantiveram-se sempre confortáveis, jogando baixo e com muitos jogadores atrás da linha da bola.
Repito uma ideia importante: à exceção da primeira parte com a Itália, Portugal assumiu sempre o jogo neste Europeu, com um espírito coletivo fantástico. Nesta final, o exemplo maior foi João Mário
Rui Jorge mexeu e Tozé agitou o jogo, entrou bem e rematou muito, continuando a empurrar a Suécia para a sua defesa. Quanto às grandes penalidades, há pouco a dizer por parte de quem está de fora: a escolha dos jogadores nesses momentos depende da avaliação que é feita no terreno, do contacto diário com eles, do estado em que se apresentam e da resposta que dão sob uma situação de grande pressão. Não tenho dúvidas de que foram chamados a marcar aqueles que mostraram confiança e estavam mais preparados para o fazer.
No momento em que organizo estas ideias, os portugueses sobem ao palanque de honra para receber as medalhas de finalista. Não são as medalhas merecidas para a que foi a melhor equipa no terreno e foi capaz de lutar até ao fim. Os fortes aplausos que escutam de todo o público – não apenas do português – são um evidente sinal de respeito pelo que foi feito neste Europeu.
Escrevi ontem, neste mesmo espaço: «Espero que toda a atenção sobre estes jovens tenha impacto na aposta dos clubes no jogador português»